In: Lauro António, Pamplinas Maquinista, Nº 6, Algueirão, Secretaria de Estado da Reforma Educativa, M. E., SD, 24 pp.

Pamplinas Maquinista

Texto de Lauro António

Brochura acerca do filme «Pamplinas Maquinista» - Dim. 21x14,5 cm - Clicar para ampliar.

    O Filme

    Sinopse do argumento
   
Humor de Mecanismo de Relógio

    «O Homem que Nunca Ri»

    Filmografia

    O humor segundo Buster Keaton

    Bibliografia e Videografia

   Ficha Técnica

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Pamplinas Maquinista

O filme

 

Buster Keaton - Clicar para ampliar.Título original: The General; Realízação: Buster Keaton e Clyde Bruckman (EUA). 1926); Argumento: AI Boasberg e Charles Smith, segundo uma ideia de Buster Keaton e Clyde Bruckman, inspirada por «The Great Locomotive Chase», de William Pittenger; Fotografía (preto e branco): J. Devereux Jennings; Operador: Bert Haines; Cenáríos: Fred Gabourie; Efeitos eléctricos: Denver Harmon; Montagem: J. Sherman Kell; Assistente de montagem: Harry Barnes; Música: Konrad Elfers; Produção: Joseph M. Schenk e Buster Keaton/United Artists; Intérpretes: Buster Keaton (Johnnie Gray), Marion Mack (Annabel ou Mary Lee), Frank Barnes (irmão de Mary), Charles Smith (pai de Mary, Glen Cavender (capitão Anderson), Jim Farley (general nortista Thatcher), Frederick Wroom (general sulista), Frank Agney (sargento recrutador), Joe Keaton, Mike Donlin, Tom Nawn (oficiais nortistas), etc.; Duração: 74 minutos; Estreia mundial: Nova lorque, 18 de Dezembro de 1926; Edição vídeo em Portugal: Vídeo Colecção/Ecovideo.
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Sinopse do argumento

Imagem do filme «Pamplinas Maquinista» - Clicar para ampliar.

Primavera de 1861 − Guerra da Secessão nos E.U.A., com as forças do Norte contra as do Sul, que as primeiras haveriam de ganhar, fazendo triunfar novas fórmulas de governo, abolindo a escravatura e introduzindo conceitos de industrialização, contra o conservadorismo da aristocracia rural dos Estados do Sul.

Imagem do filme «Pamplinas Maquinista» - Clicar para ampliar.Buster Keaton interpreta aqui o papel de Johnnie Gray, maquinista de caminhos-de-ferro, que tem duas paixões na vida: a namorada, Annabelle Lee, e a sua bela locomotiva, a «General», que pertence ao Expresso do Atlântico e faz a ligação entre Marietta, na Geórgia, a Sul, e Chattanooga, a Norte. Quando a guerra chega a Fort Summer, os habitantes de Marietta acham que é a altura de se alistarem. Entre eles, estão o pai e o irmão de Annabelle Lee, que pergunta também a Johnnie Gray se ele não se vai oferecer, o que este faz com um entusiasmo indescritível, passando à frente de todos, apenas para saber que será recusado, pois o general sulista que dirige as operações considera que ele é mais útil como maquinista do que como soldado. Mas Johnnie não se conforma, regressa aos serviços de recrutamento, com um nome suposto, voltando porém a ser afastado, quando é descoberta a sua falsificação.

Sem ter coragem de contar tudo à namorada, Johnnie vive angustiado durante um ano, longe dos olhares apaixonados da sua prometida, que não o quer ver senão uniformizado.

Entretanto, no acampamento da União, a Norte de Chattanooga, o capitão Anderson, chefe dos serviços de espionagem, apresenta ao general Thatcher um plano para penetrar no território sulista, apoderar-se de uma locomotiva e carregar mantimentos para as suas tropas. a que acabará por executar, caindo-lhe na sorte a locomotiva de Johnnie Gray que é roubada na estação de Big Shanty, quando todos os passageiros e tripulantes almoçam.

O maquinista, porém, não aceita ver-se longe da sua «General» e persegue-a por todos os meios ao seu alcance, até conseguir apanhar outra locomotiva que se coloca deliberadamente no encalço dos nortistas. Mas, rapidamente, Johnnie Gray passa de perseguidor / 5 / a perseguido e depois mesmo a fugitivo, o que o leva a esconder-se debaixo de uma mesa de reuniões onde ouve os generais nortistas planearem o ataque surpresa contra os sulistas e onde descobre igualmente que a sua nunca esquecida Annabelle se encontra também prisioneira das forças da União.

