In: Manuel Cintra Ferreira, Doido com juízo, Nº 14, Algueirão, Secretaria de Estado da Reforma Educativa, M. E., SD, 28 pp.

Doido com juízo

Texto de Manuel Cintra Ferreira

Brochura acerca do filme «Doido com Juízo» - Dim. 21x14,5 cm - Clicar para ampliar.

   Ficha Técnica
    O Filme

    Sinopse

   Crítica

   Situação do filme na história do cinema

   Relações interdisciplinares

   O Realizador

   Filmografia

   Bibliografia

   Os actores

   Opiniões

    Filmografia complementar e videografia

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Doido com Juízo
O filme

Imagem do filme «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.

Título português: Doido com Juízo; Título original: Mr. Deeds Goes to Town; Realização: Frank Capra; Argumento: Robert Riskin, segundo a história de Clarence Budington Kelland. «Opera Hat», publicada no «American Magazine nºs 119 e 120»; Fotografia: Joseph Walker; Efeitos Especiais Fotográficos: E. Roy Davidson; Direcção Artística: Stephen Goosson; Figurinos: Samuel Lange; Som: Edward Bernds; Música: Howard Jackson; Montagem: Gene Havlick; Assistente de Realização: C. C. Coleman.

Intérpretes: Gary Cooper (Longfellow Deeds), Jean Arthur (Babe Bennett), George Bancroft (MacWade), Lionel Sander (Cornelius Cobb), Douglas Dumbrille (John Cedar), Raymond Walburn (Walter), Margaret Matzenauer (Mme Pomponi), H. B. Warner (o juiz Walker), Warren Hymer (guarda costas), Muriel Evans (Theresa), Ruth Donnelly (Mabel Dawson), Spencer Charters (Mal), Emma Dunn (Mme Meredith), Wyrley Birch (psiquiatra), Arthur Hoyt (Budington), Stanley Andrews (James Cedar), Pierre Watkin Arthur Cedar), John Wray (o granjeiro), Christian Rub (Swenson), Jameson Thomas (Semple), Mayo Methot (Sra. Semple), Margaret Seddon (Jane Faulkner), Margaret McWade (Amy Failkner), Russell Hicks (Dr. Malcolm), Gustav Von Seyffertitz (Dr. Frazier), Walter Catlett (Marrow), Barnett Parker (mordomo), Edward Le Saint (Dr. Fosdick), Carles Levinson/Lane (Hallor), Inving Bacon (Frank), George Cooper (Bob), Harry C. Bradley (Anderson), Edward Gargan (2.º guarda costas), Edwin Maxwell (Douglas); Paul Hurst (primeiro adjunto), Paul Porcasi (o italiano), Franklin Panghorn (o alfaiate), George F. «Gabby» Hayes (o porta voz dos grangeiros), Billy Bevan (taxista), Bud Flannigan/Dennis O'Heefe Uornalista), George Meeker (Brookfield), Gene Morgan, Charles Wilson, Dale Van Sickel, Eddie Kane, etc.; Produção: Frank Capra, para a Columbia (1936); Duração: 115 minutos. Título de trabalho: A Gentleman Goes to Town; Estreia Mundial: Radio City Music Hall, New York, a 16 de Abril de 1936; Estreia em Portugal: Politeama, em 22 de Outubro de 1936; Reposição em Portugal: S. Luiz, em 4 de Agosto de 1953. Óscar de Hollywood para a Melhor Realização (Capra). Nomeado também para os Óscares de Melhor Filme, Melhor Argumento (Robert Riskin) e Melhor Actor (Gary Cooper). Escolhido como Melhor Filme do Ano pela crítica de Nova Iorque e pelo «National Board of Review». Entre 1969 e 1970, a ABC/TV transmitiu uma série, «Mr. Deeds Goes to Town» , inspirada no filme de Capra.

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Sinopse

Em Itália o multimilionário Martin W. Simple morre num acidente. O advogado, John Cedar, e o agente de imprensa, Cornelius Cobb vão procurar o seu sobrinho e herdeiro que mora numa pequena terra do Vermont, Mandrake Falls. Trata-se de Longfellow Deeds, de 28 anos, solteiro, poeta (para bilhetes postais), tocador de tuba e bombeiro voluntário. Deeds não fica muito entusiasmado com a notícia de ter herdado 20 milhões de dólares, perante o pasmo das visitas. Cedar, por um lado, julga ter encontrado um fantoche que pode manipular.

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Pela primeira vez na sua vida, Deeds sai de Mandrake Falls, depois de uma comovida despedida dos seus conterrâneos.

A chegada do herdeiro do milionário à cidade causa sensação, mas Cedar e Cobb escondem Deeds da imprensa. Uma jornalista, Babe Bennett, promete ao chefe de redacção arranjar uma reportagem de primeira página.

Deeds revela-se menos tolo do que Cedar julgava, pedindo os livros de contabilidade. Cobb pretende que ele se divirta e procura arranjar-lhe companhia feminina, recordando-se das aventuras galantes do tio. Mas Deeds sonha com a sua «donzela em perigo» a quem ele irá salvar como nas histórias de cavalaria.

Iludindo a vigilância dos criados, Deeds sai uma noite, encontrando Babe na rua, que esperava uma oportunidade. A jornalista faz a «fita» da desempregada faminta e desmaia-lhe nos braços. Deeds julga ter encontrado a sua «donzela em perigo» e leva-a a jantar. Ela diz chamar-se Mary Dawson. No restaurante Deeds e «Mary» encontram um grupo de boémios, escritores que convidam o «poeta» Deeds para a sua mesa. Mas este rapidamente percebe que é alvo de chacota e esmurra o mais agressivo. Os outros convidam-no para uma volta pela cidade.

No dia seguinte, o jornal de Babe traz na primeira página toda a história ilustrada com fotografia e dão a Deeds o nome de «Cinderella Man», prometendo continuar com as reportagens. Irritado, Deeds quer esmurrar o editor do jornal, mas os seus auxiliares acalmam-no. Deeds recusa a partir daí qualquer contacto com o exterior à excepção de... Mary Dawson. Volta a sair com ela / 5 / visitando desta vez o túmulo de Grant, seu conterrâneo, prestando homenagem a um homem que vindo do nada chegou a Presidente dos EUA. Babe começa a ficar perturbado com a simplicidade de Deeds, que lhe confessa a mágoa que a reportagem lhe causou.

No dia seguinte, Deeds abandona a festa de gala para a sua apresentação à sociedade e procura de novo Babe-«Mary», que começa a pensar em deixar a cidade. Babe pede-lhe para descrever a mulher dos seus sonhos e, com tal pretexto, Deeds recita-lhe um poema propondo-lhe casamento. A resposta deveria ser dada no dia seguinte.

Babe prepara-se para o encontro, decidida a contar-lhe a verdade; mas entretanto Cobb, que descobrira quem era Mary Dawson, revela a identidade a Deeds.

Cansado da hipocrisia e mentira que encontra na cidade, Deeds resolve regressar à sua terra. Quando se prepara para partir, aparece um fazendeiro arruinado, despojado de terra e haveres, que acusa Deeds por causa do dinheiro que herdou sem trabalhar, enquanto os pobres morrem de fome. Quer dar-lhe um tiro, mas a emoção não lhe permite. Deeds dá-lhe o almoço que prepara para Babe e, confrontado com a situação de miséria daquele e de outros camponeses, resolve anunciar um «plano agrário» de auxílio, atribuindo, até quanto lhe for possível, a cada camponês pobre, acres de terra, um cavalo, uma vaca e sementes.

