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O altar deixa ver um painel de prata e os mármores de Carrara. A
servir de altar-mor fica o altar do Menino Jesus, revestido de
trajes napoleónicos, aferrolhado por forte gradeamento de ferro e
ladeado por quadros de D. Josefa de Óbidos. Também, sob pequena
estátua da Mater Dolorosa se divisa o mais pequeno mas
significativo altar da Senhora da Boa Morte.
A capela do Santíssimo, jazigo da família do primeiro Conde da
Lapa, tem um rico altar de talha joaninha e forma um espaço
convidativo para a reflexão. |
É notável a cenografia de que se revestem os altares laterais do corpo
da igreja.
Junto do arco-cruzeiro, do lado da Epístola, vê-se o altar de Santo
António, em que a Virgem, sob uma nuvem circundada de anjos, lhe
entrega o Menino, com a indicação de um anjo a relembrar a frase
joânica do Evangelho: “Eis a Tua Mãe”!
Do lado do Evangelho, temos o altar da Crucificação ou do Calvário, em
que o Senhor, expirado há momentos, é trespassado no lado esquerdo
pela lança do soldado romano, na presença de outros que se entretêm
repartindo entre si as vestes do Crucificado e jogando os dados da
sorte sobre a Sua túnica.
O altar de S. José representa a passagem deste homem que, após o
cumprimento da sua discreta mas insubstituível missão, recebe a coroa
da justiça e cuja descida é determinada pelo anjo do tempo.
Entretanto, o Pai Celeste prepara-se para acolher no Reino Eterno este
homem justo. Resta o Altar da Senhora da Soledade, em que a Virgem,
aos pés da cruz, contempla os instrumentos da Paixão; o corpo do
Senhor está sepultado perante a Senhora lacrimosa ao pé de João
Evangelista, José de Arimateia, Nicodemos e as santas mulheres.
Por detrás da
capela-mor e no compartimento que rodeia a lapa era a
Casa do Peso,
assim chamada por nela estarem as balanças onde as pessoas se dirigiam
para as próprias pesagens, com vista à futura entrega do mesmo peso em
trigo, em cumprimento da promessa à Senhora. Pode ver-se suspenso
o grande caimão,
um gigantesco ex-voto que testemunha o lendário milagre da mulher, das
redondezas ou das bandas do Oriente, que, aflita, se chamou à Senhora,
que lhe terá inspirado o arremesso dos novelos para que, tendo-os
engolido, o caimão ficasse engasgado e a mulher liberta do perigo.
Animal, outrora pendurado, actualmente
restaurado e colocado numa vitrina.
Um rico espólio de paramentos de pratas compõem de modo excelente o
tesouro da Fábrica do Santuário.
Na sacristia pode apreciar-se belo paramenteiro e seis ex-votos em
pedrelas de notável interesse e acentuado valor. Muitos outros
quadrinhos há aqui como no concelho, a atestar a devoção e as graças
que ilustram as necessidades e orações dos crentes, nos finais do
século XVIII, um pouco por todo o século XIX e ainda pelo século
passado.
A igreja, vista do exterior ostenta uma frontaria com o triângulo
pretensamente apoiado em duas colunas embutidas no muro frontal; à
cabeceira, por detrás do passadiço que dá para o colégio, o campanário
com os dois sinos que encarrega de dar as horas e de chamar os devotos
para os ofícios culturais. |
Aquilino e o Colégio da Lapa
«No recreio da tarde, uma
revoada de rapazinhos, pouco mais ou menos da minha idade,
precipitou-se pela camarata, vindos uns das aulas, outros da sala de
estudo. Em breve acheí-me no meio deles como em pleno arraial. (...)
Cá está o novo! (...) Éramos entre cinquenta a sessenta rapazinhos, e
no recreio fazíamos guerras assanhadas e quebrávamos denodadamente a
pinha uns aos outros como nunca. Pulmões lavados pelos mil metros de
altitude, comíamos carne de cabra de manhã, ao meio dia e à noite; e
apanhávamos palmatoadas pela medida grande, louvado seja Deus, a
qualquer hora.»
Aquilino Ribeiro,
Uma Luz ao Longe. |