Depois de se livrar de algumas sentinelas, liberta Annabelle e ambos fogem, levando consigo a locomotiva, procurando chegar ao acampamento dos Sulistas antes dos adversários, para alertar as tropas sobre o plano que o inimigo preparara. O que consegue, impedindo assim a derrota, o que lhe vale finalmente uma farda de tenente, e o amor agradecido de Annabelle, enfim rendida à sua coragem e destemor.
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Imagem do filme «Pamplinas Maquinista» - Clicar para ampliar.

Humor de

Mecanismo de Relógio

Esta comédia de Buster Keaton, que se desenrola no cenário de um western, parte de um facto histórico: em Abril de 1862, um grupo de espiões nortistas rouba uma locomotiva na estação de Big Shanty, levando-a rumo ao Norte. É este episódio que está na base do argumento criado pelo próprio Buster Keaton e por Clyde Bruckman, ambos igualmente co-realizadores do filme.

A base real do filme confere-lhe desde logo uma autenticidade inatacável, e um clima de algum dramatismo, dado o rigor com que Keaton a trabalha. Em lugar de se servir desse episódio para sobre ele efabular simplesmente, o autor procura, pelo contrário, o pormenor preciso, indo ao ponto de reconstruir locomotivas movidas a carvão em tudo idênticas às da História. Depois, todos os cenários são naturais, raras são as cenas rodadas em estúdio, as reconstituições de acampamentos, estações de caminho-de-ferro, meios de locomoção, cenas de batalha, em tudo Buster Keaton procura o dado rigoroso que dê credibilidade à história. No seu entender, só assim os «gags» resultam mais divertidos, porque inscritos numa realidade dramática plausível. Razão que está igualmente na base da aparente rigidez da sua máscara: os espectadores divertem-se mais se o actor cómico se assume na sua seriedade.

Será, aliás, na construção do «gag» que este filme de Keaton se distingue, sendo mesmo considerado um dos mais perfeitos (senão mesmo o mais) do autor, conhecido sobretudo pelo exaustivo trabalho de preparação das situações, que vários ensaístas e estudiosos da sua filmografia aproximam do de um arquitecto, de um geómetro, de um coreógrafo. Veja-se, por exemplo, toda a fabulosa sequência da perseguição à locomotiva roubada. Johnnie Gray primeiramente corre atrás dos assaltantes, depois serve-se de um carro movido por alavanca, depois viaja de bicicleta, finalmente consegue desviar ele também uma locomotiva tendo que afastar do caminho diversos obstáculos que os perseguidores lançam para os carris.

A cada desafio, Johnnie responde com um novo rasgo de génio, indo à frente da composição levantar os troncos, atirando / 7 / com um deles sobre outro para fazer saltar ambos... Tudo obedece a princípios matemáticos rigorosos, a precisos estudos de causa-efeito que resultam divertidíssimos, nomeadamente pela forma clara como são enunciados e desenvolvidos, sem elipses ou truques.

Imagem do filme «Pamplinas Maquinista» - Clicar para ampliar.Diga-se também que Buster Keaton era um admirável acrobata que efectuava todos os exercícios onde intervinha, sem recurso a duplos. É ele mesmo quem percorre a locomotiva de alto a baixo, quem salta de vagão em vagão, quem corre ao longo dos carris e salta em andamento. Ele torna-se de tal forma um prolongamento da «General» que dir-se-ia ser um elemento indissociável da máquina (como na sequência inicial, quando sentado num dos veios que ligam as rodas, é transportado pela locomotiva, sem se aperceber do movimento, absorto que está na desdita de ter sido recusado pelo Exército).

Será ainda na locomotiva que terá lugar um dos mais famosos «gags» da história do burlesco: Johnnie Gray leva consigo um canhão para atingir os perseguidores. Mas, no primeiro disparo, por falta de pólvora, a bala vai cair na locomotiva onde viaja Gray. Na segunda tentativa, com o canhão desesperadamente carregado de explosivos e com o rastilho aceso, a plataforma liberta-se da locomotiva e a trepidação faz com que o canhão desça a sua mira, ficando Buster Keaton como alvo privilegiado. Mas quando parece ir acontecer o pior, o canhão dispara numa curva do caminho e a bala vai atingir realmente o comboio fugitivo, passando ao lado da composição perseguidora. Há aqui uma sucessão de situações cómicas, ligadas entre si, anulando-se umas às outras, fazendo crescer a tensão junto dos espectadores através deste contínuo acumular de lances.