Como resultado do anúncio, uma multidão aparece-lhe à porta, enquanto Cedar passa ao ataque procurando dar Deeds como louco. Deeds é preso e cai num estado de apatia de onde nem Cobb nem Babe conseguem tirá-lo.

No Julgamento, a sala do tribunal enche-se de gente pobre que apoia Deeds. Babe escreve reportagens com a mesma intenção. No tribunal Cedar inicia o ataque considerando loucura o projecto «agrário» de Deeds e chamando testemunhas de Mandrake Falls, que falam das «fantasias» do jovem, e um psiquiatra que reforça essa opinião. Perante o silêncio de Deeds, o juiz resolve enviá-lo para uma instituição, mas nesse momento Babe ataca, afirmando que o silêncio de Deeds é a sua «resposta» à hipocrisia e à perseguição de que é vitima. Instada por Cedar, Babe confessa o seu amor por Deeds. Ao ouvir Babe, Deeds levanta-se e faz a sua defesa. Tocar tuba não é tão bizarro como algumas manias e tiques que testemunhou na sala do tribunal, da parte do próprio juiz e do psiquiatra. O seu comportamento embriagado deve-se ao facto de ter sido a primeira vez que abusou do álcool. Quanto às suas «manias», todos na sua terra natal as têm (o que é corroborado pelas testemunhas). O ponto fulcral, o seu «plano agrário», não é loucura, sendo uma simples manifestação de bom senso, diante dos que nada têm e dos que têm muito. E no caso do dinheiro, denuncia com muito mais suspeitos os planos de Cedar, terminando o discurso com um murro no advogado.

O juiz anula a decisão anterior, libertando-o. Deeds sai aos ombros da multidão, mas regressa à sala para vir buscar Babe que ficara sozinha. Um beijo sela o futuro.
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Crítica
 

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Característica do cinema americano dos anos 30.

Característica do cinema de Frank Capra.

Doido Com Juízo começa a alta velocidade. Em 3 breves planos um carro cruza velozmente uma estrada e derrapa por uma ribanceira. Dir-se-ia o final de um dos mais curiosos filmes mudos de Capra, The Way of the Strong.

Marca inconfundível desse mesmo cinema: uma série de cabeçalhos de jornais dão a notícia do drama. Desta forma, ainda mesmo antes de um espectador respirar fundo, já está lançado pela história adentro.

Característica de uma narrativa perfeita cada vez mais difícil de encontrar.

Mas conforme a história avança compreendemos também que não se trata de um exercício de virtuose ou de simples economia. O que desde logo se insinua é a febre de velocidade letal que levou a América para o abismo em 1929. Porque Doido Com Juízo é, principalmente, um filme sobre a crise económica, melhor, o primeiro grande filme sobre ela, e é a colaboração em prática do conselho que Walter Connolly deu a Capra quando este se sentia numa encruzilhada depois da noite triunfal em que arrebatou o óscar para Uma Noite Aconteceu: contar uma história de gente simples, de problemas comezinhos, género «boy meets girl», com muito humor e «pathos» quanto baste, e filtrar nela a mensagem que se julgava capaz de transmitir.

A vítima do acidente fatal que testemunhamos ao começo é um multimilionário, folgazão e mulherengo, aparentemente sem herdeiros. As investigações dos testamentários levam ao encontro de um esquecido sobrinho, habitando uma remota terra chamada Mandrake Falls.

Capra, a partir deste momento vai colocar a tónica na comédia. O encontro de um provinciano ingénuo com a grande cidade é, geralmente, propício a isso, começando, desde logo com a descrição dos tipos pitorescos que habitam a pequena terra. De certa forma Mandrake Falls é um retrato caricatural sim, mas terno, das pequenas comunidades do interior, onde melhor se alimentam as virtudes do americanismo. Deeds compõe versos simples que / 7 / servirão de objecto de irrisão aos intelectuais da cidade, mas que na aldeia são aceites na simplicidade das suas rimas. O encontro de Deeds com os «poetas» da cidade, quando vai jantar com a sua «donzela em perigo», é menos um confronto de estilos do que de ideologias. Capra afirma neste filme, mais do que em qualquer outro, um forte anti-intelectualismo, o que lhe dá uma carga de ambiguidade, quando se sabe que essa era também a manifestação das doutrinas totalitárias que ensombravam a Europa. E, como nestes, a tónica mais importante do filme de Capra é posta no populismo. Tal atitude torna-se ainda mais patente na famosa sequência do encontro de Deeds com o camponês arruinado, quando, desencantado com a hipocrisia e o oportunismo que encontra na cidade, se prepara para abandonar a fortuna e regressar à terra natal, de onde saíra pela única vez. Perante a censura do camponês que o critica pela improdutividade a que deixa a sua fortuna, quando milhões de americanos se encontram na miséria, Deeds estabelece uma espécie de «projecto agrário» com a atribuição de um lote de terra, uma vaca e uma mula, para além de uma reserva de sementes a um certo número de camponeses que possam ser abrangidos pela sua fortuna. Trata-se de perfeita utopia, mesmo que Deeds afirme no julgamento que é apenas uma questão de «bom senso". Utopia porque conta com a boa vontade e uma espécie de comportamento ideal por parte quer dos da sua classe, quer dos beneficiários. Tal utopia é levada ao ponto extremo em Do Céu Caiu Uma Estrela. Trata-se, em resumo, de querer dar forma a «boas intenções», quando todos sabem qual é o destino delas.

Porém, reduzir o filme de Capra a esta visão simplista, é não ver o que está mais para além. Por um lado, mesmo que de forma idealista, o que Capra faz é denunciar o clima de egoísmo e arrogância que conduziu o país ao caos no fim dos anos 20, e o seu optimismo aparente é denunciado pelos filmes seguintes que mostram que, apesar das «mensagens» o egoísmo humano não se atenua, sendo preciso malhar o ferro constantemente, mesmo que quem o use seja um ingénuo idealista: James Stewart em Peço a Palavra enfrentando a arrogante assembleia do Senado até ao esgotamento, Gary Cooper em Um João Ninguém, pretendendo imolar-se por uma ideia a que ninguém mais liga, e toma aspectos sombrios em Do Céu Caiu Uma Estrela: com a euforia do triunfo do Bem e a alegre confraternização natalícia, esquecemo-nos que o vilão permanece intocado (Lionel Barrymore), e não manifesta, ao contrário de quase todos os outros filmes de Capra (em particular Não o Levarás Contigo) intenções de se converter. A bucólica utopia, apesar dos sinos dos anjos, deixa no ar uma imagem de pessimismo, como se Capra se tivesse convencido da inutilidade dos seus esforços.

Mas há outra evidência por detrás da referida ambiguidade. é a técnica de Capra. Se o tema proporciona várias leituras (que se podem opor em termos ideológicos) o estilo do realizador encarrega-se de lhe anular os possíveis sinais negativos. Capra mostra aqui que é / 8 / um mestre na montagem (e, logo, na manipulação) e na caracterização dos personagens. Por um lado escolhendo a dedos os actores mais conformes as suas ideias do que representam as personalidades. O rosto oblíquo de Douglas Dumbrille dá à personagem de Cedar uma sombra de vilania que de imediato põe o espectador contra ele e, por conseguinte, contra o discurso «lógico» com que o ataca no tribunal (em termos de produção e política ele está mais perto da realidade do que a fantasista e idealista Deeds, a querer combater a miséria com o seu projecto). O rosto luminoso e os olhos límpidos de Cooper põem-nos, de imediato, a seu lado. Repare-se na primeira aparição dele, entrando em casa, de ar simples e lacinho, com o cão a abanar o rabo, e especialmente, no confronto com os «poetas», apresentados como boémios desregrados, e como, intimamente, nos entusiasmamos com o murro que Deeds dá ao mais provocador (entusiasmo que encontra a sua apoteose no murro final a Cedar em plena sala do tribunal). A gente simples e explorada, que formava a esmagadora maioria dos espectadores, encontra em Deeds o seu cavaleiro andante. Por outro lado, ao conduzir magistralmente a narrativa, através de uma montagem (mais demonstrativa que paralela), Capra mantém o espectador num estado de atenção e tensão constantes, que o leva a aceitar, sem cuidados de análise, a sua conclusão. É o mesmo princípio que o orientará na montagem dos seus filmes de «guerra», em particular na série Porque Lutamos?: usar a ideologia contrária para, pela montagem demonstrativa denunciar as enormidades do nazismo. O «populismo» que triunfa em Doído Com Juízo, como o dos seus restantes filmes «sociais» não é o que serve de argumento aos ditadores e sim o da livre expressão de um pensamento simples, de tendências liberais, que vem dos fundadores da Nação Americana, dos textos de Emerson e Thoreau, que afirmavam a soberania do homem como indivíduo.

