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João Miguel Monteiro


— ... Nunca se esqueçam que proteger a Mãe Natureza é um gesto de respeito e bondade...

 As palavras do professor chamaram-me a atenção. Não costumava dar ouvidos aos professo­res, mas aquelas palavras tinham um outro sentido das que costumavam dizer:

“— Não sabes, Sérgio?!“ ou “— Não sei como é que tu tiraste negativa. Não percebo!“

Aquelas palavras fizeram-me pensar que, quando fosse grande, tiraria um curso de “P. M. N. B. R” (Proteger a Mãe Natureza com Bondade e Respeito) e seria premiado pela Natureza.

— Sérgio, Sérgio... — Alguém me chamava. Olhei em redor. Vi os convidados e a Natureza. O mais curioso é que não vi ninguém a chamar-me.

  Sérgio.

A voz continuava. Era alguém, mas quem? A minha mãe, o meu pai...?

Acordei. O professor, habituado àquelas situações, nada disse.

— Sérgio... Estás bem?

Um colega meu amparava-me. Dei conta que tinha caído da cadeira. Estava deitado no chão.

Não sou útil... Não sou útil... — Uma voz ecoava na minha cabeça. Estava numa floresta. O povo chamava-a “Floresta dos Horrores”, pois era lá que havia mais incêndios. Na minha cabeça, ouvi uma outra voz a interromper a primeira.

— ... proteger a Mãe Natureza é um gesto de bondade e respeito... proteger a Mãe...

A voz do professor saiu dos meus pensamentos, quando ouvi um outro barulho, desta vez real.

— Tchic... tchic... tchic…

O som de fósforos a serem acendidos elevava-se no silêncio, se é que se pode chamar silêncio ao leve som de animais, de copas de árvores a balançar ao vento, mais o som dos meus passos.

Passados alguns segundos, aparece-me na penumbra uma réstia de fumo, seguida de uma luzinha ténue. Raciocinei: “Não há fumo onde não há fogo”. A luzinha logo se transformou em enormes labaredas de fogo. Não pensei duas vezes.

Procurei nos bolsos o meu telemóvel e liguei para o 112. Enquanto isso, reparei num vulto a sair da escuridão. Liguei também para a “G.N.R.” local.

O medo, que até aí não tinha dado sinais de aparecer, começou a alastrar-se pelo meu corpo, ao constatar que estava cercado de fortes labaredas, que se elevavam no ar.

Não gritei, porque a povoação mais próxima ficava a três quilómetros e, além disso, era uma aldeia em que, àquelas horas da noite, todos dormiam no seu “primeiro sono — o mais pesado...” e, a maior parte da população estava ausente em tratamentos de banhos nas termas, que ficavam a qui­lómetro e meio da aldeia.

— Piri... piri... nonii... piri... noni…

As sirenes da polícia misturavam-se com as dos bombeiros. Ouviam-se gritos na captura do incendiário... Os motores do carro dos bombeiros a trabalhar e as mangueiras a deslizar, por toda aquela vegetação que as ajudava a escorregar.

O meu medo foi desaparecendo quando vi e senti a água fria, em todo o meu corpo, a alta pressão, que saía das mangueiras que estavam a ser manobradas pelos bombeiros.

 

Depois dessa história toda, que correu mal mas acabou bem, as pessoas, saudavam-me amis­tosamente:

— Bom dia, herói!

— Olá amigo da Natureza!

Pela primeira vez na vida era saudado com respeito. E a minha voz espiritual cantou alegre­mente:

          — Quem cuida do ambiente
          E considerado eco-cidadão;
          Mas quem lhe faz mal
          E chamado ladrão!

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