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Ver... para além de olhar - 4 a 26 de Setembro de 2010



Fotografia
 

"A fotografia é um instrumento que permite tratar daquilo que toda a gente conhece, mas de quem ninguém se ocupa. As minhas fotografias visam representar aquilo que habitualmente não se vê."

Emmet Gowin "master" em fotografia americano (n. 1941)

 

Se vamos a um dicionário (ou enciclopédia) procurar o que é fotografia, encontramos definições como esta: arte ou processo de obter imagens em superfícies sensíveis (rápidas a obter impressões) pela acção da luz ou de outra energia radiante. Palavra que deriva do grego e que significa desenho com luz.”

Quem faz fotografia pretende pois ficar com um desenho impresso, com uma imagem daquilo que vê em determinado momento e que sabe não ter possivelmente ocasião de rever nos tempos seguintes, quer porque não pode ou não pensa voltar aos objectos que pretende "fixar", quer porque esses mesmo objectos (ou pessoas, ou outros seres vivos) vão sofrer evoluções que não permitem voltar ao estado ou à forma do momento que lhe terá despertado a atenção ou a curiosidade.

Quer como profissão quer como "hobby", a fotografia tem fascinado muita gente dos últimos séculos. E isto porque terá tido o seu começo nos primórdios do século XIX, sendo o processo primitivo mais conhecido o "daguerreotipo", porque introduzido em 1839 pelo pintor francês Louis Jacques Maudé Daguerre.

A fotografia, tal como foi durante muito tempo, com método seguindo o sistema de filme em rolo (para já não se entrar pelos métodos tecnológicos aparecidos recentemente), foi desenvolvida em 1883/84 por George Eastman.

As máquinas fotográficas tiveram grande desenvolvimento ao longo destes quase duzentos anos. As pessoas de meia idade ainda se lembrarão, certamente, dos fotógrafos que percorriam as terras do país, normalmente por alturas das feiras. Era então que as criancinhas (e não só!...) eram convidadas (às vezes obrigadas) a "tirar o retrato".

Estes fotógrafos ambulantes faziam tudo e "em su sítio", desde o disparar da máquina (olhó passarinho!...) com enquadramento por ele imaginado (no visor as pessoas apareciam de pernas para o ar) ou solicitados pelos progenitores (quando de criancinhas se tratava), ou pelos próprios (muitos pares amorosos ou em vias disso), até ao entregar da reprodução em papel emulsionado depois de ter estado uma boa hora a secar, pendurada por molas de roupa, nas paredes laterais do "caixote fantástico".

Hoje as câmaras fotográficas são completamente diferentes e permitem ao utilizador disparar a torto e a direito, entregando o trabalho posterior de processamento a técnicos e/ou casas especializadas, ou ainda mais recentemente, poder o próprio dar-lhes seguimento no seu PC. O preço das máquinas também foi diminuindo razoavelmente (embora existam ainda modelos sofisticados, não ao alcance de todas as bolsas), havendo inclusivamente já câmaras fotográficas de "utilizar e deitar fora" após completar as 12, 24 ou 36 "chapas" que cada rolo pode comportar.

Mas o simples olhar através do vigor e o carregar no botão do disparador com uma ligeiríssima pressão do indicador não faz de qualquer utilizador de uma máquina um fotógrafo. E entra aqui a diferença entre o "processo" ou "arte" de obter as imagens, da definição de fotografia. Há quem apenas processe fotografias, se limite a querer passar as imagens para o tal papel apropriado que lhe permite rever "à posteriori" o que viu (ou será melhor dizer, olhou?!) em determinado momento; e há depois alguns outros que conseguem fazer da fotografia uma arte.

A diferença entre o ver e o olhar, justifica-se igualmente, porque há muito quem olhe (basta ter o aparelho visual em adequadas condições) mas nem toda a gente vê. Acontece com frequência em viagens programadas e em grupo, em que toda a gente transporta a sua câmara fotográfica, todos disparam na real gana, mas enquanto uns se limitam a fotografar as vistas (que até podem obter em bilhetes postais à venda em qualquer quiosque do sítio e por vezes mais baratos que as próprias fotografias), outros conseguem obter detalhes ou situações particulares, que permitem que os tais "desenhos impressos em superfícies sensíveis" se aproximem da arte. E quando se confrontam as fotos tiradas pelos diferentes participantes, não é raro ouvir-se "mas onde é que isso foi tirado que eu não vi?". Pois é! Passaram todos pelos mesmos locais, mas alguns só olharam e não viram...

Dos outros, os que olharam e "viram" se poderá dizer, como Emmet Gowin, que as suas "fotografias visam representar aquilo que habitualmente não se vê”. Pessoalmente também faço os possíveis por "ver", para além de olhar...

António Carretas


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