Retalhos das Memórias de um ex-Combatente


Marechal

Aliás, aquando de uma visita de Sua Ex.ª o Senhor Marechal Craveiro Lopes ao nosso Batalhão, o Bifanas – gajo reguila, empregado de mesa antes de ir para a tropa – tinha ouvido uns zunzuns e dirigiu-se a Sua Excelência:

– Meu Marechal…

– Senhor Marechal – emendou o Comandante de Companhia.

– Capitão, deixe o homem falar – disse Craveiro Lopes dirigindo-se ao Bifanas que estava em sentido – Põe-te à vontade, e fala.

– Ouvimos dizer que de Luanda veio uma ordem para tirar os sacos de areia das viaturas! Não pode ser, Senhor Marechal. Eles são a nossa salvação.

O Capitão ficou vermelho que nem um pimento. Os sacos ainda não tinham sido tirados das viaturas. O Marechal notou-o.

– Tirar os sacos das viaturas? – Pergunta o Marechal espantado – Eu próprio vim numa viatura com sacos de areia. Deixe comigo Capitão. Fez bem em não mandar tirar os sacos de areia. Eu próprio trato do assunto quando chegar a Luanda!

O que nos admirou foi quando a Companhia foi informada da visita, um Marechal, Inspector-geral das Forças Armadas Portuguesas que poderia ter requisitado um helicóptero para se deslocar, não quis! Veio com os Soldados, para saber como era. Veio de avião até São Salvador, onde visitou um filho, Capitão que estava em comissão de serviço e seguiu viagem de visita às Companhias do nosso Batalhão, que na altura até já era conhecido pelo “Rebenta”, tantas as minas que já tinha feito rebentar.

Um acto destes deu força moral a toda a tropa do nosso Batalhão. Em Luanda – os tais do ”ar condicionado” – não sei se haveria alguém capaz de o fazer. Mas este apoio tinha vindo do “Puto”...