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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Jan.-Fev. 1998, n.º 13, págs. 8 e 9

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 9


Depois de 19 anos de interregno...

       ...atletismo volta à cidade de Aveiro

 

Vimos no número anterior que a agremiação sedeada em Pedorido, junto das minas do Pejão, continuava a dar cartas nas corridas de estrada disputadas no norte do país, relegando para segundo plano clubes com antecedentes na modalidade, como o F. C. Porto e o Académico, entre outros. E apesar de não possuir pista adequada, ainda aqui faziam excelentes resultados, em disciplinas técnicas onde a existência de equipamento é importante. Detinham mesmo vários recordes do norte em difíceis especialidades, como por exemplo o dardo, a vara ou o comprimento. Sem dúvida um bom trabalho, a merecer os devidos encómios, se estava a realizar nas “faldas da serra”.

Mas a falta de estruturas teria que sobressair e é assim que os brilhantes atletas do Pejão começam a enfraquecer na pista. Já se notou isso na época de 53/54. Na época seguinte, a ausência das pistas começa a ser mais notada e raras são as ocasiões para efectuar bons resultados. E assim o Pejão já não “aparece” nos regionais de aspirantes e principiantes, os dois escalões etários mais jovens existentes na altura. Nos regionais de juniores, a colectividade conseguiria apenas 11 pontos (mas como os clubes a praticar atletismo ainda não eram muitos, ainda foi terceiro colectivamente), com apenas um resultado interessante, o de José Abílio Correia no dardo com 41,26 m., que lhe daria o 2º lugar, não constando mais nenhum lugar até ao terceiro individual nas restantes provas. Nos regionais de seniores voltaram a não comparecer. E assim acabou a época de pista...

O final do ano de 1955 traria no entanto uma boa notícia. O atletismo, ao fim de 19 anos de interregno, voltava à cidade de Aveiro. O Comércio e Indústria Clube de Aveiro, o CICA como passou a ser mais conhecido, uma agremiação fundada pouco antes, abalançava-se na modalidade. E assim aparece no Grande Prémio do Natal, que continuava a ser organizado pela Associação Portuense de Atletismo, na prova de não filiados, tendo obtido o 9º lugar com 165 pontos, correspondentes às 11ª, 18ª, 42ª, 45ª e 49ª posições. Não era o que se pudesse chamar um resultado famoso, mas dado tratar-se de um começo... e o que interessava era “mexer” com a modalidade. Neste mesmo Grande Prémio, a colectividade de Ovar, o Grupo Desportivo “Os Onze Verdes”, já referido em números anteriores como pedestrianistas com algumas tradições, firmou-se em 3º lugar, com 91 pontos. Em filiados, o Pejão ainda compareceu, tendo alcançado apenas a 4ª posição, com o melhor individual em 8º lugar.

A propósito deste regresso à modalidade na cidade de Aveiro, dizia o Litoral de 21 de Janeiro de 1956: “Pena é que não exista ainda uma pista de cinza na cidade, apesar de na cidade existir um recinto a que pomposamente se dá o nome de estádio... Mas enquanto Aveiro não ostentar esse anel, essa jóia em seu seio, as provas de “cross” ou de estrada propagandearão sem dúvida o atletismo. E não esqueçamos, entretanto, que os aveirenses denotam invulgares aptidões físicas para a modalidade.”

O CICA não esteve com meias medidas e organizou de imediato uma prova de estrada na cidade que denominou de I Légua de Aveiro. A prova teve um êxito relativo para a época, pois contou com 24 concorrentes, dos quais se classificaram apenas 18. O primeiro foi Manuel Fernandes, do Operário Marinhense, o 2º Valdemar Monteiro, do Vianense, e o 3º outro atleta do Operário Marinhense, que ganharia por equipas. O melhor aveirense foi Francisco Fernandes, do CICA, à frente de dois atletas de outra colectividade de Aveiro que igualmente aderiu na altura, o Grupo Desportivo da Casa do Povo de Esgueira. Foram eles João Brazete (que viria a conseguir depois uma certa notoriedade) e Carlos Cunha, respectivamente em 6º e 7º. Por equipas, CICA e Casa do Povo de Esgueira seriam segundo e terceiros.

Entretanto, em Fevereiro desse mesmo ano de 1956, noticiava-se que outra colectividade da cidade, mais propriamente o Clube dos Galitos, se iria também dedicar ao atletismo. A notícia dizia mesmo que os treinos se iniciariam no dia 19 desse mês. Aconteceria mais tarde. A primeira intervenção deste clube, e virada mais para provas de pista, seria na eliminatória do Torneio “O Primeiro Passo”, que o Sporting Clube de Portugal organizava no sentido de angariar adeptos e consequentemente praticantes para a modalidade. Deste início na pista, daremos pormenores no próximo número.

Entretanto continuava o Pejão, agora com menos frequência, a participar em provas de estrada. Joaquim Vieira era agora a estrela, pois classificar-se-ia em 2º lugar no corta-mato de abertura e no campeonato de principiantes de corta-mato, atrás do portuense Armando Leite, um atleta de alguma craveira. No torneio regional de equipas, em seniores, Joaquim Vieira seria terceiro e a estrela de épocas anteriores, Maurício Tavares, seria apenas 5º. Dizia a imprensa que “de louvar a presença do Pejão, mesmo sem constituir equipa”. Para além destes, apenas de salientar o 4º lugar do principiante Jorge Lino, no respectivo campeonato de corta-mato e o 4º lugar do júnior Augusto Silva, no torneio regional de equipas. A má forma de Maurício Tavares viria a confirmar-se no campeonato regional de seniores de corta-mato, onde foi apenas 14º, atrás dos seus colegas Joaquim Vieira em 6º e José Rodrigues em 11º. Colectivamente (68 pontos) ficou distante do vencedor, o Porto com 32 pontos.

Um mês depois recuperou e seria o vencedor da Légua Pedestre da APA no dia 11 de Março e da Légua de Viana do Castelo no dia 31 do mesmo mês. A crise tinha sido momentânea, pelos vistos...
 


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