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1997-1998


Um mito Grego


Representação do Olimpo por Giovanni Battista Tiepolo (1693-1770), na qual se vê Zeus sentado numa nuvem, acompanhado de alguns deuses.

Na Antiguidade, os gregos tinham uma religião politeísta, ou seja, acreditavam em vários deuses. Atribuíam-lhes poderes sobrenaturais e reacções humanas.

Esses deuses, em número de doze, viviam no monte Olimpo, alimentavam-se de ambrósia e constituíam uma espécie de sociedade organizada. Acima de todos reinava Zeus, senhor do Universo. A sua mulher, deusa da fertilidade, chamava-se Hera.

Os filhos tinham cargos diferentes: Ares, deus da guerra; Hermes, deus do comércio; Apolo, deus da beleza, do Sol e das artes; Afrodite, deusa do Amor; Artemisa, deusa das florestas e da caça; Atena, deusa da inteligência.

Os irmãos de Zeus eram Hades, que comandava os Infernos, e Posídon, senhor dos mares.

À volta desta família divina havia outros deuses com as suas especialidades.

Tal como na Terra, também no Olimpo surgiam amores, ódios, paixões e brigas, que davam origem a histórias fascinantes e nas quais participavam, por vezes, os seres humanos.

Segundo a lenda, o rei Minos era filho de Zeus e de uma princesa fenícia de nome Europa.

 

MITO DE PERSEU

Medusa era a única mortal das três Górgonas, divindades monstruosas, filhas de Fórcis e de Ceto. As Górgonas tinham um só olho, asas, língua pendente, dentes enormes, serpentes em vez de cabelos e possuíam o poder de converter em pedra quem para elas olhasse.

Perseu tinha prometido ao rei de Sérifo a cabeça de Medusa. Enquanto as Górgonas dormiam, Perseu, auxiliado por Atena, conseguiu aproximar-se de Medusa e matou-a, cortando-lhe a cabeça.

Placa de terracota pintada, representando a Górgona Medusa (séc. VI a. C.)

As Greias, também designadas as Velhas, pois já assim nasceram, eram irmãs das Górgonas. Tinham apenas um olho, que utilizavam uma de cada vez, passando-o umas às outras. Quando Perseu empreendeu a árdua tarefa de matar Medusa, encontrou as Greias que velavam o sono das irmãs. Conseguiu tirar-lhes o único olho e, deste modo, aproximar-se da Medusa.

 

DÉDALO

«Dédalo era um homem diferente dos outros. Tinha ideias fantásticas. Quando havia um problema complicado para resolver ele pensava, pensava, acabando por descobrir uma solução que a todos parecia única e evidente.

As pessoas, admiradas, exclamavam:

— Como é que nunca ninguém se lembrou disto! Afinal era tão simples!

Foi por isso que o rei Minos, senhor da ilha de Creta, resolveu chamá-lo para lhe encomendar um serviço especial.

A rainha Pasifae, sua mulher, tinha-se apaixonado perdidamente por um touro. Desses amores nasceu um pequeno monstro, que era homem da cintura para baixo e touro da cintura para cima. Deram-lhe o nome de Minotauro.

Provavelmente, o rei Minas teria gostado de o matar e esquecer o assunto; mas não teve coragem. Vendo bem, aquele monstro era seu enteado. Que fazer? Pareceu-lhe que o ideal seria encerrá-lo numa prisão de onde fosse impossível escapar. Assim deixava-o ficar no reino, alimentava-o, mas não teria que suportar a sua presença.

Chamou então o famoso Dédalo e pediu-lhe que imaginasse uma tal prisão.

Dédalo não era homem para se encantar com soluções fáceis, do género «paredes grossas e grades nas janelas». Concebeu um labirinto, ou seja, um mundo de caminhos que se cruzavam e entrecruzavam, de modo que quem lá entrasse nunca mais saía.

O Minotauro foi encerrado no labirinto. Mas alimentá-lo é que não era fácil, posto que exigia carne humana.

Decidido a não sacrificar os súbditos aos apetites do enteado, o rei exigiu à cidade de Atenas um tributo pavoroso: de nove em nove anos, tinham que enviar sete raparigas e sete rapazes para saciar o Minotauro. Caso falhassem, invadia e destruía a cidade de Atenas.

