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1997-1998


ESQUECIDO HÁ DÉCADAS
Alunos da José Estêvão recuperam Museu

   
 

Durante décadas «esteve calado e quieto». Repleto de pontos de interesse, como o osso do maxilar de baleia na foto, o Museu da Escola Secundária José Estêvão só agora conhece a luz do dia e a alegria de ser visitado. Uma tarefa assumida pelo Clube do Museu, recentemente criado, e composto por alunos de vários anos e uma professora de Geologia. A Eliana Sá,. Tânia Vieira, Joana Bento e Marta Nunes são alunas do 12.º B que estão empenhadas na revitalização e valorização pedagógica deste espaço. Página 5.

 

ESQUECIDO NA JOSÉ ESTÊVÃO

Alunos e professora «ressuscitam» Museu

Com um espólio secular, o Museu da Escola Secundária de José Estêvão, em Aveiro, tem passado despercebido aos próprios alunos, sempre de portas fechadas, desaproveitado e sem qualquer tipo de divulgação. Inconformada, uma professora de Geologia lançou o repto e com um grupo de alunos foi criado o Clube do Museu. De cara lavada, mais acessível e revitalizado, o Museu começou uma vida nova que promete.

Se há escolas que «choram» por não ter um espaço adequado para constituição de um Museu, na Escola Secundária de José Estêvão a situação é inversa. O Museu existe, há décadas, mas a sua divulgação e aproveitamento pedagógico é tão escasso e ocasional, que passa despercebido à comunidade escolar. São os próprios alunos que frequentam o liceu durante anos seguidos a confessarem o seu desconhecimento pela existência do Museu. E se uns não se importam com isso, nem sentem falta de um espaço com estas características, muitos outros nem queriam acreditar quando ouviram dizer que a escola tinha um Museu, só que pouco (ou nada) vitalizado. E rapidamente surgiu a vontade de se juntarem e quererem mudar o rumo das coisas.

«Um espaço desta natureza só se torna vivo se receber visitantes, se o seu espólio foi apreciado e apreendido pelos estudantes e não é isso que tem acontecido», explicou Maria Luísa Fonseca, professora de Geologia no liceu José Estêvão e autora do repto que, incentivou um grupo de alunos a «fazerem alguma coisa pelo Museu e salvá-lo do marasmo a que está condenado há décadas».

Não foi difícil passar-se da teoria à prática e o trabalho do grupo, composto por cerca de dez alunos e professora, teve início em Outubro do ano passado. No topo das prioridades foi posta a necessidade de dar a conhecer o Museu, primeiramente entre a comunidade escolar e depois entre a comunidade aveirense, que também é bem vinda àquele espaço. O passo seguinte foi constituir o Clube do Museu, onde alunos, professores, funcionários e população em geral podem trocar impressões, organizar eventos culturais e educativos, ao mesmo tempo que estimulam às potencialidades pedagógicas do Museu do liceu e preenchem saudavelmente o tempo livre disponível, fortalecendo os laços entre a escola e a comunidade que a envolve. Helena Abreu é uma das alunas do 12.º B que aderiu ao projecto e mostra-se muito satisfeita com o trabalho que já foi feito, «começamos por programar actividades para este ano que envolvessem o espaço físico do Museu, de modo a atrair as pessoas e despertar o seu interesse e a primeira iniciativa já está patente.» Trata-se de uma exposição subordinada ao tema «A pedra e os mitos» e consta de vários desenhos e gravuras, complementadas com textos e até uma mini-feira de pedras e rochas, à venda por preços atraentes. Para o mês que vem, dia 25, é tempo do «Silício, esse elemento espantoso» inspirara preparação de mais uma exposição, também esta tendo por base trabalhos realizados pelos alunos e em Maio e Junho decorre a exposição «Admirável mundo velho».


Vitrinas cheias de curiosidades

Um trabalho de grupo que só é possível graças à muita vontade revelada pelos alunos e professora, que concedem a este projecto o (pouco) tempo livre que fica entre as aulas, o período de estudo e actividades extracurriculares. Até a vigilância do Museu no período de abertura ao público está a cargo do Clube, que divide entre os seus elementos a tarefa de acompanhar os visitantes. Uma tarefa que, lamentavelmente, não tem acontecido com a sequência que seria desejável. «Embora saibamos que o Museu começou a ser revitalizado há pouco tempo, ainda não é muito conhecido e também não é um espaço por excelência, muito apetecido para as camadas mais jovens. A verdade é que gostávamos de ver mais visitantes por cá», lamentou Marta Nunes, também do 12.º B, uma opinião partilhada também pelos alunos do 10.ºA e 7.º

Mas, à parte das iniciativas que possam acontecer no Museu ou com ele relacionadas, o Clube do Museu realça a importância e valor que o Museu constitui por si só. É composto por um espólio secular, reunido ao longo dos anos, oferecido por alunos, professores ou particulares, que procuraram contribuir para o enriquecimento do património cultural da escola. A primeira oferta data do século passado, 1899, e consta de uma grande concha de um molusco da região e dois cascos com exemplares conservados de uma espécie de peixe de água salgada próprios da zona. Mas não é tudo. O Museu tem ainda para «oferecer» a quem o visita numerosos exemplares de aves embalsamadas e borboletas, exemplares da fauna portuguesa e tropical, e uma vasta colecção de conchas, minerais, rochas e fósseis. São vitrinas e estantes repletas de pontos de interesse, muitos deles nunca antes vistos, como é o caso de uma ossada de cabeça de elefante, ainda com dois longos dentes de marfim agarrados, uma vértebra e uma parte do maxilar de baleia, que mais parece um tronco de árvore entre vários répteis conservados em líquido.

Para facilitar a relação entre a escola e a comunidade e promover o intercâmbio de ideias e informações, é uma das intenções do Clube do Museu formar um grupo de Amigos, onde podem participar pessoas exteriores à Escola.

Além das exposições, a programação do Clube do Museu, que se integra nas actividades de complemento curricular, conta ainda com a palestra «A Origem do Homem Moderno», marcada para as 15:30 do dia 18 de Fevereiro, uma sessão de poesia no dia 16 de Março, com início marcado para as 21:30 e a Sessão Cultural «Uma tarde no Museu», dois dias depois, a começar pelas 14:30.

In: “Diário de Aveiro”, 23/1/1998, pág. 5.

 

 

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