Capítulo 3 – O fogo e o
impacto ambiental que provoca
O
porquê de muitos dos problemas enunciados no capítulo anterior surge
relacionado com as queimadas – que podem começar por ser inofensivas – e
facilmente se transformam em incêndios que vão interferir na qualidade
do ar, na química e biologia dos solos, na mancha vegetal que o fogo
atingiu, nos animais afugentados do seu habitat ou destruídos. De uma
forma indirecta podem afectar os recursos hídricos subterrâneos ou a
descoberto. As queimadas artificiais – por norma feitas pelo Homem – ou
naturais (produto de reacções interactivas) podem ser de vários tipos e
envolver flora diferenciada. Uma pastagem adubada pode produzir gases,
sobretudo ácidos nítricos, em quantidade muito superior à de uma outra
que não recebeu fertilizantes. As condições metereológicas – vento,
quentura ambiente – a extensão e hora da queimada, condicionam a
temperatura atingida pelo fogo que poderá vir a ser uma consequência do
tempo necessário para fazer arder totalmente o material vegetal
disponível.
Não podemos precisar quem foi
que afirmou ser hoje a Natureza um organismo doente que urge salvar. E
uma situação de “stress”, como a queimada, apresenta sintomas
alarmantes. Com efeito, os gases produzidos podem ter origens muito
diferentes se mais ou menos oxidados. Em função da hora a que foi
produzida – de dia ou de noite, ao meio-dia ou ao entardecer – as
reacções fotoquímicas serão também diferenciadas. A maioria das
queimadas, sendo de natureza agrícola, dá indicação de emissões de
dióxido de carbono para a atmosfera que contribuem em peso percentual
mais ou menos significativo para a problemática do já tão vulgarizado
efeito de estufa. A maioria do carbono emitido pelas queimadas no
Inverno é retirada da atmosfera no Verão, quando a vegetação se encontra
em fase de crescimento, e há maior abundância de oxigénio no ar. (Simonnet,
1981).
Qual o custo/benefício para o
ambiente dado o carácter sobremaneira agrícola da queimada – uma
tecnologia da era neolítica – em face da complexidade do tema? Não
conhecemos estudos aprofundados sobre o assunto que nos proponham uma
resposta cabal talvez porque, na maioria dos casos, estes fogos
acontecem em zonas de mato, perto de florestas e, pelo menos, entre nós
não se limitam a ser inocentes, ainda que displicentes, queimadas, mas
tenebrosos incêndios florestais perpetrados por mão criminosa e ajudados
por uma política de abandono dos bosques a si mesmos. O tecido vegetal
rasteiro e seco, facilmente inflamável, fruto de irresponsabilidade,
senão da lei e de serviços inspectivos atempados aos detentores dessas
pequenas parcelas de mata ou de mais extensas manchas florestais.
Há também que considerar o tipo
vulgarizado da floresta actual. Não é a autóctone, constituída por
carvalhos, castanheiros, azinheiras e pinheiros bravos ou mansos,
consoante a região geográfica do país, mas uma outra, mais rentável a
curto e médio prazo, fruto do plantio do pinheiro bravo e das muitas
variedades de eucaliptos. Atingem rapidamente o estado adulto para
poderem ser abatidos e vendidos e darem azo a que, muito em breve, um
novo bosque se forme num intervalo sazonal bastante curto. Este tipo de
árvores, altamente resinosas, arde com uma rapidez dificilmente
controlável, além de que o eucalipto contribui para a desertificação dos
solos pela quantidade de água e de nutrientes que absorve para poder
desenvolver-se em tão poucos anos. E não tem havido a sensibilização
conveniente junto dos nossos agricultores: a verdade é que um eucalipto
rapidamente se torna adulto e, em consequência rentável e é esse o
aspecto que os atrai.
A crise no ambiente surgida
sobretudo a partir de meados do séc. XIX com a Revolução Industrial, ou
seja, há uns duzentos anos, despoletada pelo lucro a curto prazo e a
crença na máxima de Lavoisier de que na Terra “ nada se perde, nada se
cria, tudo se transforma”, tornou o Homem o mais perigoso predador da
Natureza, sobretudo no que respeita às leis da oferta e da procura, leis
de mercado que não admite discutir. (Elegido, 1977).
Queimadas e fogos florestais
são, por vezes, confundidos, mas as primeiras surgem também associadas
ao desmatamento que destrói o bosque para criar zonas agricultáveis.
Vende-se a madeira ardida e fica-se com terreno livre de árvores e mato
para criar pastos ou cultivar produtos muito procurados nas grandes
urbes e constituem uma mais valia para o agricultor numa sociedade onde
a sobrevivência não se pode processar sem os consumir. Feitas em áreas
já desmatadas, as queimadas servem aos agricultores para se libertarem
frequentemente de resíduos de colheitas anteriores, no combate a pragas
como populações indesejáveis de carrapatos ou renovarem terrenos de
pastagem, limpando lavouras ou facilitando colheitas. Assim nem sempre
uma parte das queimadas não terem como finalidade imediata o comércio,
mas a limpeza de áreas. (Correia.s. d.). Se, porém, não houver cuidado o
perigo espreita e o ambiente torna-se vítima. E como o ambiente, na sua
tripla perspectiva de biosfera, geosfera e atmosfera integradas,
constitui o habitat por excelência do Homem que precisa da fauna e da
flora, omnívoro que é, para se alimentar, passou a tornar-se vítima de
si próprio e o predador-mor do seu semelhante com as alterações
provocadas nos ecossistemas onde actua. É esta realidade
que
designamos por impacto ambiental.
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Fotografia 10 –
Rosmaninho em flor. Covelas, Junho 2005 |
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Fotografia 11 –
Trecho do rio Vouga, na freg. de Ribafeita. Junho 2005 |
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Fotografia 12 –
recho do rio Vouga, na freg. de Ribafeita. Junho 2005 |
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Fotografia 13 –
Mata cerrada sem limpeza. |
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