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A. Carretas, Para a História do Atletismo, In Revista "Mais", Mar.-Jun. 1996, n.º 8-9, pág. 15.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 5


Maurício Tavares e Companhia

O atletismo na época de 50 estava concentrado nos grandes viveiros de praticantes desportivos de Lisboa que eram Benfica, Sporting e Belenenses. No Porto o Académico e o F.C. do Porto tentavam seguir-lhes as pisadas, desenvolvendo igualmente um esforço assinalável. Fora destas duas principais cidades, e já que Aveiro e Anadia se haviam divorciado da modalidade, era com agrado que se via um clube das faldas da serra, o Pejão A.C., a bater-se com os melhores do norte, roubando-lhes alguns títulos e batendo algumas das suas melhores marcas. Para além do já citado Maurício Tavares, fundista de mérito, apresentava também um bom saltador à vara e um lançador de dardo de categoria.

Certo que havia atletas oriundos do distrito de Aveiro a representar outros clubes, como acontecera nos anos trinta com atletas de Aveiro a representar em força o Académico do Porto, por exemplo. Neste início da década de 50 os mais categorizados eram Joaquim Branco, natural da Pampilhosa, que defendia as cores do Belenenses e que no meio-fundo prolongado batia recordes nacionais uns atrás dos outros, batendo inclusive os melhores fundistas espanhóis; e o outro era Carlos Vieira, natural de Oliveirinha do Vouga, que representava o F. C. do Porto, que alardeava boas qualidades de “sprinter” mas que o futebol, que também praticava, sendo o extremo efectivo da equipa principal, afastou cedo do atletismo. Esta situação mostrava que havia gente no distrito para ser grande na modalidade mas que por não haver clubes a praticá-la os levava a procurar outros sítios onde o pudessem fazer.

O Pejão apostou muito nas camadas jovens e assim começaram a aparecer nos campeonatos e outras provas realizadas pela Associação ou por clubes do Porto. Nas primeiras provas realizadas em Janeiro de 1952, participaram no “cross” de aspirantes e no “corta-mato” de juniores. Em aspirantes, com a presença de 27 praticantes, alguns a calçarem os sapatos de atletismo pela primeira vez, venceu Carlos Vieira Cunha, do Pejão, com um outro, Joaquim Alves Soares, a ficar em terceiro; e em juniores, confirmando as suas excelentes aptidões para a modalidade, com boa vantagem sobre dois dos mais cotados pedestrianistas do F. C. do Porto, venceu naturalmente Maurício Tavares, com mais dois atletas do Pejão em 4º e 5º lugares.

Duas semanas depois, os dois referidos atletas venciam os respectivos campeonatos regionais de corta-mato da Associação do Porto. Em aspirantes, logo a seguir a Carlos Cunha ficaram outros dois atletas do Pejão e em juniores, acompanharam bem Maurício Tavares os seus colegas de equipa que alcançaram os 4º, 5º e 8º lugares, contribuindo assim para o 2º lugar colectivo a apenas 3 pontos do F. C. do Porto.


Em Abril iniciaram-se as provas de pista, com a disputa do “IV Torneio Regional de Aspirantes”. O Pejão, para início, não esteve nada mal e assim obteve quatro títulos, nos 700 m., disco, dardo e vara. Destaque especial para Alberto Faria Santos, que venceu o lançamento do dardo e o salto à vara, ficando ainda em 2º no lançamento do disco. No dardo, ao efectuar um lançamento de 40,37 m. fixou nova marca do Norte nesta especialidade, batendo o anterior máximo por cerca de 6 metros. Os outros títulos foram para Vítor Manuel Faria nos 700 m. e António Gonçalves no lançamento do disco.

Em 10 de Maio, nos campeonatos nacionais de Principiantes, Carlos Cunha batia o recorde regional do norte, nos 1.500 m., com a marca de 4m. 35,0s.

Alberto Santos dos Pejão A. C., que fixou nova marca do Norte no lançamento do dardo.

Em Junho disputaram-se os campeonatos de juniores. No regional, Maurício não deixou os seus créditos por mãos alheias e venceu a prova de 5.000 m., com o tempo de 16m32,6s, ficando um seu colega, José Rodrigues, em 2º. Na 2ª jornada, venceu ainda os 1.500 m., no tempo de 4m 26,5s, que ficava a constituir novo recorde regional do norte. No mesmo campeonato, Joaquim Rodrigues foi vencedor do lançamento do dardo, com 42,98 m.

No nacional de juniores, Maurício Tavares sagrar-se-ia campeão nacional dos 5.000 m. com 16m 19,2s, marca que ficaria a constituir novo recorde regional do norte.

Entretanto em Aveiro... repare-se nas duas curtas notícias respigadas da imprensa local:


10-05-1952 - “Aveiro nos desportos”

O atletismo, exercício por excelência, com raízes fundas na antiguidade, também viveu em Aveiro horas de glória. Mas foram, infelizmente, horas de curta duração. Depois do “Internacional Atlético Clube, fundado em 1932 por um punhado de jovens desportistas, que à causa deram toda a sua esforçada boa vontade, nada mais surgiu. E é pena! – pena, porque o atletismo está indiscutivelmente na base de outras modalidades; e pena porque as últimas provas organizadas em Aveiro tiveram lugar em 1936... já lá vão 16 longos anos!

21-06-1952 - Festa de homenagem em Esgueira

Provas de atletismo

100 e 200 m. livres foram ganhos por Artur Ferreira Leite e a prova de corta-mato por Jaime Moutinho.
 

Finalmente, havia uma tentativa de voltar a acontecer atletismo na cidade. Mas agora chamar-lhes metros livres (?!) não lembra ao diabo!...

 

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