Hierarquia superior

Amo o Sol

 

Amo o Sol

Tudo o que brilha

Numa intensa e vã agonia

 

As palavras soltam-se

Da minha boca

Como dados certeiros

 

Aos homens se dirigem

Visam o seu rosto

Dependurado na face do mistério

Nos terrores da guerra

Na s faces sanguinárias

De todos os opressores

Nos medos das gentes

Acabrunhadas

Maltratadas

Em nome de um tal dito progresso

 

Amo a Lua

E as suas diversas caras

As caras de todos os outros

Escondidas noutras faces

Ocultas

Veladas

Pesadas

Por vezes,

Serenas…

Marcadas pelas cicatrizes da vida

Que nada perdoa

Amarga e doce

Com espinhos

Aveludadas pétalas

Envolventes do nosso ser-aí

Inquietante

Medonho

Ordinário e Extra-ordinário

Descomunal

Vil

Monstruoso e pacificante…

 

Amo a Criatividade

Originalidade

De animais castradores…

 

A morte do outro

Apraz-nos bem

Engrandece o Ego

Sempre em busca de auto-satisfação

Mesmo que seja com a desgraça dos outros…

 

Quem disse que o homem

Nasce naturalmente bom?

 

Quanta ilusão

Quanta alucinação

 

Aparência,

Aparência da aparência…

 

O brilho de Apolo

Contra a lucidez dionisíaca

O imenso

A embriaguez

O instinto

O hiperbólico

A grandiosidade

Do “crescendo”

De todo o acto de criação…

 

Não

O artista não é um imitador

A arte não é mimesis

A arte dá-se no desflorar da verdade

No brilho da sua adveniência

Que é o Belo

 

Na plena libertação dos sentidos

E do sentir…

 

È matéria e forma

Talento e génio

O dizível e o indizível

O latente e o manifesto

O in-habitual

Uma outra mundividência

Que nos aliena do quotidiano

 

Uma dádiva epifânica

Que aí se mostra

E sempre nos fala

Do íntimo

Das coisas-mesmas

Sempre tão próximas….

Sempre tão distantes…

 

Amo a Arte

A mais nobre invenção do espírito humano

Que a si tudo chama,

Clama…

Canta…

Eterniza

Epifaniza

 

Na mostração de um tempo outro

O artista dá-se

Na sua identidade

Iluminatória

 

Um ente hábil

Que tudo vê

Que tudo acolhe

Recolhe…

Escuta

Com as orelhas da Terra

Em permanente grito de alerta,

Contra as investidas tecnológicas,

Contra os desequilíbrios ecossistemáticos,

Contra as malhas

Artimanhas do progresso

Que sempre avança

Sem auto-crítica

E racionalidade…

                      

                   Isabel Rosete

                   26/05/2007

                   (17:00 H.)

 

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