Pormenor do retrato a óleo de José Estêvão existente na sala de professores.

Escola Secundária José Estêvão
Departamento de Línguas Românicas e Clássicas

PORTUGUÊS

   G. Lind, Estudos sobre Fernando Pessoa, p. 59.


Interseccionismo  

Na data 4-10-1914 - meio ano depois da criação de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos -, Pessoa escreve a Cortes-Rodrigues: «Verdade seja que descobri um novo género de paulismo. Mas preciso completar o feito.» Com a sua habitual paixão pelas ideias, «caratteristica dei pigri fantasiosi e complessati» (Luciana Stegagno Picchio), Pessoa começa logo vasta acção de propaganda para divulgação da nova corrente. Há que sair com uma revista interseccionista ou, melhor ainda, com uma antologia do Interseccionismo e, para colaboradores, são mais uma vez convocados todos os amigos que, há pouco ainda ligados ao Paulismo, de ora em diante passam a assinar-se de interseccionistas: Sá-Carneiro, A. P. Guisado e Cortes-Rodrigues. Para os espíritos inferiores prevê-se o auxílio por meio de gráficos ou desenhos em que o Interseccionismo apareça como cruza­mento ou intersecção de todas as correntes anteriores. O projecto não se chega a concretizar, tal como acontecerá com a antologia do Sensacionismo em 1916.

 

(...) De qualquer maneira, é certo que Pessoa quis, no seu primeiro entusiasmo, interpretar o interseccionismo como «Paulismo a sério» e que considerou o «Orpheu» do seu amigo Sá-Carneiro como o órgão próprio para dar a ressonância devida à nova escola. J. G. Si­mões sustenta esta opinião e afirma, noutro local, que o interseccionismo representa na obra de Pessoa a transposição do Cubismo e do Futurismo para a literatura. O próprio Pessoa, porém, defende-se, como mostraremos, categoricamente contra a confusão do Interseccionismo com o Futurismo. Simões sugere, mas injustamente com certeza, que Pessoa tivesse sido encaminhado para as suas novas teorias atra­vés de cartas de Sá-Carneiro, vindas de Paris. Mas as cartas de Sá-Carneiro dos anos de 1913 a 1914, embora contenham de facto alusões ao Cubismo, ao fascínio de Picasso e aos teoremas loucos do futurista Santa Rita Pintor, não fornecem quaisquer pontos de referência a partir dos quais Pessoa pudesse ter feito derivar o seu Interseccionismo.

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