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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Nov.-Dez. 1995, n.º 6, págs. 10 e 11.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 4


A Década de 1950

Os anos 50 podem ser divididos em duas partes. A primeira até 1955, onde o atletismo do distrito teve apenas um representante, que foi dominador a nível nortenho em provas de meio fundo, mais precisamente da zona de Pedorido, onde se situavam as minas do Pejão. Tratava-se do Pejão Atlético Clube, que desenvolveu um trabalho notável na modalidade durante meia dúzia de anos. A segunda parte, com início em 1955, o atletismo voltou à cidade de Aveiro, após um interregno de cerca de 19 anos (?!), com o reaparecimento da modalidade, primeiro no Clube dos Galitos e logo de seguida em mais algumas colectividades da cidade.

Analisemos a prestação do Pejão Atlético Clube nos primeiros anos da década de 50. A primeira aparição em provas levadas a efeito por organismos oficiais, mais precisamente pela Associação de Atletismo do Porto, data de 27 de Dezembro de 1950 na disputa do II Grande Prémio de Natal, na cidade do Porto. Participaram na prova de “não filiados”, com a designação de “Pupilos de Pejão Atlético Clube” e ficaram em 7º lugar colectivo, com o melhor classificado individual a ser António Ferreira, em 13º lugar.

Depois já em Setembro de 1951, organizaram um torneio de provas de pista, com provas de 83 m. barreiras, 1.000 m., 3.000 m., salto em altura, salto em comprimento, salto à vara, triplo-salto, lançamento do dardo e lançamento do peso. Os resultados foram bastante animadores, que deixavam acalentadoras esperanças com vista a futura representação em provas oficiais.



Maurício Tavares, do Pejão A. C., cortando a meta em vencedor na categoria de juniores.

Para a história, o registo dos resultados do torneio:

- 83 m. barreiras – 1º Joaquim Rodrigues; 2º Cristiano Sales
- 1.000 m. – 1º Maurício Tavares; 2º José Maria Rodrigues
- 3.000 m. – 1º Maurício Tavares; 2º Adriano Ferreira
- salto em altura – 1º Cristiano Sales 1,60; 2º Hélder Araújo 1,50
- salto em comprimento – 1º Emídio Moreira 5,42; 2º Fernando Ribeiro
- salto à vara – 1º Cristiano Sales 3,10; 2º Joaquim Rodrigues 2,80
- triplo-salto – 1º Fernando Ribeiro 10,83; 2º António Castro 10,64
- lançamento do dardo – 1º Joaquim Rodrigues 35,68; 2º Neves Correia 30,38
- lançamento do peso – 1º Cristiano Sales 10,33; 2º Fernando Ribeiro 10,17

Destas “performances” destaca-se o salto à vara, uma das mais fracas especialidades do atletismo português na altura, e mesmo depois durante dezenas de anos, em que o ecléctico Cristiano Sales (verifique-se que também liderou o salto em altura e o lançamento do peso e ainda foi segundo nos 83 m. barreiras) alcançou a marca de 3,10 m., notável para a época.

Dele dizia nas suas “Nótulas aveirenses” do Primeiro de Janeiro, João Sarabando:

“Cristiano Sales, que nos dizem jovem, será o futuro campeão? Nunca o vimos saltar... Mas quem aparece assim de chofre, a transpor 3,10 m. tem de ser considerado pelo menos como um sério candidato...”

Para este êxito tão fulgurante do Pejão Atlético Clube contribuíram duas pessoas: o treinador do clube, que era nem mais nem menos que Francisco Duarte, atleta de nomeada e que tinha sido “recordman” nacional do salto à vara, ainda com bons resultados noutras especialidades e que, como se referiu anteriormente, representou o Académico F. C. do Porto, por onde foi internacional; e o dirigente das Minas do Pejão, o engº Jacques Tyssen, com uma obra digna do maior apreço em benefício do pessoal das Minas, a favor do desporto em geral e do atletismo em particular.

A orientação eficiente que foi administrada a este grupo de jovens, permitiu que o Pejão A.C. aparecesse em provas oficiais e ultrapassasse de algum modo os clubes grandes do Porto na modalidade, que eram o Académico, o F. C. do Porto e ainda o Operário.

Assim, em 30 de Setembro desse ano de 1951, participaram no torneio do Académico, tendo obtido interessantes resultados, com especial destaque para Maurício Tavares que, em estreia, ficou em 2º lugar nos 1.500 m., com o tempo de 4m. 32,0s.

E logo duas semanas depois, o brilhante atleta que viria a ser por alguns anos Maurício Tavares, superava o recorde do norte da milha, com 4m 44,2s (o anterior pertencia ao atleta do Académico, Casimiro Gonçalves, com 4m. 54,0 s.). O “desconhecido” Maurício Tavares bateu o anterior recordista por 10 segundos de diferença e deixou a nítida impressão de poder ainda fazer melhor, pois se limitou a acompanhar o andamento dos adversários, apenas acelerando na parte final.

Voltando a citar João Sarabando em mais uma das suas “Nótulas aveirenses”:

O distrito de Aveiro podia desempenhar papel de relevo no atletismo nacional... De pé, já a magnífica altura, apenas o Pejão reluz. Perdido nas dobras da serra, trabalha afanosamente. Conta já com um “recordman” do norte, dispõe de um saltador à vara que transpõe os três metros e não tardará a apresentar um lançador de dardo de boa categoria”

Repare-se em duas especialidades difíceis, especialmente quando se trata de provas realizadas na província, com a escassez que sempre houve de locais e materiais para determinadas provas, como são o salto à vara e o lançamento do dardo, que tiveram em atletas do Pejão A.C. bons executantes.

Mas o “craque” da altura era, sem dúvida, Maurício Tavares, que nesse ano de 1951 era ainda júnior. E foi como tal que, no III Grande Prémio do Natal, do Porto, foi primeiro, sendo terceiro na geral em conjunto com os seniores. Colectivamente, o Pejão dominou com 19 pontos, recebendo pelo facto a taça “Joaquim Moreira Júnior”, um grande entusiasta da modalidade e que viria a ter alguma influência no atletismo aveirense alguns anos mais tarde, nomeadamente no capítulo do julgamento de provas da modalidade.

 

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