O mesmo acontecerá, já muito perto do fim do filme, durante a derradeira batalha, com Johnnie Gray, junto de um general sulista, evoluindo atabalhoadamente, sempre no máximo da discrição, com a espada a que finalmente teve direito, mas cuja lâmina salta e provoca as mais desencontradas situações.

Em qualquer destes casos, alguns de entre muitos de possível citação, se demonstra o perfeito domínio que Buster Keaton tinha sobre o humor, num alarde de talento, mas também de rigor. Ele próprio dizia que «uma boa cena cómica comporta por vezes mais cálculos matemáticos do que uma obra de mecânica» ou ainda que «um filme cómico se assemelha muito, em precisão, às rodas dentadas de um relógio».

Buster Keaton, em «Pamplinas Maquinista», mas também em muitas outras obras do seu período mudo, atinge um estado de exemplar perfeccionismo, de enorme austeridade de processos e de total economia de meios, o que faz deste título um dos melhores filmes do burlesco americano desta época, só comparável a Chaplin.
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Buster Keayon - Clicar para ampliar.Será interessante sublinhar devidamente este aspecto, pois em quase todos os filmes de Keaton destes anos de fim do mudo, ele desenvolve uma apurada técnica de humor, onde nada é deixado ao acaso, onde tudo se desenvolve segundo uma ordem previamente estabelecida e racionalizada, onde não há a mais pequena concessão à facilidade (o que não impediu «The General» de ser um espantoso sucesso de público!), onde é possível descortinar--se uma gravidade de tom que confere a cada peripécia a dignidade de um acta moral.
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«O Homem que Nunca Ri»

De Buster Keaton disse-se o que raras vezes se diz de um artista. Orson Welles afirmou que tinha por Keaton «uma verdadeira veneração». E especificou: «Acabo de ver 'Pamplinas, Maquinista' e é um filme de uma beleza total!» Luis Buñuel, bem como todos os surrealistas, nutria igualmente por Buster Keaton uma admiração sem fronteiras: «Os superfilmes devem servir para dar lições aos técnicos: os de Keaton para dar lições à própria realidade, com ou sem a técnica da realidade.» Todavia, a carreira deste homem que talvez tenha sido o único a fazer sombra a Charles Chaplin, foi acidentada, e alguém chegou a dizer que a sua vida parece retirada de «um mau melodrama». Foi um dos grandes de Hol/ywood durante o mudo, interpretando, mas também escrevendo e realizando, muitos dos filmes que traziam o seu nome.

Depois do aparecimento do sonoro, porém, a sua estrela dir-se-ia que havia sido por completo ofuscada no firmamento. Durante algum tempo ocupou-se em tarefas menores, interpretando filmes medíocres, dando «shows» em circos, embriagando-se e indo parar amiudadas vezes a clínicas de desintoxicação, mesmo a hospícios. Destino trágico para um dos homens que mais terá distribuído felicidade e alegria pelas plateias de todo o mundo.

A América chamou-lhe «O Homem que Nunca Ri», o que, se reflecte uma das características do seu jogo histriónico, não é, no entanto, das principais, Buster Keaton bem poderia considerar-se um mestre na difícil arte da comédia, do burlesco, mas de um burlesco por assim dizer estilizado, austero, reduzido ao essencial, moderno como nenhum outro. Poderá, então, pensar-se como colocar este humor ao lado de outros que fizeram furor em HolIywood e no mundo por essas épocas, e pensar-se também na forma como o público, habituado a um cómico barroco, sobrecarregado de situações e de «gags», aceitaria a simplicidade de processos de Keaton. Não deixa de surpreender que o tenham aceitado tão bem, que o tenham considerado um dos grandes do mudo, que tenham feito das suas comédias alguns dos maiores êxitos comerciais da década de 20.
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Buster Keaton nasceu a 4 de Outubro de 1895, em Pickway, no Kansas. EUA, de pais de origem escocesa e irlandesa. O seu nome de baptismo era Joseph Francis Keaton, filho de Joseph Hallie e de Myra Edith, ambos actores cómicos. Nascido num palco, no ano mesmo em que o cinema dava os seus primeiros passos pela mão dos irmãos Lumière, no Salon Indien do Grand-Café de Paris, Buster Keaton cedo começaria a trabalhar no mundo do espectáculo.