Doído com Juízo é, porém, algo mais do que a «lição política» de aparência seca, que atrás deixámos exposta. É um exercício portentoso de cinema, feito por alguém que dele conhecia todos os segredos e que tinha um instinto inato para a colocação da câmara no sítio certo e com o movimento exacto: repare-se no portentoso movimento da câmara (um plano sequência de vários minutos) que nos introduz, ao longo dos corredores, no reduto de Cedar, uma elegância que contrasta com a simplicidade e o ritmo das sequências dominadas por Deeds (antes do frente a frente no tribunal, que é um primor de emoção, no uso da iluminação e nos enquadramentos dos diversos personagens). Também na técnica se manifestam as oposições ideológicas dos intervenientes.

Doído Com Juízo é também, mais do que qualquer dos filmes anteriores de Capra, aquele em que de forma mais evidente aparece a sua imagem de «mulher». É a partir daqui que na sua obra se afirma a «força do sexo fraco». É ela que possuía a energia que vai salvar o herói, libertando-o da sua letargia e lançando-o na acção. É só quando Babe confessa o seu amor a Deeds, em plena sala do tribunal, que este se reencontra e sai do seu mutismo. A sua / 9 / ingenuidade vencera o cinismo da mulher da cidade, mas é a energia desta que lhe envolve a dignidade e a vontade de lutar.

Por tudo isto, Doido Com Juízo surge como o filme paradigmático de toda a obra de Capra (mesmo que se gostem mais de outras das suas obras). O que antes estava em embrião floresce espontaneamente, sentimentos, personagens, ideologia, e tudo o que vem depois vem alimentar-se aqui, nas poesias ingénuas de Deeds, e na sua fé na humanidade./ 10 /

Situação do filme na história do cinema Cartaz do filme «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.

Quando se estreia Doido Com Juízo Hollywood encontra-se de convalescença iniciando o processo de recuperação. A doença que atingiu o pais não teve, porém, repercussões tão graves no cinema como nas outras indústrias. Isto porque, o filme tornou-se o remédio mais usado por uma população quase em desespero, que ali encontrava um paliativo para as suas misérias, permitindo-lhe umas horas de sonho e fuga à realidade.

Imagem do filme «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.O papel do cinema neste campo só se tornou efectivo a partir de 1933, o ano mais negro da Depressão, inundando as salas com comédias musicais (dos filmes com Fred Astaire e Ginger Rogers, às fabulosas encenações coreográficas de Busby Berkeley: Rua 42, Orgia Dourada, etc.). Mas não só. Pode dizer-se que a imagem que se tem de Hollywood como fábrica de sonhos e entretenimento deve mais à época da Depressão do que ao mitico tempo do cinema mudo, porque, a necessidade aguçando o engenho, e sendo preciso encher os cofres das bilheteiras de qualquer forma, os capitães da indústria, os chamados «moguls», proprietários de estúdios e chefes de produção, procuraram novas formas de entretenimento. Aquilo a que hoje chamamos «géneros» teve aqui o seu princípio. Por economia cada Estúdio dedicou-se a um género particular que dominava o total da produção que dele saía: os filmes de terror da Universal, utilizando quase sempre os mesmos cenários, de filme para filme, de Frankenstein para a Filha de Frankenstein, e seus descendentes, de Drácula para outros Vampiros, etc., os Cenários / 11 / das mansões do passado para os filmes da MGM, onde brilha a sua estrela polar, Greta Garbo, os da burguesia satisfeita, acompanhando as evoluções de Astaire-Rogers na RKO, etc. A Warner caprichava com dois cenários antagónicos, mas complementares: os delirantes caleidoscópios de Berkeley para os Musicais, e o realismo e violência das ruas da cidade nos filmes de gangsters. É, aliás, a Warner, com a Columbia, a primeira a lançar, depois do começo da Depressão estes filmes de carácter social. A segunda com as obras de Capra, e a primeira com o seu ciclo de gangsters (O Império do Crime, Little Caesar, etc.) e os de denúncia social, em particular nos contundentes Sou Um Evadido, de Marvin Le Roy e 20.000 Anos em Sing Sing; de Michael Curtiz. Mas neste estúdio, os efeitos directos da Depressão surgem num esquecido e fabuloso filme de William Wellman, Wild Boys of the Road, sobre os jovens vagabundos, filhos de gente arruinada, que cruzam o país nos comboios.

Contudo, o efeito mais notório que a Depressão teve sobre o cinema foi a aparição de um original sistema de exibição, o "double bill» (programa duplo) que teve como consequência a aparição de um novo modelo, a série B, filmes baratos de cerca de uma hora, geralmente séries de westerns (Buck Jones, Gene Autry, Tim McCoy, John Wayne) ou policiais com detectives popularizados pelas "dime-novels» (Charlie Chan, o "Lobo Solitário», Bulldog Drummond, etc). O conceito de série B evoluiu, mas pouco, referindo-se sempre aos limites económicos que se lhes impunham, servindo essencialmente para manter o estúdio em funcionamento em tempo de crise. Na verdade, alguns deles devem a sua estabilidade financeira a estes filmes que equilibravam os riscos de empreendimentos mais ambiciosos.

Capra está ligado ao desenvolvimento de duas fórmulas de cinema neste período (que não serão bem géneros de acordo com a definição do termo): a "screwball comedy» com Uma Noite Aconteceu e o filme "social» com Doido com Juízo. Outro autores ajudaram o seu desenvolvimento ou acompanharam-no: Mitchel Leisen, Gregory La Cava e Leo McCarey são, talvez, os mais importantes. La Cava, por exemplo, em 1933 realiza um filme de doutrina tão ambígua como a de Doido Com Juízo, embora de forma menos perspicaz, Gabriel Over the White House, e o estilo de comédias que faz a seguir, Casou Com o Patrão, Doidos Milionários e Mundos Privados, seguem as pisadas de Uma Noite Aconteceu: a "screwball» comedy ao serviço de uma "conciliação social» com a descida dos senhores do capital ao mundo do trabalho e do desemprego. Leisen é mais sofisticado, lançando a crise para a alegoria em A Morte em Férias, e McCarey oscila entre o melodrama (Make Way for Tomorrow e a screwball (Com a Verdade me Enganas). John Ford também se aproxima do género com a sua comédia Não Se fala Noutra Coisa, e a ele cabe fazer o "balanço" da década e da crise no seu fabuloso As Vinhas da Ira.
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Imagem do filme «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.

