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Ronda de saudade

Em 1932, aquando do cinquentenário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro, foi resolvido fazer um número único de uma revista a que foi dada o nome de HUMANITÁRIA.

Nela, e na qualidade de Secretário do Conselho Fiscal, cargo que então exercia, também colaborei escrevendo um artigo em que prestava homenagem ao esforço e dedicação dos componentes da Direcção que, desde 1925, estava à frente dos destinos daquela Associação e, bem assim, aos do Corpo Activo que, em conjunto, conseguiram dar muito maior eficiência àquela Corporação, pela renovação que conseguiram fazer, do material existente, e pela aquisição doutro mais moderno e mais capaz, como foi a moto-bomba, empregada pela primeira vez no incêndio ocorrido em casa de José Maria dos Santos FreireJosé Maria dos Santos Freire (o Sarralho), onde deu excelentes resultados.

Até à aquisição desta moto-bomba as mangueiras eram alimentadas pelas bombas de picota, manuais, que bombeiros e pessoal, que para tal se oferecia, manejavam agarrados aos dois braços, — onde cabiam e eram necessárias para a manobra, uma dúzia de pessoas que, ao fim de pouco tempo, tinham de ser substituídas, pois o esforço dispendido era estafante.

E, para chegarem aos locais aonde elas deviam actuar, havia que puxá-las e empurrá-las à mão, para o que, e a fim de facilitar o transporte, tinham montadas umas cordas às quais se agarravam todas as pessoas válidas que, logo que o sino da Câmara tocava a anunciar o incêndio, compareciam no quartel para prestar a sua ajuda.

Felizmente, ainda há vivos alguns dos que, então rapazotes, agarrados aos paus das cordas correram com as bombas ou as empurraram para os locais onde era necessária a sua actuação.

Solicitado a colaborar noutra HUMANITÁRIA, esta para comemorar o centenário da referida Associação, faço-o com o maior prazer e satisfação, lamentando, porém, que ao folhear a primeira verifique que de todos aqueles colaboradores e dos que contribuíram para a sua publicação, somente eu pertenço ao número dos vivos. Verifico, também, que, do Corpo Activo então existente, (33 pessoas), restam, hoje, 3 — o Gonçalo Pinto, o Manuel Caçola e o Albertino Pereira; que, dos sócios fundadores, não há nenhum vivo; e, bem assim, que, daqueles que, então, compunham os Corpos Gerentes, apenas eu, do Conselho Fiscal, o Albano Pereira e o João Ferreira de Macedo, da Assembleia Geral, poderemos assistir à comemoração do centenário.

Da minha actuação nos Bombeiros Velhos, as contas que tenho a prestar — estou convencido disso — pesarão a meu favor no Juízo Final, pois, nesta Corporação, durante o tempo em que a servi, quer como Secretário da Direcção, quer como Secretário do Conselho Fiscal, quer como Secretário da Direcção, colaborei com toda a minha boa vontade, com toda a minha inteligência, com o meu desinteresse material e, tanto quanto os meus conhecimentos o permitam, juntamente com os restantes elementos directivos a quem estava ligado.

Da Direcção de que fiz parte com Ricardo Mendes da Costa e José Marques Sobreiro, que se manteve de 1941 a 1948, faziam parte, como era de uso e costume, dois membros do Corpo Activo: o João Soares e o Gonçalo Pinto.

Sempre fomos capazes de resolver os problemas surgidos, em boa harmonia, apesar de, algumas vezes, termos opiniões diferentes.

Termino esta minha crónica, fazendo votos pela prosperidade dos Bombeiros Velhos e louvando, com todo o fervor, todos aqueles que, com o seu esforço e dedicação, conseguiram que esta Corporação tivesse atingido o centenário com a mesma vitalidade — ou mais ainda — que tinha quando comemorou o seu cinquentenário.

João Evangelista Campos

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