Enquanto o pai cantava, dançava e fazia acrobacias, a mãe tocava piano e interpretava solos de saxofone, integrados numa companhia de que faziam ainda parte Harry e Bassie Houdini. Os seus espectáculos eram chamados «medicine shows» e apresentavam-se de cidade em cidade. Foi no decorrer de uma «!ournée», com paragem em Pickway, que nasceu o Keaton de que hoje aqui falamos. Um vendaval percorreu a região, levando consigo a tenda que cobria o local do espectáculo. Foi num palco improvisado que o recém-nascido foi apresentado ao público, com menos de 24 horas de vida. A primeira aparição em público de Buster Keaton assemelhou-se, pois, a uma natividade que tivesse convocado para o efeito a fúria dos elementos. Elementos que ele irá desafiar ao longo de toda a sua obra de cineasta e actor. Em muitos filmes seus se encontram vendavais, ciclones, fogos, naufrágios, avalanches, tufões. Mas todos estes confrontos ameaçadores e dramáticos permitiam a Keaton o jogo da elegância dos seus movimentos, misturado com um ar quase inconsciente, mas pelo menos distante, com que ia procurando resolver as situações em que se encontrava metido. Jogo de precisão matemática, rigoroso na construção do «gag», minucioso no seu desempenho, invulgar nos resultados. Por muito dramática que seja a situação, Keaton encontra sempre uma maneira hábil e ágil para dela sair com alguma dignidade.

Quem não se lembra de «Pamplinas, Maquinista», com o herói preso na parte dianteira de uma locomotiva em andamento, com uma enorme viga de madeira nos braços, num equilíbrio verdadeiramente instável e aterrorizador? Pois Keaton consegue ver-se livre da situação, com uma dignidade e elegância totais. Não só conseguirá abandonar a incómoda posição, como afastar do caminho outros escolhos.

Para esta articulação perfeita de movimentos, para esta total agilidade, muito terá contribuído a época da sua juventude passada no «vaudeville», juntamente com os pais, num «número» a que chamavam de «The Three Keaton». Desde os três anos de idade que olha as habilidades que prodigiosamente se desenrolam à sua volta, desde essa altura que as tenta imitar, e que enfrenta o público em cena aberta. Só aos 17 anos, quando uma disputa entre o pai e o director da companhia interrompe a actuação dos «Três Keaton», Buster Keaton parte para Nova lorque onde trocará o teatro pelo cinema.
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Encontra Roscoe «Fatty» Arbuckle, que o convida a integrar a sua companhia e aparecer em pequenos filmes de duas bobines. É o burlesco no seu máximo que o actor irá descobrir. Mas após uma curta permanência junto de Arbuckle, é mobilizado e parte para a Europa, onde permanece durante sete meses. De regresso a Nova lorque, volta à companhia de «Fatty», onde intervém em mais alguns títulos, até que passa para a Metro Goldwin Mayer, dirigindo já os filmes em que aparece, ainda que de colaboração com Eddie Cline.

São também pequenos filmes de duas bobines, com excepção de "The Shahead», uma longa-metragem, de 1920, dirigida por Herbert Blache e Winchell Smith, onde Buster Keaton interpreta no cinema o papel criado por Douglas Fairbanks no teatro.

Só a partir de 1923, de novo na MGM, depois de uma curta incursão pela «First National», é que aparecerá regularmente como protagonista de longas-metragens. São dessa época alguns dos seus melhores títulos como "Três Idades», «As Leis da Hospitalidade», "Sherlock Holmes, Jr.», «O Navegante», «O Rei dos Cowboys» ou "Boxeur por Amor Dela". Mas será a partir de 1926, na United Artists, que Buster Keaton terá o seu melhor período criativo, com três títulos definitivos, «Pamplinas, Maquinista», «O Colegial» e «Marinheiro de Água Doce». Em 1928 regressa à MGM para interpretar aquele que será o seu último filme mudo, «O Homem da Manivela», e os seus primeiros títulos sonoros.

Venderá a sua produtora e aceitará integrar-se na MGM. As obras em que intervém, a partir daí, são de uma qualidade inferior, quase todas dirigidas por um medíocre Edward Sedwick que não soube encontrar a forma de aproveitar o fabuloso jogo do actor na nova mecânica do sonoro. Buster Keaton irá atravessar um dos piores períodos da sua vida, com a degradação da sua arte, graves problemas familiares (a mulher, Natalie Talmadge, pede divórcio, acusando-o de adultério, o que arruína o actor), e esta crise atira-o para o álcool, para as clínicas, para o esquecimento.