Relações
interdisciplinares

Doido Com Juízo é um excelente ponto de partida para a compreensão não só do cinema dos anos 30 (ver «Situação do Filme») o é para o estudo da sociedade americana dessa década, marcada por um profundo conflito entre as forças do capital e do trabalho, e das ideias que enformavam o «New Deal» de Roosevelt.

Desde logo, o apelo feito aos possuidores de riqueza para uma redistribuição mais justa dos seus lucros, como forma de combate à miséria, mas também, tomando como ponto de partida o «projecto agrário» de Deeds, a construção em vários Estados, de granjas colectivas para camponeses sem terra, sob o beneplácito do governo central. Exemplo disso é a descrição que delas faz John Steinbeck no seu livro «As Vinhas da Ira», que John Ford adaptou ao cinema.

O debate no tribunal no filme de Capra é apenas uma das muitas manifestações de resistência que a política de Rosevelt encontrou em muitos meios, tanto na finança como na agricultura (as granjas do Estado eram vistas com a suspeição, falando-se de comunismo e «colectivização da terra», o que lhe valeram ataques dos grandes agricultores).

Por outro lado, Doido Com Juízo, proporciona também um debate possível sobre o papel da imprensa e a sua intrusão na privacidade dos cidadãos. O conflito apoia-se, em grande parte, no cerco da jornalista a Deeds.

Outros temas a explorar a partir do filme de Capra: a visão duma América rural, bucólica e pacífica, mas fechada sobre si mesmo (que foi um dos grandes esteios das políticas de não-intervenção); o conflito cidade/campo, com a agitação e egoísmo da primeira face à ingenuidade e tranquilidade da segunda. Os valores da América interior contra a das margens, da tradição contra o desenvolvimento.
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O realizador

Durante as filmagens de «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.

Nasceu a 18 de Maio de 1897, em Bisaquino, na Sicília, terra de sangue quente e sentimentos exaltados, coisa que levou consigo para a América e nunca o abandonaram. Quando tinha seis anos a família emigrou para o Novo Mundo, terra de oportunidades para esta primeira grande leva de italianos para os EUA, radicando-se em Los Angeles, perto de uma terra ainda quase deserta, destinada a tornar-se o centro do mundo do espectáculo e o berço de uma nova arte: Hollywood. O cinema, porém, não estava ainda no horizonte do jovem Capra, a não ser pela frequência dos «nickelodeons».

Capra vai estudar para a Manual Arts High School, de Los Angeles e depois no California Institute of Technology de Pasadena onde, em 1918, se forma em Engenharia Química, profissão que se irá revelar, mais tarde, bastante útil no mundo do cinema. Nesse mesmo ano alista-se no Exército, mas a sua actividade na guerra limita-se ao ensino de balística. Desmobilizado em 1919, torna-se um dos muitos desempregados da região, não vendo ali um futuro muito risonho. Depois de convalescer de um doença, Capra parte à aventura e durante três anos percorre, como um vagabundo vivendo de expedientes, o Arizona, o Nevada e a Califórnia.

Em 1921 encontramo-lo de novo em Los Angeles numa paragem decisiva para o seu futuro. Vigorava o Volstead Act («A Lei Seca») e o chefe de um «sindicato» de traficantes de álcool pretendeu utilizar os conhecimentos químicos do jovem Capra para a construção de alambiques que não «deitassem cheiro». Capra declina cautelosamente o convite, deparando em seguida com um anúncio publicado numa revista a pedir um «realizador» para um novo Estúdio. O nosso homem ignora tudo de como se faz um filme, más tem ideias bem precisas e acaba por se fazer aceitar por Walter Montague, um actor shakespeariano, seduzido pela miragem do cinema que fundara as «Productions Fireside» destinadas a vida efémera. O seu primeiro filme, uma curta metragem sobre um poema de Rudyard Kipling Fultah Fisher's Boarding House vai permitir-lhe pôr em prática essas ideias entusiastas da juventude, tentando dar provas de originalidade, em particular na recusa de qualquer maquilhagem para os intérpretes (para sublinhar as / 15 / tonalidades realistas), processo que porá também em prática no auge da sua carreira, e o abandono do estúdio pelos exteriores. O pequeno filme é bem recebido, mas Capra dá mostras de bom senso. Para trabalhar no cinema precisa de aprender bem as suas técnicas, pelo que se fica por essa experiência, ingressando em 1922 no laboratório de cinema de Walter Bell. A pouco e pouco vai trabalhando noutros ramos (acessorista, montador, finalmente gagman) ao mesmo tempo que assiste às filmagens de outros filmes. Em 1923, no plateau de Greed (de Eric von Stroheim) conhece a que será, no ano seguinte, a sua primeira mulher, a actriz Hellen Howell.

Em 1924 Capra está nos Estúdios Hal Roach como Gagman da série Our Gang (A Pandilha) e a seguir, nos Estúdios Mack Sennett, trabalhando com Tay Garnett e Arthur Ripley (também futuros realizadores), entre outros, em gags para Ben Turpin, Ralph Graves, etc. Já então o bichinho da realização o voltara a moder, o que chega a provocar um conflito com Sennett. Este, no fim de 1924, contrata um cómico de vaudeville e entrega-o aos seus gagmen para lhe criarem uma personagem. Trata-se de Harry Lagdon, para quem Capra vai buscar os traços do soldado Schweik. A popularidade do novo cómico sobe em flecha, mas também a sua arrogância. Langdon abandona Sennett e leva com ele os responsáveis pelos seus êxitos, o realizador Harry Edwards; Frank Capra e Arthur Ripley. O resultado é Tramp, Tramp, Tramp, um dos seus grandes sucessos.

Capra dirige em 1926 dois dos mais famosos filmes com Langdon (Atleta à Força e Calças Compridas) mas a crescente arrogância e megalomania do actor leva à ruptura. Capra é despedido por Langdon e o peso deste em Hollywood torna difícil ao jovem realizador encontrar trabalho, acabando por voltar aos estúdios de Mack Sennett como gagman.

Em 1928, Harry Cohn, director de um pequeno estúdio, a Columbia, contrata-o, dando início a uma colaboração de 12 anos que tornará a «dama do archote» num dos logotipos mais conhecidos dos cinéfilos. Pode-se dizer que se Cohn foi o pilar onde a estátua se apoia Frank Capra foi o homem que acendeu a chama.

Sendo então um estúdio B, o seu lema era rapidez e economia. Para Capra era o ideal. Os seus primeiros filmes, feitos geralmente em seis semanas, são êxitos de bilheteira o que ajuda a impor o seu nome. O sucesso afasta-o definitivamente do seu primeiro amor: doutorar-se no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Mas começa também a ficar obcecado com a ideia de ganhar um óscar, prémio instituído pela recém-formada Academia de Artes e Ciências de Hollywood.

Em 1933 realiza um melodrama em que deposita muitas esperanças para isso, A Grande Muralha, que foi seleccionado para... inaugurar o Radio City Music Hall de Nova Iorque. Quanto a óscares, para a sua grande decepção, nada. Como também não acontece com Milionária por Um Dia para o qual foi, finalmente, nomeado. A sua obsessão era tal que, na cerimónia, ao ouvir Will / 16 / Rogers anunciar o vencedor, «Frank...», levantou-se antes do actor terminar a frase, «... Lloyd» (pela realização de Cavalgada). Só no ano seguinte Capra satisfaria a ambição com Uma Noite Aconteceu.

Antes destes factos deu-se, porém, um acontecimento decisivo para a história dos EUA e de Frank Capra: o «crack» da Bolsa de Nova Iorque que arruinou milhões de pessoas (o próprio Capra ficou sem um tostão) e lançou o país para uma crise de que levaria anos a recuperar. Capra irá tocar pela primeira vez no tema em 1932 com Loucura Americana, que é também o filme que marca o encontro com Robert Riskin. Sendo este o filme de que pela primeira vez se fala de um «Capra Touch», e dado que Riskin está ligado a quase todos os restantes, pode dizer-se que aquele «estilo» teve em Riskin o seu padrinho. Milionária por Um Dia virá, a seguir, confirmar um e outro.

