18/10/07

 

I

 

Portugal: Uma pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.

 

Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os mundos das outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

 

 

II

 

Amo o Mundo, fechando-me dentro de mim própria…

 

Não há espaços que nos absorvam nos caminhos da Vida e que à Morte não nos conduzam….

 

Vivemos…Estamos…Caminhamos…em que direcção? Não o sabemos. Mas, algum Destino nos guia…

 

Somos o que somos. Não mais do que somos.

 

Amamos, odiamos, sentimos… Somos humanos.

 

A morte faz-se e desfaz-se, em cada pedaço de Vida…

 

Sorrio, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos…

 

Resta-nos pensar o Infinito…

 

Não temos Vida. Vamos vivendo. Não temos esperança. Permanecemos expectantes…

 

Suamos por todos os poros o que a Vida não nos dá.

 

Permanecemos nos rodeios da Vida, com indeléveis marcas de esperança.

 

Não posso esperar que o Mundo venha ter comigo… Vou ter com o Mundo…

 

A inocência não é sinónimo de infantilidade. Mas, tão-só, da Pureza da Alma.

 

O Amor arde, queima, corrói… Sobressalta os corações, sempre na expectativa de um outro amanhecer…

 

Os amantes são sôfregos.

 

O Amor entusiasma. Leva os corações para uma outra idade.

 

As gerações são como um ciclo, em perpétuo ou eterno retorno…

 

Há almas que fazem transparecer o hálito opaco dos corpos imundos…

 

Cogitar o impossível. A maior satisfação do Ego.

 

O Mundo, em perpétuo movimento, mantém-se sob a corda bamba do equilibrista.

 

Movemo-nos no espaço incerto do Universo comunicacional. Sempre presentes e ausentes de todos os auditórios.

 

Passamos ao lado dos outros. Não os vemos. Vemo-nos a nós mesmos.

 

 

 

III

 

Assumir, convictamente, a identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, mergulhadas no espaço camaliónico das “diferenças” impostas, improvisadas, por esta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum.

 

Pura hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza, intrínseca à essência de um Mundo, a que já não pertencemos mais.

 

Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do “des-equilíbrio” dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos homens que clamam o Paraíso perdido?

 

O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, desnorteada, que hoje somos.

 

Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzle, o puzzle universal, onde já não se encaixam mais.

 

Somos mero pó em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.

 

Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais.

 

Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irrascíveis e concupiscentes.

 

Erramos, navegamos pelos espaços infinitos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.

 

Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.

 

Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico, quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, camuflados com o meio, que já não é mais natural.

 

Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.

 

Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é esta, “des-veladora” de todas as misérias? Que racionalidade é esta “re-veladora” da massa indigente das gentes vagueantes?

 

 

IV

 

 

Convivo com o Mundo dentro de mim própria. Basta-me.

 

 

A “Paz Perpétua” reina dentro de mim. Conquistei a felicidade.

 

 

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Última actualização
09-04-2019