Aceita então trabalho na Educational Pictures, onde volta a interpretar pequenos filmes de uma, duas ou três bobines, com «gags» medíocres, deficientemente dirigidos por técnicos sem talento nem inspiração, como Charles Lamont. Mas é o trabalho que lhe permite sobreviver até 1939, atravessando inúmeras dificuldades. Depois de uma passagem por uma clínica psiquiátrica volta à MGM, mas agora como argumentista e «gagman» de outros actores (por exemplo, de Red Skelton). Vai vivendo depois de pequenos papéis em filmes produzidos por vários estúdios, e tenta mesmo a sorte na Europa, em França e em Inglaterra, e no México.

Em 1941 empreende a sua primeira digressão teatral, com «The Gorilla», a que se segue, em 1946, "Three Men on a Horse». Viaja pelos Estados Unidos em «tournée», como fizera em criança, e aparece integrado, em 1947, no Circo Medrano que visita / 13 / França. Actua em «night clubs» na Europa, é contrado pela televisão inglesa, faz curtas aparições em filmes publicitários...

Será em sobressalto que todos nós, que o amámos, o vimos voltar, em «Luzes da Ribalta», de Charles Chaplin.

Em 1957, supervisiona o filme de Sidney Sheldom, «The Buster Keaton Story» e dois anos depois recebe da Academia de HolIywod, um Óscar especial consagrando «o talento único com que encarnou comédias imortais no cinema e pelo seu contributo para a arte cinematográfica».

Alguns anos depois, uma cópia nova e restaurada de «Pamplinas, Maquinista» sai nos circuitos comerciais alemães, e é a consagração crítica. A Cinemateca Francesa faz-lhe uma completa retrospectiva da sua obra, ocupando os meses de Fevereiro-Março de 1962. E Stanley Kramer convida-o a integrar o elenco de «O Mundo Maluco». Alain Schneider dá-lhe o principal papel em «Film», segundo obra de Samuel Beckett, e o Canadá, através do Office National du Film, convida-o para protagonizar «The Railroader», enquanto Julian Biggs, paralelamente vai filmando essa rodagem, e ordenando um documentário, de cerca de uma hora, sobre Buster Keaton: «Buster Keaton Rides Again», título profético para o renascer do actor para uma segunda carreira.

Segunda carreira que seria breve, mas teria o cunho de estabelecer a justiça ainda em vida do notável actor-realizador. A sua última aparição no cinema dá-se em «Em Roma era Assim», de Richard Lester.

Em 1 de Fevereiro de 1966 morre Buster Keaton, em Hollywood, Califórnia, EUA.

Actor verdadeiramente genial, da estatura de um Chaplin, Buster Keaton foi durante muito tempo o autor completo das obras em que intervinha, o que lhe permitia o domínio total das situações. O maior erro da sua vida terá sido abddicar dessa situação, quando em 1928 vendeu a sua própria companhia, «The Buster Keaton Produtions», e se deixou integrar na Metro. A partir daí toda a sua carreira deslizou gradualmente para a mediocridade, enquanto a sua vida e a sua saúde, física e psíquica, acusavam crises graves de que não mais se recompôs. Mas um momento inesquecível da história do cinema estava-lhe ainda reservado, quando, em 1951, Charles Chaplin o convida a aparecer em «Luzes da Ribalta», um filme que é uma dolorosa homenagem ao mundo do espectáculo. Aí, reunidos por instantes, lado a lado, os dois maiores cómicos de sempre. estabeleceram um pacto para a eternidade: sob os holofotes de cena, dois. rostos envelhecidos corriam para a imortalidade.
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Filmografia

 

1.0 Período Arbuckle (1917-1920) Filmes mudos

 

1917: The Batcher Boy, de Roscoe Arbuckle;
1917: The Rough House, de R. Arbuckle;
1917: A Reckless Romeo, de R. Arbuckle;
1917: His Wedding Night, de R. Arbuckle;
1917: A Country Hero, de R. Arbuckle;
1917: Fatty At Coney Island, de R. Arbuckle;
1918: Out West, de R. Arbuckle;
1918: The Bell Bay, de R. Arbuckle;
1918: Good-Night, Nurse, de R. Arbuckle;
1918: Moonshine, de R. Arbuckle;
1918: The Cook, de R. Arbuckle;
1919: A Desert Heroe, de R. Arbuckle;
1919: Backstage, de R. Arbuckle;
1919: The Hayseed, de R. Arbuckle;
1920: The Garage, de R. Arbuckle.

 

2.0 Período Metro (1920-1921)

 

1920: The Saphead, de Herbert Blanche e Winchell Smith; / 15 /
1920: The High Sign, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1920: One Week, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1920: The Scrarecrow, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1920: Convict 13, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1921: The Goat de Buster Keaton e May SI. Clair;
1921: Neighbours, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1921: The Haunted House, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1921: Hard Luck, de Buster Keaton e Eddie Cline.

