—
... Nunca se esqueçam que proteger a Mãe Natureza é um gesto
de respeito e bondade...
As
palavras do professor chamaram-me a atenção. Não costumava
dar ouvidos aos professores, mas aquelas palavras tinham um
outro sentido das que costumavam dizer:
“—
Não sabes, Sérgio?!“ ou “— Não sei como é que tu
tiraste negativa. Não percebo!“
Aquelas
palavras fizeram-me pensar que, quando fosse grande, tiraria um
curso de “P. M. N. B. R” (Proteger a Mãe Natureza com
Bondade e Respeito) e seria premiado pela Natureza.
—
Sérgio, Sérgio... — Alguém me chamava. Olhei em redor. Vi
os convidados e a Natureza. O mais curioso é que não vi ninguém
a chamar-me.
—
Sérgio.
A
voz continuava. Era alguém, mas quem? A minha mãe, o meu
pai...?
Acordei.
O professor, habituado àquelas situações, nada disse.
—
Sérgio... Estás bem?
Um
colega meu amparava-me. Dei conta que tinha caído da cadeira.
Estava deitado no chão.
—
Não sou útil... Não sou útil... — Uma voz ecoava na minha cabeça. Estava numa
floresta. O povo chamava-a “Floresta dos Horrores”, pois era
lá que havia mais incêndios. Na minha cabeça, ouvi uma outra
voz a interromper a primeira.
—
... proteger a Mãe
Natureza é um gesto
de bondade e respeito... proteger
a Mãe...
A
voz do professor saiu dos meus pensamentos, quando ouvi um outro
barulho, desta vez real.
—
Tchic... tchic... tchic…
O
som de fósforos a serem acendidos elevava-se no silêncio, se
é que se pode chamar silêncio ao leve som de animais, de copas
de árvores a balançar ao vento, mais o som dos meus passos.
Passados
alguns segundos, aparece-me na penumbra uma réstia de fumo,
seguida de uma luzinha ténue. Raciocinei: “Não há fumo onde
não há fogo”. A luzinha logo se transformou em enormes
labaredas de fogo. Não pensei duas vezes.
Procurei
nos bolsos o meu telemóvel e liguei para o 112. Enquanto isso,
reparei num vulto a sair da escuridão. Liguei também para a
“G.N.R.” local.
O
medo, que até aí não tinha dado sinais de aparecer, começou
a alastrar-se pelo meu corpo, ao constatar que estava cercado de
fortes labaredas, que se elevavam no ar.
Não
gritei, porque a povoação mais próxima ficava a três quilómetros
e, além disso, era uma aldeia em que, àquelas horas da noite,
todos dormiam no seu “primeiro sono — o mais pesado...” e,
a maior parte da população estava ausente em tratamentos de
banhos nas termas, que ficavam a quilómetro e meio da aldeia.
—
Piri... piri... nonii... piri... noni…
As
sirenes da polícia misturavam-se com as dos bombeiros.
Ouviam-se gritos na captura do incendiário... Os motores do
carro dos bombeiros a trabalhar e as mangueiras a deslizar, por
toda aquela vegetação que as ajudava a escorregar.
O
meu medo foi desaparecendo quando vi e senti a água fria, em
todo o meu corpo, a alta pressão, que saía das mangueiras que
estavam a ser manobradas pelos bombeiros.
Depois
dessa história toda, que correu mal mas acabou bem, as pessoas,
saudavam-me amistosamente:
—
Bom dia, herói!
—
Olá amigo da Natureza!
Pela
primeira vez na vida era saudado com respeito. E a minha voz
espiritual cantou alegremente:
— Quem cuida do ambiente
E considerado eco-cidadão;
Mas quem lhe faz mal
E chamado ladrão!
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