Uma Noite Aconteceu representa a consagração. Capra está no auge da sua fama e parece ter todas as ambições realizadas com a conquista do óscar. Mas o êxito é também um impasse. Que fazer a seguir?

Diz uma «lenda mozartiana» que Capra recebeu um dia a visita de um jovem desconhecido que o trata de cobarde e de ser uma ofensa a Deus. E prossegue, obrigando-o a ouvir na Rádio um discurso de Hitler: «Este homem demoníaco tenta desesperadamente contaminar o mundo com o seu ódio... Você pode falar a centenas de milhões de pessoas durante duas horas e na escuridão. O talento que tem foi-lhe dado por Deus para que o pusesse ao Seu serviço. E quando não usa o talento que Deus lhe deu está a ser uma ofensa a Ele e à humanidade». Encontramos aqui ecos do discurso do fazendeiro arruinado a Longfellow Deeds em Doido com Juízo. Se se trata de invenção é, pelo menos, bem inventado.

Mais verosímeis são as palavras do seu amigo Walter Connolly (intérprete de A Grande Muralha, Uma Noite Aconteceu, Derradeira Vitória): «Deixa de te preocupares com o que deves dizer às pessoas durante duas horas. Isso fá-las fugir. Limita-te a contar histórias simples de homens e mulheres e fazendo rir. Este é o teu ponto forte. E inconscientemente farás deslizar nos teus filmes uma mensagem, seja sob que forma for. Porque não podes impedir-te disso, pois amadureceste».

Esses frutos maduros vêm sob a forma das «comédias sociais»: Doido com Juízo, Não o Louvarás Contigo, Peço a Palavra e Um João Ninguém que lhes darão mais dois óscares. E também a fase de um dos seus projectos mais ambiciosos, Horizonte Perdido, segundo o romance de James Hilton. Nele Capra aplica mais uma das suas experiências inovadoras em questões técnicas: o uso do sódio para provocar bolhas de ar debaixo de água em O Mergulhador, a neve carbónica em Do Céu Caiu Uma Estrela, a recusa, nalguns filmes, do uso da maquilhagem, etc.). Neste caso, para dar o máximo de realismo às sequências na neve, mostrando o vapor da respiração dos intérpretes, realizou essas sequências no interior de um gigantesco armazém frigorífico.
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Alistando-se durante a guerra, Capra é colocado sob as ordens do General George Marshall para a realização de filmes de propaganda. De novo o realizador vai mostrar a sua imaginação e habilidade, apresentando uma série (premiada com um óscar) que será considerada como um modelo do género: Porque Lutamos? Capra vai utilizar material do inimigo para demonstrar e atacar a sua ideologia (em particular a partir do filme de Leni Riefenstahl, O Triunfo da Vontade).

Desmobilizado com o posto de Coronel e várias condecorações, Capra cria com William Wyler e George Stevens uma companhia independente, a «Liberty Films» para a qual fará um dos filmes mais amados pelos caprianos, Do Céu Caiu Uma Estrela (que todos os anos, pelo Natal, passa em muitas cadeias da televisão americana) e Um Filho do Povo.

Os tempos, porém, mudaram e as suas fábulas cheias de bons sentimentos já não são aceites como eram, e os lucros não chegam para fazerem viver a companhia, O realizador independente que orgulhosamente tinha «o nome antes do título» (que será o título da sua autobiografia) regressa à «escravatura artística» ao assinar um contrato com a Paramout, que abandona ao cabo de dois filmes: Desejo e A Sorte Bate à Porta.

Em 1951 Capra é excluído de um projecto governamental devido a uma acusação de... «pró-comunista» a propósito do seu filme Um Filho do Povo. A reacção é rápida e eficaz, mostrando que em questões de energia Capra tinha ainda muito para dar. Um documento com 200 assinaturas (entre elas a de John Ford, seu amigo) e a sua actuação no Festival de Bombaim face à representação soviética, levam à sua reintegração. Mas Capra recusa o cargo e aceita a proposta da Bell Telephon System para realizar uma série educativa sobre ciência e energia para a televisão.

Aos 60 anos regressa a Hollywood para dirigir Frank Sinatra em Tristezas Não Pagam Dívidas (1959), e em 1961 dirige a sua última longa metragem, uma nova versão de Milionária por Um Dia agora intitulada Milagre por Um Dia, que acabou por se tornar um pesadelo para Capra enfrentando a arrogância e as interferências do actor, Glen Ford, O fracasso comercial do filme acabou por se reflectir na carreira de Capra que não pode concretizar qualquer dos projectos seguintes. 1964 é a data do seu último filme, uma curta metragem, Rendez-vous in Space, feita a pedido da «Martin-Marietta Corporation" para a Feira Mundial de Nova Iorque.

A partir de então Capra dedica o seu tempo a escrever a autobiografia que se torna um êxito de livraria ao ser publicada em 1971, e que se sucederam as retrospectivas e homenagens que culminaram em 1982 com a atribuição do «Ufe Achievement Award" do American Film Institute.

A influência de Capra foi, durante muito tempo, menosprezada, mas hoje (nos filmes que se fazem) verifica-se que ao lado de Ford e Hitchcock, são dele as marcas que mais se encontram na nova geração de cineastas, de Spielberg (Sempre) a Rob Reiner (Um Amor Inevitável).
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Filmografia

Como argumentista e «gagman» Inclui projectos não realizados ou em que foi substituído por outros realizadores. Alguns autores indicam que Capra terá participado nos argumentos dos seguintes filmes da série "Ou r Gang» de Hal Roach:
1924High Society;
             The Sun Down Limited;
             Every Man for Himself;
             Fast Company;
             The Mysterious Mystery;
             The Big Town;
             Official Officers;
             Mysterious Mystery;
             The Big Town;
             Official Officers.
1925 – A Wild Goose Chaser, de Lloyd Bacon (primeiro filme em que Capra é creditado no
             genérico);
             Plain Clothes, de Harry Edwards;
             Breaking the Ice;
             The Marriage Circus, de Reggie Morris e Ed Kennedy;
             Good Morning Nurse
!, de Dei Lord;
             Super-Hooper-Dyne Lizzies, de Dei Lord;
             His First Flame, de Harry Edwards (primeira, e única, longa metragem de Harry Langdon
             para Sennett); Cupid's Boots, de Ed Kennedy;
             Lucky Stars, de Harry Andrews.
1926 – Saturday Afternoon, de Harry Andrews;
             The Soldier Man, de Harry Edwards;
             Tramp, Tramp, Tramp, de Harry Edwards (primeiro filme independente de Harry Langdon.
             Capra afirma ter realizado algumas cenas).
1928 – The Swim Princess, de AI
f Goulding;
             The Burglar, de Phil Whitman.
1933 – Soviet (argumento escrito mas não realizado, por recusa de Louis Mayer que queria opor-se
             ao "wonder boy» Irving Thalberg).
1934 – Frisco Fury (projecto abandonado). 1935 Valley Forge (Peça de Maxwell Anderson. Projecto
             abandonado que Capra procurou em vão retomar nos anos 60). 1938 The life of Chopin
             (projecto abandonado já em pré-produção). 1941 Tomorrow Never Comes (projecto
             substituído por Arsenic and Old Laces, e que terá inspirado It Happened Tomorrow
             (Aconteceu Amanhã), de René Clair).
1945 – The Flying Yorkshire man /Romance de Eric Knighl. Projectado para ser o segundo filme de
             Capra na Liberty Films, depois de It's a Wonderful Life. Abandonado);
             No Other Man (Romance de Alfred Noyes. Abandonado);
             It Happened on Fifth Avenue (Abandonado. Foi filmado em 1947 por Roy de
l Ruth com o
             mesmo titulo, Em português: Aconteceu na 5.ª Avenida);
             Pioneer Woman (Argumento escrito mas Capra não o pode filmar por falência da Liberty
             Film. William Wellman retoma-o em 1951 com o título Westward The Women
Caravana
             de Mulheres).
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1947 – Friendly Persuasion (Adaptação do romance de Jessamyn West. Projecto abandonado, mais
              tarde filmado por William Wyler: Sublime Tentação, 1956).
1948 – Roman Holiday (Projecto abandonado. Filmado por William Wyler em 1953: Férias em
             Roma); A Woman of Distinction (Projecto abandonado. Filmado por
Edward Buzzell em
             1950: O Homem Que As Convence).
1957 – Joseph and his Brethren (Adaptação do romance the Thomas Mann, «José e os Irmãos".
             Projecto abandonado por morte do produtor Harry Cohn).
1959 – The Jimmy Durante Story (Capra trabalhou no argumento sugerido por Sinatra, mas a
             produção foi interrompida por desacordo entre os dois).
1960 – The Best Man (Peça de Gore Vida!. Projecto abandonado por desacordo com o autor,
             Filmado em 1964 por Franklin Schaffner: O Candidato).
1962 – Circus (Capra foi afastado por desacordo de Samuel Bronston. Substituído por Henry
             Hathaway. Título do filme: Circus World - O Mundo do Circo, 1963). 1964 Marooned (Projecto
            abandonado. Filmado por John Sturges em 1969: Perdidos no Espaço),