 

3.0 Período First National (1921-1923)

 

1921: The Playhouse, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1921: The Boat de Buster Keaton e Eddie Cline;
1921: The Paleface, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1922: Cops (Pamplinas e os Polícias), de Buster Keaton e Eddie Cline;
1922: My Wife's Relations, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1922: The Blacksmith de Buster Neaton e May SI. Clair;
1922: The Frozen North (Pamplinas no Pólo Norte), de Buster Keaton e Eddie

         Cline;
1922: Daydreams, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1922: The Electric House (Pamplinas na Casa Eléctrica), de Buster Keaton e

         Eddie Cline;

1923: The Ballonatic, de Buster Keaton e Eddie Cline;
1923: The Love Nest de Buster Keaton e Eddie Cline.


4.0 Período Metro (1923-1926)


1923: Three Ages (Três Idades), de Buster Keaton e Eddie Cline;
1923: Our Hospitality (As leis da Hospitalidade), de Buster Keaton e Jack

          Blystone;

1924: Sherlock, Jr. (Sherlock Holmes, Jr.), de Buster Keaton;
1924: The Navigator (O Navegante), de Buster Keaton e Donald Crisp;
1925: Go West (O Rei dos Cow-Boys), de Buster Keaton;
1926: Battling Butler (Boxeur por Amor Dela), de Buster Keaton.


5.0 Período United Artists (1926-1928)


1926: The General (Pamplinas Maquinista), de Buster Keaton e Clyde

          Bruckman;

1927: College (O Colegial), de James W. Horne;
1928: Steamboat Bill. Jr. (Marinheiro de Água Doce), de Charles F. Reisner.


6.0 Período Metro (1928-1933)


1928: The Cameraman (O Homem da Manivela), de Edward Sedgwick;
1929: Spite Marriage (O Figurante), de Edward Sedgwick.
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Filmes sonoros


1929: The Hollywood Revue (A Revista de Hollywood), de Charles F. Reisner; 1930: Free and Easy (O Fabricante de Estrelas). de Edward Sedgwick;
1930: Doughboys (Em Frente, Marche!), de Edward Sedgwick;
1931: Parlor, Bedroom and Bath (Pamplinas em Pijama), de Edward Sedgwick; 1931: Sidewalks of New York (Pamplinas Milionário), de Jules White;
1932: The Passionate Plumber (O Amante Improvisado), de Edward Sedgwick; 1930: Speak Easily (A Tentação de Pamplinas), de Edward Sedgwick;
1933: What! No Beer? (Amor. . . e Cerveja), de Edward Sedgwick.


7.0 Período - Educational (1934-1939)


1934: The Gold Ghost, de Charles Lamont;
1934: AIlez Oop, de Ernest Paga no e Ewen Adamson;
1934: Le Roi des Champs-Elysées (O Rei dos Campos Elíseos), de Max
          Nosseck (rodado em França, extra Educational);
1934: The Invader, de Adrian Brunel(rodado em Inglaterra, extra Educational);
1935: Palooka from Paducah. de C. Lamont;
1935: One Run Elmer, de C. Lamont;
1935: Hayseed Romance, de C. Lamont;
1935: Tars and Stripes, de C. Lamont;
1935: The E-Flat Man, de C. Lamont;
1935: The Timid Young Man, de C. Lamont;
1935: Three on a Limb, de C. Lamont;
1936: Grand Slam Opera, de C. Lamont;
1936: La Fiesta de Santa Barbara, de Lewis Lewyn;
1936: Blue Blazes, de Raymond Kane;
1936: The Chemist, de AI Christie;
1936: Mixed Magic, de Raymond Kane;
1937: Ditto, de C. Lamont;
1937: Love Nest on Wheels, de C. Lamont (para Metro e Fox);

1938: Life in Sometown USA, de Buster Keaton;
1938: Hollywood Handicap, de Buster Keaton;
1938: Streamlined Swing, de Buster Keaton;
1938: Too Hot to Handle, de Jack Conway;
1939: The Jones Family in Hollywood, de Malcolm St. Clair;

1939: The Family in Ouick Millions, de Malcolm SI. Clair;
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8.0 Período Colúmbia (1939-1941)


1939: Pest From The West, de Dei Lord;
1939: Mooching Through, de Jules White;
1939: Hollywood Cavalgade (Assim Nasce o Cinema), de Irwing Cummings;
1939: Nothing But Pleasure, de Jules White;
1940: Pardon My Berth Marks, de Jules White;
1940: The Taming of the Snood, de Jules White;
1940: The Spook Speak, de Jules White;
1940: The Víllan Still Pursued Her, deEdward F. Cline;
1940: Lil'Abner, de Albert S. Rogell;
1941: So You Won't Squawk, de Dei Lord;
1941: General Nuisance (General Comodista), de Jules White;
1941: She's Oil Mine, de Jules White.


