Capítulo
1 – O caos ambiental provocado pelo Homem
Afirmam os cientistas da Liga para a Protecção da Natureza (LPN)
que,
uma
época muito longínqua,
a
paisagem na Terra era preenchida por imensas manadas de auroques, os
ancestrais dos nossos actuais bovinos. (Mendes. 1995). Frequentavam
locais próximos de clareiras de bosques densos. E se, causada por uma
tempestade, uma queimada ou um incêndio acontecessem, atingindo o
bosque, o facto não apresentava o perigo ecológico de hoje, realidade do
século XXI, porque logo sementes sobreviventes voavam, levadas pelo
vento, na direcção da nova clareira formada após o incêndio. Chegada a
Primavera, sob a energia dum sol resplandecente, essas sementes
germinavam. Quando as manadas de auroques, afugentadas pelo incêndio
para outras paragens, regressavam, alimentavam-se dos tenros rebentos e
rapavam a clareira. Depois a manada seguia o seu destino em procura de
outros locais de vegetação abundante.
E o
ciclo da natureza não parava: o vento espalhava as sementes caídas das
árvores pelos campos e, na Primavera seguinte, quando as manadas de
auroques voltavam por ali no seu nomadismo incessante pastavam de novo
as plantas tenras e o solo ficava nu até que um ano passasse para
brotarem novas plantinhas que alimentavam os auroques…e assim
sucessivamente.
Qual
o papel desempenhado pelos auroques neste ecossistema de que faziam
parte integrante, juntamente com o solo, o sol e, naturalmente, a água
sem a qual a flora não nascia e se desenvolvia? Eram consumidores,
utilizadores que contribuíam para a renovação de uma área geográfica a
que correspondia um conjunto homogéneo de factores físicos ambientais,
ou seja, um novo biótopo.
Se nos umbrosos bosques a luz do sol não penetrasse nas
clareiras que o fogo produzira, e que tinham sido mantidas pela cíclica
visita primaveril dos auroques, as plantas silvestres não teriam feito a
fotossíntese, ou não a teriam efectuado em pleno e agora
encontrar-se-iam perante o desafio de se adaptarem às novas condições
surgidas ou perecerem. Paulatinamente a clareira tinha evoluído – haviam
brotado novos tipos de vegetação capazes de resistir à luz forte do sol,
por vezes em situação de sequeiro, e o novo biótopo surgira e
mantinha-se.
Mas
os auroques não eram a única diversidade genética sobre a fina crosta
terráquea pois havia outras espécies que dela, e nela, viviam e, entre
elas, o Homem. Apareceram, dizimaram os auroques e deles aproveitaram
carne, pele, ossos e chifres.
Agora, sem auroques, a clareira que fora o seu alimento em cada
Primavera apresentava, a crescerem, as plantinhas que o vento de novo
dispersara após o incêndio, semeando-as, algumas delas desenvolvendo-se
desmesuradamente de acordo com a sua predisposição genética. Doravante
não se falará mais da clareira onde os auroques pastaram porque um
imenso bosque lhe está, ano após ano, a dar lugar e, tão denso, que a
luz custa a penetrar. E em consequência desse pormenor os arbustos e a
tenra vegetação rasteira conseguem germinar pela última vez, florescendo
e produzindo fruto. Quando as sementes tombam no solo este guarda-as sob
si, no húmus que resultou da decomposição das folhas mortas do Outono e
da humidade, ajudadas pelos decompositores, organismos que fragmentam a
matéria orgânica morta para dela se alimentarem.
Um
dia, o Homem voltou a aparecer por aquela zona e já não é nómada, mas
sedentário. Vai precisar da sombra acolhedora do bosque e, com o fim de
se resguardar das intempéries, aquecer-se e cozinhar, pôr-se-á a abater
árvores e pisará e desbastará o mato rasteiro e surgirá uma nova
clareira à luz do sol. Esta fará com que brotem de novo do subsolo
algumas sementinhas entretanto aí adormecidas que germinarão se o grande
predador deixar que tal aconteça.
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Fotografia
1 – O velho carro de bois ligeiramente alterado pelo progresso, sem as
tradicionais rodas de madeira, agora substituídas por outras de ferro.
Freg. de Ribafeita, Março de 2005. |
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O
Homem domesticará alguns animais e dedicar-se-á a agricultar a terra,
modelando-a de acordo com as suas necessidades. Os seus descendentes
irão repetir incansavelmente essas tarefas e farão com que as sementes
das árvores de grande porte fiquem de novo escondidas até que, por
milagre, um novo ciclo de vida as possa fazer renascer se o factor de
“stress” não se mantiver. (“Portugal Natural”, L.C.N., 1995,p.17).
Parece, mas não é, um conto para
explicar às crianças como se processava a vida na Terra quando os
auroques foram os seus senhores e do que aconteceu quando surgiu o mais
perigoso dos predadores – o Homem.
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Fotografia 2 – Casas de
granito. Freg. de Ribafeita, Março de 2005. |
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Fotografia
3 – Traseiras da igreja de Ribafeita, Março de 2005. |
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