Como realizador
(NB: Capra foi geralmente produtor dos seus filmes a partir da entrada para a Columbia, e participou sempre na elaboração dos argumentos, mesmo não creditado no genérico, quando não foi o seu autor completo).

1922Fultah Fisher's Boarding House (Curta metragem, também conhecida com o titulo: The
            Ballad of Fisher's Boarding House).
1926The Strong Man (Atleta à Força), com Harry Langdon.
1927 –  Long Pants (Calças Compridas), com Harry Langdon.
1928For lhe Love of Mike (Os Três Pais), com Claudette Colbert; That Certain Thing, com Viola Dana e Ralph Graves – Primeiro filme de Capra para Columbia; So This is Love, com Shirley Mason; The Matinee Idol, com Mitchell Lewis; Say It With Sables, com Helene Chadwick; Submarine (O Mergulhador), com Jack Holt e Ralph Graves; The Power of the Press, com Douglas Fairbanks Jr,
1929The Younger Generation, com Ricardo Cortez; The Donovan Affair, com Jack Holt; Flight, com Jack Holt e Ralph Graves.
1930Ladies of Leisure (na RTP: Damas do Prazer) – Primeiro filme de Capra com Barbara Stanwick; Rain or Shine, com Louise Fazenda.
1931Dirigible (O Dirigível), com Jack Holt e Ralph Graves; The Miracle Woman, com Barbara Stanwick; Platinum Blonde, com Jean Harlow – Primeira colaboração de Capra com Riskin (NB: Riskin fora o co-autor da peça de onde foi adaptado The Miracle Woman).
1932Forbidden (O Seu Grande Amor), com Barbara Stanwick; American Madness (Loucura Americana) – Primeiro Filme de Capra sobre a «Depressão".
1933The Bitter Tea of General Yen (A Grande Muralha) – O filme escolhido para inauguração do Radio City Music Hall, de Nova Iorque; Lady For a Day (Milionária por Um Dia) – Primeira Nomeação de Frank Capra para o óscar de melhor realizador.
1934It Happened On Night (Uma Noite Aconteceu), com Clark Gable e Claudette Colbert. Primeiro Óscar para Frank Capra. O filme recebeu mais $: Melhor filme, argumento, e interpretações masculina e feminina; Broadway BiII (Derradeira Vitória), com Warner Baxter e Myrna Loy.
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1936Mr. Deeds Goes to Town (Doido com Juízo), com Gary Cooper e Jean Arthur. Segundo óscar para Capra. Nomeado também para melhor filme, argumento e actor (Cooper).
1937Lost Horizon (Horizonte Perdido); com Ronald Colman. Capra afirma que a versão integral do filme era de 3 horas. 7 nomeações para os óscares (ganha os de direcção artística e montagem). Pela primeira um genérico coloca o seu «name above lhe title», que será o título da sua autobiografia.
1938You Can't Take it With You (Não o Levarás Contigo), com James Stewart e Jean Arthur. Terceiro óscar para Frank Capra. Conquistou também o de melhor filme, e foi nomeado para mais 5 (argumento, fotografia, actriz secundária, montagem e som).
1939Mr. Smith Goes do Washington (Peço a Palavra), com James Stewart e Jean Arthur – Nomeado para 11 óscares (Capra de novo), mas apenas ganhou o do melhor argumento.
1941Meet John Doe (Um João Ninguém), com Gary Cooper e Barbara Stanwick – Primeira produção independente de Capra, associado com Riskin.
1941Arsenic and Old Laces (O Mundo é um Manicómio), com Gary Grant e Priscilla Lane – O filme foi realizado 1944 em 1941, mas nos termos do contrato do Estúdio (Warner) com o autor da peça, só foi estreado em 1944.