9.0 Período - Colaborações Avulsas


1942: Tales of Manhattan (Seis Destinos) de Julien Duvivier;
1943: Forever and a Day (Para Sempre e Mais Um Dia), de René Clair;
1944: Bathing Beauty (Escola de Sereias), de George Sidney;
1944: San Diego, I Love You (Quando Elas Querem), de Reginald Le Borg;
1945: That Night Whit You (Aquela Noite Contigo), de William A. Seiter;
1945: That's the Spirit (O Céu Também dá Férias), de Charles Lamont;
1946: God's Country, de Robert E. Tansey;
1946: Il Moderno Barba Azul ou Boom in the Moon (Pamplinas na Lua), de

         Jaime Salvador (no México);

1948: A Southern Yankee (O Vira Casaca), de Edward Sedgwick;
1949: Neptune's Daughter (A Rainha das Sereias), de Edward Buzzeli;
1949: The Loveable Cheat, de Richard Oswald;
1949: In the Good Old Summertime, de Robert Z. Leonard;
1949: You're My Everything, de Walt Lang;
1950: Un Duel A Mort, de Pierre Blondy (rodado em França);
1950: Sunset Boulevard (O Crepúsculo dos Deuses), de Billy Wilder;
1951: Limelight (Luzes da Ribalta), de Charles Chaplin (em Inglaterra);
1952: L'lncantavole Nemica, de Claudio Gora; .
1952: Paradise for Buster (inédito);
1956: Around the World in Eighty Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias), de

         Michael Anderson;
1957: The Buster Keaton Story, de Sidney Sheldon;
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1960: The Adventures of Huckleberry Finn (As Aventuras de Huckeberry Finn),

         de Michael Curtis;
1962: The Triumph of Lester Snapwell, de James Calhoun;
1962: Ten Girls Ago (inédito, rodado no Canadá);
1962: It's a Mad, Mad, Mad, Mad World (O Mundo Maluco), de Stanley

         Kramer;
1964: Pijama Party, de Don Weis;
1965: Beach Blanket Bingo (Ai que Garotas!), de William Asher;
1965: How to Stuff a Wild Bikini (Biquini Selvagem), de William Asher;
1965: Sergeant Deadhead, the Astronaut (Um Sargento Trapalhão), de Norman

         Taurog;
1965: The Big Chase (inédito);
1965: The Railrodder, deJulian Biggs (no Canadá);
1965: Buster Keaton Rides Again, de Julian Biggs (no Canadá);
1965: The Scribe, de John Sebert (no Canadá);
1965: Due Marines e Uno Generale, de Luigi Scattini (em Itália);
1966: A Funny Thing Happened on the Way to the Forum (Em Roma era

         Assim), de Richard Lester (em Espanha).
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O humor

segundo

Buster Keaton

Pamplinas Maquinista - Clicar para ampliar.

«Têm-me perguntado muitas vezes porque mantenho nos meus filmes esta expressão particularmente séria. A explicação é muito simples. Desde a minha estreia no teatro tenho verificado que, num número cómico, conseguimos que o público ria tanto mais quanto mais indiferentes − e mesmo espantados − ficamos perante a hilariante desse mesmo público. Há cómicos que parecem dirigir-se directamente ao público, querer entrar em intimidades com ele. Fatty comportava-se exactamente assim. E desse modo fazia com que o público se risse com ele, ao passo que, no que me diz respeito, o público ri-se de mim. Quando um cómico começa a rir no ecrã é como se pedisse ao público para não o levar a sério, que tudo não passa de uma brincadeira. O público, de facto, deixará de o levar a sério e ele bem pode colocar-se nas situações mais disparatadas que não conseguirá fazer rir. Em última análise, os filmes são, para o actor, uma ocasião de fazer de idiota: quanto mais sério for, mais divertido será o resultado» (1932).