De nove em nove anos os atenienses juntavam-se no porto para verem embarcar os catorze jovens condenados à morte. Choravam de tristeza e, no mastro, hasteavam uma vela preta, em sinal de luto.

Certo dia, porém, entre os rapazes escolhidos partiu o filho do rei de Atenas, que era belo como um Sol. Chamava-se Teseu. O povo adorava-o e considerava-o um herói.

Teseu jurara ao pai, em grande segredo, que havia de matar o monstro devorador de gente...

E a sorte sorriu-lhe porque, quando as vítimas desfilavam perante os habitantes de Creta, a filha do rei, Ariadna, apaixonou-se por ele.

Desesperada, procurou Dédalo e pediu-lhe por tudo que o salvasse.

Mais uma vez o arquitecto encontrou uma solução tão simples que Ariadna não resistiu a

comentar:

— Como é que nunca ninguém se lembrou disso?

De facto, o instrumento que permitia fugir do labirinto não tinha nada de misterioso. Era

um simples novelo. Teseu devia atar uma ponta à entrada e ir desenrolando o fio pelo caminho.

Quando quisesse voltar para trás, já não se perdia.

O rapaz assim fez. Seguro de que não ficaria para sempre naqueles caminhos cruzados, foi em busca do Minotauro.

A sorte sorriu-lhe! O monstro estava a dormir.

Teseu matou-o, salvou os companheiros, saiu do labirinto e, levando consigo Ariadna, embarcou para Atenas.

Claro que Minos ficou furioso. Quem poderia ter ensinado os atenienses a escapar do labirinto? Só Dédalo, o arquitecto.

Para o castigar, atirou-o lá para dentro, juntamente com o seu filho, Ícaro. Este, aflitíssimo. reclamou:

— E agora? Ficamos aqui enfiados nesta prisão que teve a triste ideia de inventar?

Dédalo sorriu.

— Não. O rei decerto mandou vigiar as saídas que dão para o mar e para a terra. Mas o ar e o céu estão livres. Vou construir umas asas para mim e outras para ti. Escaparemos voando.

O rapaz ficou delirante. Voar? Que maravilha!

Sem qualquer dificuldade, executaram o plano. Antes de partirem, o pai preveniu:

— Tem cuidado, Ícaro. Não voes alto de mais!

— Porquê?

— Porque as asas estão coladas com cera. Se te aproximares muito do Sol, o calor derrete a cera e as asas soltam-se.

Ele concordou e lá foram. Mas a sensação de voar era tão estonteante que Ícaro depressa esqueceu as recomendações e subiu... subiu... subiu...

Tal como Dédalo previra, a cera derreteu.

Pobre Ícaro! Caiu ao mar e morreu afogado.

Desgostoso, o pai seguiu para outra ilha do Mediterrâneo, a Sicília, onde foi muito bem acolhido pelo rei.

Mínos perdeu-lhe o rasto mas não desistiu da vingança.

Sabendo que ele não resistiria a um desafio que pusesse à prova a sua inteligência, arranjou um estratagema para o localizar. Anunciou que daria grande recompensa a quem conseguisse passar um fio por dentro de um búzio.

Dédalo resolveu a questão. Fez um pequeno orifício no búzio, atou o fio a uma formiga e introduziu-a lá dentro com muito cuidado. Depois tapou a entrada.

A formiga percorreu a espiral do interior do búzio no seu passinho vagaroso e paciente, e saiu pelo outro lado, arrastando a linha minúscula.

Orgulhoso, o rei da Sicília anunciou que o problema fora resolvido.

Mínos avançou então para lá com os seus exércitos para exigir que lhe entregassem o malfadado arquitecto. Mas o rei da Sicília recusou.

Houve guerra. A luta foi terrível e Mínos pagou cara a sede de vingança, porque morreu no campo de batalha.

Dédalo continuou a viver na Sicília, rodeado de carinho e admiração.» (1)
 

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(1) Texto extraído de: Alçada, Ana Maria Magalhães e Isabel – Histórias e Lendas da Europa, 1997.

 

BIBLIOGRAFIA

BELLINGHAM, David – Introdução à Mitologia Grega. Lisboa, Editorial Estampa, 2000, 128 págs.

PINSENT, John – Mitos e Lendas da Grécia Antiga. São Paulo, Edições Melhoramentos, Ed. da Universidade de São Paulo, 1976, 160 págs.


 

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