1942 – Série de documentários de guerra dirigidos e/ou supervisados por Capra. Indicam-se os outros realizadores.
Prelude To War (Série «Why We Fight? – Porque Lutamos), produzida pelo US War Department – óscar para o melhor documentário.
1943The Nazis Strike (Série «Why We Fight?»); Divide and Conquer (Série «Why We Fight?»), cor; Anatole Litvak; Know Your AIly: Britain, de Anthony Veiller; The Battle of Britain Série «Why We Fight?»), de Anthony Veiller; The Battle of Russia (Série «Why We Fight?»), de Anatole Litvak – Nomeado para o óscar do melhor documentário.
1944The Negro Soldier, de Stuart Heisler; The Battle of China (Série «Why We Fight?»), cor: Anatole Litvak; Tunisian Victory, cor: Hugh Stewart.
1945War Comes to America (Série «Why We Fight?»), de Anatole Litvak; Here Is Germany (Série «Know Your Enemy»); Know Your Enemy: Japan (id), cor: Edgar Peterson, Gari Foreman, John Huston, Joris Ivens e Howard Duff; Your Job in Germany, de Ted Geisel; Two Down, One To Go.
1946It's a Wonderful Life (Do Céu Caiu Uma Estrela), com James Stewart e Donna Reed. Primeiro Filme de Capra para a sua companhia independente «Liberty Films». Cinco nomeações para os óscares (de novo para Capra também). Apenas ganhou o de melhor som.
1948State of the Union (Um Filho do Povo), com Spencer Tracy e Katharine Hepburn – Segundo e último filme da «Liberty Film».
1950Riding High (Desejo), com Bing Crosby – Capra sob contacto com a Paramouth – Segunda versão de «Broadway Bill» (1934).
1951Here Comes the Groom (A Borte Bate à Porta), com Bing Crosby – óscar para melhor canção.
1956Our Mr. Sun – Documentário para as «Bell System Science Series».
1957Hemo The Magnificent – Documentário para as «Bell System Science Series»; The Strange Case of the Cosmic Rays – Documentário para as «Bell System Science Series».
1958The Unchained Goddess – Documentário para as «Bell System Science Series».
1959A Hole in the Head (Tristezasd Não Pagam Dívidas), com Frank Sinatra – óscar para a melhor canção.
1961Pocketful of Miracles (Milagre Por Um Dia), com Belle Davis e Glen Ford – Segunda versão de Lady for a Day (1933).
1964Rendez-vous in Space – Curta metragem para exibição na Feira Mundial de Nova Iorque (1963).
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Bibliografia
Sobre Frank Capra
Bergman, Andrew - «We're in the Money. Depression America and Its Films». New Vork 1972.
Bohn, Thomas - «An Historical and Descriptive Analysys ofthe Why We Fight Series». New Vork, 1977. Bohnenkamp, Dennis (com Sam Grogg) - «Frank Capra Study Guide». Washington DC 1979.
Capra, Frank - «The Name Above the Title» (autobiografia). New Vork, 1971. Tradução francesa in «Ramsay de Poche". Tradução portuguesa a publicar em breve (Cinemateca Portuguesa).
Cieutat, Michel- «Frank Capra». França: «Rivages-Cinema".
Glatzer, Richard (com John Raeburn) - «Frank Capra: The Man and His Films". Ann Arbor, 1975.
Griffith, Richard - «Frank Capra». Londres, 1951.
Maland, Charles - «Frank Capra». Boston 1980.
Poague, Leland - «The Cinema of Frank Capra: An Approach to Film Comedy». New Jersey, 1975. Scherle, Victor (com William Levy) - «The Films of Frank Capra». Secaucus. New Jersey, 1977.
Silke, James - «Frank Capra: One Man, Ine Film». Washington DC 1971.
Willis, Donald - «The Films of Frank Capra». Metuchen, New Jersey, 1974.
Wolfe, Charles - «Frank Capra: a Guide to References and Resources». Boston, 1987 (obra fundamental para o estudo de Capra, pois é um exaustivo guia de tudo o que se escreveu sobre o realizador.
Encontram-se também publicados os argumentos de «It Happended One Night» (Galand Publishing New Vork, 1977); «/t's a Wonderful Life» (Knopf, New Vork, 1986); «Lady for a Day» (Garland Publishing New Vork, 1978); «Mr. Smith Goes to Washington» (Garland Publishing New Vork, 1977) e «You Can't Take It With You» (Pitman Publishing Corp, 1939)
Podem-se ler com previsto muitos artigos publicados em revistas, de que se destacam: «Interview, Junho de 1972» (entrevista com Capra); «Focus on Film» (n.º 27); «Positif n.' 133,208/9,210,317/8» (especiais Capra); «Film Comment» Fev. 1977: «American Film» Maio 1980. Etc.

Sobre Mr. Deeds Goes to Town
Todas as biografias de Capra (e a sua autobiografia) falam abundantemente deste filme. Para além disso destacam-se «Frank Capra et le cinema du populisme", por Jeffrey Richards, in «Positif 133", e «Capraland", de Christian Viviani em Positif 317". / 22 /
 

Imagens de «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.

Os actores

Gary Cooper


Quando Gary Cooper entra para a «família» capriana já tem atrás de si vários anos de carreira e alguns êxitos comerciais, com destaque para Lanceiros da Índia, de Henry Hathaway (1935), e uma imagem criada em filmes como Marrocos, de Joseph Von Sternberg (1930), O Adeus Às Armas, de Frank Borzage (1932), A Vida é o Dia de Hoje, de Howard Hawks (1933). Todos os autores de génio que souberam, como poucos, tirar partido da sua figura. O seu percurso de vedeta iniciara-se já durante o cinema mudo, participando como secundário em vários filmes de êxito como Asas, de William Wellman e A Flor do Deserto de Henry King. Mas é indubitável que a verdadeira imagem de Gary Cooper só se manifesta inteiramente a partir de Doido Com Juízo. Para o melhor ou para o pior, a partir daí os seus papéis foram uma permanente variação da personalidade criada por Capra e Riskin: a do americano idealista que afirma a sua independência e o cumprimento de uma missão, certo de ter a justiça e a razão do seu lado. Pode andar pelas areias do deserto (Beau Geste), pelas selvas das ilhas do pacifico (Pelo Vale das Sombras), na selva de asfalto como um dos seus obreiros (Vontade Indómita) ou vestir, o que é mais frequente, o traje de cowboy (Uma Aventura de Buffalo BiII, Os Sete Cavaleiros da Vitória, Aí Vem Ele, A Paz Voltou à Cidade, O Comboio Apitou 3 Vezes), o que vemos é sempre uma variação das ideias e comportamentos de Longfellow Deeds: generoso, meio ingénuo, tímido e teimoso, capaz de uma energia insuspeitada quando despertada. Só fez dois filmes com Frank Capra, Doído Com Juízo e Um João Ninguém, mas é talvez mesmo mais do que James Stewart, o herói capriano por excelência.

Viveu 60 anos, de 1901 a 1961, este que muitos consideram o maior actor americano de sempre, e ao longo de uma carreira de quase 40 anos nunca perdeu esse olhar límpido e transparente, testemunhando de uma inocência e de uma fé que o cinema parece ter perdido. Imagem que Capra desenhou e que se encontra nos dois filmes em que Gary Cooper ganhou o óscar de melhor actor: Sargento York e O Comboio Apitou 3 Vezes.
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Jean Arthur

Como Gary Cooper, Jean Arthur é a actriz capriana por excelência e, curiosamente, como o seu par neste filme em relação a James Stewart, também ela representa mais a imagem feminina de Capra do que Barbara Stanwick que trabalhou mais frequentemente com ele. De facto também Jean Arthur criou uma imagem que encontra a sua perfeita sintonia com a que Capra e Riskin imaginaram para ela. A única diferença em relação a Cooper talvez seja que ela já possui a essa imagem quando Capra a foi buscar, tornando-a mais efectiva e determinando a sua carreira futura. Para Capra fez 3 filmes (Doido Com Juízo, Não o Levarás Contigo e Peço a Palavra), Mas esta imagem capriana desenhava-se já de corpo inteiro em 1934 em Não Se Fala Noutra Coisa, realizado por John Ford, Director com quem começara a sua carreira em 1923 em Dama, Valete e Rei. A semelhança da personagem deve-se, naturalmente, à pena de Robert Riskin (autor também do argumento de filme de Ford) o que testemunha da influência do escritor na definição dos contornos do universo capriano, em particular nos seus filmes «sociais".

Nascida em 1905, Jean Arthur faleceu em 1991, mas encontrava-se já afastada dos ecrãs desde 1953, data do seu último filme, Shane, final perfeito para uma carreira em que surgiu como um dos modelos da mulher americana, no que tinha de energia para levar a cabo os seus objectivos: os papéis de jornalista (para Ford e Capra) ou de pioneira do Oeste (Uma Aventura de Buffalo Bill, Arizona, Shane). No mesmo ano de Peço a Palavra (1939) interpreta papel semelhante num dos mais míticos filmes americanos: Paraíso Infernal, de Howard Hawks.
 

Robert Riskin

Robert Riskin é uma figura incontornável quando se fala de Capra. De Loucura Americana a Um João Ninguém, com excepção de A Grande Muralha e Peço a Palavra, todos os filmes de Capra trazem no argumento a assinatura de Riskin, num total de oito. Mas o primeiro contacto entre os dois é anterior, pois teve lugar com o filme Platinum Blonde, para o qual Riskin escreveu os diálogos do argumento de Jo Swerling.