Buster Keaton - Clicar para ampliar.«A coisa que mais me surpreendia no Cops (Pamplinas e os Polícias, 1922) é que só pouquíssimos sabiam cair. At St. John, por exemplo, trabalhou cerca de cinco anos com Roscoe Arbuckle sem nunca aprender a técnica de proteger-se nas quedas. Como perito na matéria, aconselhei-o a servir-se de protecções nos cotovelos, coisa de que nunca tinha sequer ouvido falar; como costumava cair sobre os braços e os cotovelos, é evidente que os tinha todos cobertos de equimoses. Definiram-me como acrobata, mas penso que isso só corresponde a 50 por cento da realidade. É evidente que aprendi a cair, ainda era pequeno, como Chaplin, Lloyd e Douglas Fairbanks, aprendendo também alguns números, como o salto mortal para trás e outras coisas. Mas toda a gente percebia que eu não era um acrobata profissional. A única coisa que consigo verdadeiramente fazer é controlar os meus músculos» (1960)

«A maior parte dos co-realizadores que trabalham comigo ocupava-se sobretudo da construção da história; da continuidade, que era um elemento fundamental do filme.
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Buster Keaton - Clicar para ampliar.Não há nada pior que um gag deslocado. Pode estragar toda uma cena, por melhor que seja. Havia gags que não tinham qualquer utilidade para mim. Contava-os a Harold Lloyd, que gostava deles e os utilizava nos seus filmes.

Fiz o mesmo com Chaplin, que, por sua vez, me propôs gags que não podia utilizar e que se adaptavam à minha personagem. Estes intercâmbios eram muito comuns» (1962).


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Bibliografia e Videografia

Algumas obras dedicadas a Buster Keaton

My Wonderful World of Slapstick, de Buster Keaton e Charles Samuels (Nova lorque, Doubleday and Company, 1960);
Buster Keaton, de José Pantiere (Milão, Centro Studi Cinematografici, 1963);
Buster Keaton, de Davide Turconi e Francesco Savio (Veneza, Ed MIAC, 1963);
Buster Keaton, de Mareei Oms (Lyon, Ed. Serdoc, Col, Premier Plan, 1964);
Buster Keaton, de Jean-Patrick Lebel(Paris, Ed. Universitaires, Col, Classiques du Cinema, 1964);
Buster Keaton, de David Robinson (Londres, Secker and Warburg, Col. Cinema Qne, 1969);
Buster Keaton, de Michel Denis (Paris, Col. Anthologie du Cinéma, Vol. 7, 1973);
Le Mécano de Ia «General», − Planificação de "Pamplinas Maquinista» (Paris, L'Avant Scene du Cinema, nº 155, 1975);
Buster Keaton, de Eduard Jose (Madrid, Ed. JC; Col. Directores de Cine, n° 6; 1987)
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Videografia

Outros filmes de Buster Keaton:

Pamplinas na Lua, de Jaime Salvador (Vista Video);
O Marinheiro de Água Doce, de Charles F. Reisner (Video Colecção - Ecofilmes); O Colegial, de James W. Horne (Video Colecção − Ecofilmes);
Um Sargento Trapalhão, de Norman Taurog (Publivideo);
A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Michael Anderson (Publivideo);
O Mundo Maluco, de Stanley Kramer (Publivideo);
Em Roma era Assim, de Richard Lester (Publivideo).

Outros clássicos da comédia americana

Charlie Chaplin, I (antologia) (Video Colecção - Ecofilmes);
Charlie Chaplin, II (antologia) (Video Colecção - Ecofilmes);
Charlie Chaplin, III (antologia) (Video Colecção - Ecofilmes);
Charlot, o Homem mais Cómico do Mundo (Video Colecção - Ecofilmes); Bucha e Estica, I (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, II (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, III (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, IV (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, V (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, VI (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, VII (antologia) (Edivideo);
Bucha e Estica, VIII (antologia) (Edivideo);
Abbot e Costeilo, de Jim Gates (antologia) (Videosif).
 

Ficha técnica

Lauro António

Licenciado em História
Realizador de Cinema (
Manhã Submersa e O Vestido Cor de Fogo)
Crítico e ensaísta de cinema em diversas publicações
Autor e encenador de teatro (A Encenação)
Director dos Festivais de Cinema de Portalegre e Viana do Castelo
Coordenador do grupo «Cinema e Audiovisuais» do Ministério da Educação

 

Paginação e Grafismo

Cândida Teresa

Gabinete de Meios Técnicos e Materiais

da Direcção Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm


Edição

Secretaria de Estado da Reforma Educativa

 

Composto e impresso
 na Editorial do Ministério da Educação

Algueirão


Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012

 


    O Filme

    Sinopse do argumento
   
Humor de Mecanismo de Relógio

    «O Homem que Nunca Ri»

    Filmografia

    O humor segundo Buster Keaton

    Bibliografia e Videografia

   Ficha Técnica

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Inserido
23-03-2012