Com um espólio secular, o Museu da
Escola Secundária de José Estêvão, em Aveiro, tem passado despercebido
aos próprios alunos, sempre de portas fechadas, desaproveitado e sem
qualquer tipo de divulgação. Inconformada, uma professora de Geologia
lançou o repto e com um grupo de alunos foi criado o Clube do Museu. De
cara lavada, mais acessível e revitalizado, o Museu começou uma vida
nova que promete.
Se há escolas que «choram» por não ter
um espaço adequado para constituição de um Museu, na Escola Secundária
de José Estêvão a situação é inversa. O Museu existe, há décadas, mas a
sua divulgação e aproveitamento pedagógico é tão escasso e ocasional,
que passa despercebido à comunidade escolar. São os próprios alunos que
frequentam o liceu durante anos seguidos a confessarem o seu
desconhecimento pela existência do Museu. E se uns não se importam com
isso, nem sentem falta de um espaço com estas características, muitos
outros nem queriam acreditar quando ouviram dizer que a escola tinha um
Museu, só que pouco (ou nada) vitalizado. E rapidamente surgiu a vontade
de se juntarem e quererem mudar o rumo das coisas.
«Um espaço desta natureza só se torna
vivo se receber visitantes, se o seu espólio foi apreciado e apreendido
pelos estudantes e não é isso que tem acontecido», explicou Maria Luísa
Fonseca, professora de Geologia no liceu José Estêvão e autora do repto
que, incentivou um grupo de alunos a «fazerem alguma coisa pelo Museu e
salvá-lo do marasmo a que está condenado há décadas».
Não foi difícil passar-se da teoria à
prática e o trabalho do grupo, composto por cerca de dez alunos e
professora, teve início em Outubro do ano passado. No topo das
prioridades foi posta a necessidade de dar a conhecer o Museu,
primeiramente entre a comunidade escolar e depois entre a comunidade
aveirense, que também é bem vinda àquele espaço. O passo seguinte foi
constituir o Clube do Museu, onde alunos, professores, funcionários e
população em geral podem trocar impressões, organizar eventos culturais
e educativos, ao mesmo tempo que estimulam às potencialidades
pedagógicas do Museu do liceu e preenchem saudavelmente o tempo livre
disponível, fortalecendo os laços entre a escola e a comunidade que a
envolve. Helena Abreu é uma das alunas do 12.º B que aderiu ao projecto
e mostra-se muito satisfeita com o trabalho que já foi feito, «começamos
por programar actividades para este ano que envolvessem o espaço físico
do Museu, de modo a atrair as pessoas e despertar o seu interesse e a
primeira iniciativa já está patente.» Trata-se de uma exposição
subordinada ao tema «A pedra e os mitos» e consta de vários desenhos e
gravuras, complementadas com textos e até uma mini-feira de pedras e
rochas, à venda por preços atraentes. Para o mês que vem, dia 25, é
tempo do «Silício, esse elemento espantoso» inspirara preparação de mais
uma exposição, também esta tendo por base trabalhos realizados pelos
alunos e em Maio e Junho decorre a exposição «Admirável mundo velho».
Vitrinas cheias de curiosidades
Um trabalho de grupo que só é possível
graças à muita vontade revelada pelos alunos e professora, que concedem
a este projecto o (pouco) tempo livre que fica entre as aulas, o período
de estudo e actividades extracurriculares. Até a vigilância do Museu no
período de abertura ao público está a cargo do Clube, que divide entre
os seus elementos a tarefa de acompanhar os visitantes. Uma tarefa que,
lamentavelmente, não tem acontecido com a sequência que seria desejável.
«Embora saibamos que o Museu começou a ser revitalizado há pouco tempo,
ainda não é muito conhecido e também não é um espaço por excelência,
muito apetecido para as camadas mais jovens. A verdade é que gostávamos
de ver mais visitantes por cá», lamentou Marta Nunes, também do 12.º B,
uma opinião partilhada também pelos alunos do 10.ºA e 7.º
Mas, à parte das iniciativas que possam
acontecer no Museu ou com ele relacionadas, o Clube do Museu realça a
importância e valor que o Museu constitui por si só. É composto por um
espólio secular, reunido ao longo dos anos, oferecido por alunos,
professores ou particulares, que procuraram contribuir para o
enriquecimento do património cultural da escola. A primeira oferta data
do século passado, 1899, e consta de uma grande concha de um molusco da
região e dois cascos com exemplares conservados de uma espécie de peixe
de água salgada próprios da zona. Mas não é tudo. O Museu tem ainda para
«oferecer» a quem o visita numerosos exemplares de aves embalsamadas e
borboletas, exemplares da fauna portuguesa e tropical, e uma vasta
colecção de conchas, minerais, rochas e fósseis. São vitrinas e estantes
repletas de pontos de interesse, muitos deles nunca antes vistos, como é
o caso de uma ossada de cabeça de elefante, ainda com dois longos dentes
de marfim agarrados, uma vértebra e uma parte do maxilar de baleia, que
mais parece um tronco de árvore entre vários répteis conservados em
líquido.
Para facilitar a relação entre a escola
e a comunidade e promover o intercâmbio de ideias e informações, é uma
das intenções do Clube do Museu formar um grupo de Amigos, onde podem
participar pessoas exteriores à Escola.
Além das exposições, a programação do
Clube do Museu, que se integra nas actividades de complemento
curricular, conta ainda com a palestra «A Origem do Homem Moderno»,
marcada para as 15:30 do dia 18 de Fevereiro, uma sessão de poesia no dia
16 de Março, com início marcado para as 21:30 e a Sessão Cultural «Uma
tarde no Museu», dois dias depois, a começar pelas 14:30.
In: “Diário de Aveiro”, 23/1/1998, pág.
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