O nome de Riskin volta a encontrar-se em filmes posteriores (novas versões de filmes antigos: Desejo, segundo Derradeira Vitória; Milagre por Um Dia segundo Milionária por Um Dia). A importância de Riskin na criação do «Capra Touch" é um dado irrecusável porque em todos os filmes em que esse estilo é mais flagrante e conseguido trazem a dupla assinatura. Para além disso encontram-se muitos elementos desse universo em filmes que Riskin escreveu para outros realizadores (Não se Fala Noutra Coisa, de John Ford, A Cidade Mágica, de William Wellman e O Falsário 880, de Edmond Goulding).

Robert Riskin nasceu em 1897 e faleceu em 1955, tornando-se escritor depois da primeira grande guerra e argumentista em / 24 / Hollywood a partir de 1931 com o filme Men in Her Life de William Beaudine, começando a trabalhar com Capra no ano seguinte. Para além dos filmes indicados escreveu também os de A Profissão de Anna Carver, de Edward Buzzell, Carnival, de Walter Lang e Half an Angel, de Richard Sale. Ganhou o óscar para o melhor argumento com Uma Noite Aconteceu, e em 1937 fez uma incursão na realização, dirigindo um argumento seu: When You're in Love.

Imagem do filme «Doido com Juízo». Clicar para ampliar.


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Opiniões

«Mr. Deeds Goes to Town é por muitas razões o filme mais interessante da filmografia de Frank Capra. Antes de mais porque é aquele em que aparecem todos os temas fundamentais do cineasta, que são reunidos num discurso de lógica implacável, e é dividido em duas partes, de duração sensivelmente igual, uma cómica e outra dramática. Em seguida porque apresenta uma estética sem falhas, inteiramente fundada numa concepção simples e natural da expressão cinematográfica. E principalmente porque é interpretado pelo conjunto dos seus actores com uma justeza de tom raramente alcançada na história do cinema americano». – Michel Cieutat, in "Frank Capra» Ed. "Rivages I Cinema".

«Expondo de forma tão clara a generosidade, inocência e honestidade de Deeds contra a ganância, o cinismo e a duplicidade da cidade, Capra triunfa na sua ideia e faz o seu primeiro sermão da igreja ecuménica do humanismo». – Charles J. Maland, in "Frank Capra" "Twayne Publishers, Boston».

«Deeds é um dos mais sensíveis e encantadores dos filmes de Capra, da mesma forma que Longfellow Deeds é (com o Harry Carey de Peço a Palavra), um dos seus mais sensíveis e encantadores personagens, sendo o filme e a interpretação de Gary Cooper, uma das recordações mais perenes da audiência». – Raamon Carney, in "American Vision: The Films of Frank Capra» "Cambridge University Press".

«Quando Capra começou a sua série de apólogos sociais com Mr. Deeds Goes to Town, o seu herói clássico fez a sua aparição a Inocência, a determinação e a bondade inata do personagem de Langdon com o bom senso dos heróis citadinos precedentes. São perfeitas figuras de Lincoln-Cristo que vêm de «Smalltown», USA. Há neles um elemento de descomplexado infantilismo que reflecte a sua inocência... Não se encontra em qualquer outro filme tão repetidos ataques contra os intelectuais. Geralmente eles não aparecem pela simples razão de que não têm lugar no «mundo real» dos filmes de Capra». – Jelfrey Richards, in "Positif 133».

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«O começo de Doido com Juízo permanece como um modelo de expressão dramática e a cena do tribunal é de uma verde cáustica, cheia de humor e ironia. Mas o filme tornou-se insuportável pela sua incessante verborreia».  – Jeam Milry, in "Image et Son 69».

«O ritmo é perfeito, as sequências de um encanto e humor inesqueciveis, e a presença de Gary Cooper é tão impressionante como a de Jean Arthur é gratificante. Tudo funciona às mil maravilhas: mesmo os bons sentimentos. Ao vermos este filme sentimo-nos melhor». – Gérard Cohen, in «Dictionaire des Films" - Larousse.

«Sem qualquer dúvida é o filme mais puro no que diz respeito à forma como são expostos os sentimentos, a lógica humana e a simplicidade. Capra faz o processo do verdadeiro e do falso. Então a simplicidade atinge o sublime... Se esta obra abre uma nova série de filmes, lança também uma série que serão retomados e desenvolvidos com a mesma intensidade e o mesmo calor». – Olivier Gamble, in «Guide des Films», «Ed. Robert Laffont».

«Longfellow Deeds possui, completamente desenvolvidas, as características morais do herói capriano: o ideal do escutismo assumido, o sentimentalismo afirmado, a confusão entre o ideal político e o ideal humanitário. Em suma, é quase uma caricatura do americanismo que, à força de cliché, poderia tornar-se retórica... A mensagem de Longfellow Deeds é tanto um apelo à solidariedade como um encorajamento para se procurar de novo o espírito da infância». – Christian Viviani, in «Positif 317/8".

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Filmografia complementar e videografia
Para uma «leitura paralela» de Doido com Juízo. Indicam-se os que se encontram em edição videográfica. Para além dos restantes filmes da série «social» de Capra (Loucura Americana, Milionária por um Dia, Horizonte Perdido, Não o Levarás Contigo, Peço a Palavra, Um João Ninguém e Do Céu Caiu Uma Estrela) destacam-se:

O Adeus às Armas (A Farewell to Arms), de Frank Borzage (1932) (a figura de Gary Cooper), (possível edição videográfica em breve).
A Vida é Um Sonho (A Man's Castle), de Frank Borzage (1933).
Wild Boys on the Road, de William Wellman (1933).
Orgia Dourada (Gold Diggers of 1933), de Mervyn Le Roy e Busby Berkeley (1933).
O Pão Nosso de Cada Dia (Our Daily Bread), de King Vidor (1934).
Não se Fala Noutra Coisa (The Whole Town's Talking), de John Ford (1935).
Tempos Modernos (Modem Times), de Charles Chaplin (1936).
Na Grande Cidade (Big City), de Frank Borzage (1937).
As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath), de John Ford (1940).
O Mundo a Seus Pés (Citizen Kane), de Orson Welles (1941) - Edivídeo.
Aí Vem Ele, O Cavaleiro sem Medo (Along Came Jones), de Stuart Heisler (1945) (Uma espécie de Deeds no Oeste).
Vontade Indómita (The Fountainhead), de King Vidor (1949).
Milagre de Milão (Miracollo a Milano),.de Vittorio de Sica (1951).
Melvin and Howard, de Jonathan Demme (1980).
Um Lugar no Coração (Places in the Heart), de Robert Benton (1984).
O Rebelde Misterioso (Turk 182), de Bob Clark (1985)
Nova Iorque Fora de Horas (After Hours), de Martin Scorsese (1986) (Pela relação do indivíduo com a cidade).

Videografia

Frank Capra, um dos maiores realizadores americanos e autor de filmes de grande êxito comercial encontra-se praticamente ignorado ao nosso mercado videográfico, estando apenas editado outro filme, também indispensável: Uma Noite Aconteceu (Casablanca).
 

Ficha técnica

Manuel Cintra Ferreira

Colaborador da Cinemateca Portuguesa

Crítico do Jornal "Público".
 

Paginação e Grafismo

Cândida Teresa

Gabinete de Meios Técnicos e Materiais

da Direcção Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm


Edição

Secretaria de Estado da Reforma Educativa

 

Composto e impresso
 na Editorial do Ministério da Educação

Algueirão


Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012

 


   Ficha Técnica
    O Filme

    Sinopse

   Crítica

   Situação do filme na história do cinema

   Relações interdisciplinares

   O Realizador

   Filmografia

   Bibliografia

   Os actores

   Opiniões

    Filmografia complementar e videografia

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Actualizado em
20-04-2018