Diante dos meus
olhos, o escrito vetusto, de cinquenta anos atrás — assinado por esse
grande aveirense que foi Homem Christo — in «Humanitária», assinalando a
efeméride da existência da «Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários».
Mas, hoje como ontem,
o prurido volvendo desconforto naqueles que nada intentam e a quem a
língua viperina se alonga em esperas improfícuas, em dias, em anos, em
decénios prenhes de inutilidade. O exacto oposto molda o espírito do
bombeiro voluntário. De facto, nele a espera é promessa, ritual sagrado
no qual a vida e os bens de seus semelhantes sem qualquer distinção
representam património que é forçoso preservar de todos os acidentes e,
tantas vezes, à custa da própria vida. A entrega a esta cruzada diz bem
da sua índole ímpar saturada de generosidade. Se necessário encontrar a
força genética que anima tanta coragem, tanto desinteresse, tanto
sacrifício, talvez escolhesse Abel — essa figura emblemática dos
prolegómenos bíblicos. E isto porque considerada a primeira vítima do
despeito gerado e refervendo na alma de Caim que, para desgraça nossa,
multiplicou em progressão geométrica a sua descendência estigmatizada,
nesta insegura Terra onde vegetamos. Mas, e apesar de tudo, ninguém com
dez-réis de discernimento, pode pôr em causa, melhor, não pode deixar
de admirar, profundamente, a gesta dos homens que, até aos nossos dias,
continuaram a obra de que a nossa cidade beneficia há mais de um século.
Há mais de um século! Vejam só. |