3 - Exercício II - Aprofundamento de
competências lexicais
O aprendente de línguas estrangeiras não é uma ‘folha em
branco’, já que se pode socorrer dos seus conhecimentos
prévios (Vorwissen),
quer adquiridos através da sua língua materna, quer
através de outras línguas estrangeiras, com as quais já se
encontra familiarizado. Foi a pensar neste facto que
concebemos a segunda tipologia dos exercícios expostos.
Com efeito, os aprendentes portugueses que sejam
detentores de razoáveis conhecimentos de língua inglesa
poderão muito mais facilmente iniciar a aprendizagem da
língua alemã.
Embora tanto o Inglês como o Alemão façam parte da família
das línguas germânicas, a verdade é que, pelo facto de a
primeira destas línguas, por razões históricas, ter sofrido
enormes influências, quer do Latim (devido ao Império
Romano), quer do Francês (devido à invasão dos Normandos
em 1066), está muito impregnada de galicismos, de
latinismos e de helenismos, já que a língua grega também
influenciou profundamente o Latim. Muitos milhares de
lexemas ingleses, usados com elevada frequência nas
interacções do quotidiano, derivam destas três línguas. É o caso de joy,
table, train, punishment, movement,
development, patience, distance,
progress, educate, elegant, intelligent,
television, economics, problem,
analyse, etc. Se traduzirmos estes lexemas para
Alemão, veremos que a influência destas línguas decresce
substancialmente. Ei-los: Freude,
Tisch, Zug, Strafe, Bewegung,
Entwicklung, Geduld, Entfernung,
Fortschritt, Erziehung, elegant,
intelligent, Fernsehen, Wirtschaft,
Problem e Analyse. Como
é, aliás, fácil de constatar, apenas os que estão a negrito
provêm das línguas acima referidas.
Todavia, importa não sermos tão pessimistas, já que, por
via da língua inglesa, existe um número considerável de
lexemas transparentes. Eis alguns exemplos: Wasser
(water), Milch (milch), Bier (beer),
(Wein) (wine), trinken (to drink), essen (to
eat), schwimmen (to swim), sprechen (to
speak), schlafen (to sleep), halten (to
hold), hören (to hear / to listen to), sehen
(to see), fühlen (to feel), Gefühl (feeling),
ausfüllen (to fill in), vergessen (to forget),
kommen (to come), Glück (luck / happiness),
Brücke (bridge), Straße (street / road),
Mann (man), Bruder (brother), Großmutter
(grandmother), Vater (father), Haus (house),
Maus (mouse), Ochse (ox) Kuh (cow), Fuchs
(fox), Schule (school), Kirche (church),
Supermarkt (supermarket), Tag (day) Sonntag
(sunday), Woche (week), Monat (month),
Jahr (year) entre muitos outros.
Foi exactamente a pensar nestes e em muitos outros lexemas
transparentes (ou relativamente transparentes) que
decidimos conceptualizar o Exercício II. Através de um
exercício de matching, tentamos conduzir o
aprendente à inferência correcta. Nem sempre é fácil, na
medida em que, pelas razões já anteriormente explicadas, a
semelhança entre a língua alemã e a inglesa é menor do que
aquela que existe entre o Português e o Castelhano. De
qualquer modo, aconselhamos o aprendente a assumir sempre
uma postura de auto-confiança, já que grande parte das
colocações / expressões estão concebidas de modo a que
haja, quase sempre em qualquer das unidades que as
constituem, alguma “bóia de salvação”, a que ele se poderá
agarrar no meio de um “mar revolto” de lexemas opacos. Na
verdade, tentar compreender um texto com um número
considerável de lexemas simultaneamente opacos e
desconhecidos poderá comparar-se à travessia de um rio
largo sem ponte. A travessia terá de ser feita, dando-se
saltos de rochedo em rochedo, até se alcançar a outra
margem. Bem entendido que as palavras de cujo significado
já nos apropriámos são os ditos “rochedos”. São elas que
nos permitem progredir e não desanimar. Por outro lado,
podemos ainda comparar o número de lexemas opacos já
conhecidos com o capital de que dispomos para fazer um
investimento financeiro. Quanto maior é o capital, maior
facilidade teremos em o multiplicar, se for bem aplicado,
naturalmente. Também aqui importa que apliquemos
inteligentemente as nossas capacidades cognitivas, isto é,
devemos preocupar-nos em aprender o léxico que
considerarmos fundamental. Nessa medida, supomos que o
Exercício II está bem conseguido, na medida em que, para
além de nos termos preocupado em seleccionar somente
lexemas que são utilizados com elevada frequência na
comunicação oral e escrita, também tivemos o cuidado de
levar o aprender a ser o mais reflexivo possível,
chamando-lhe a atenção (através das unidades constituintes
dos lexemas a negrito) para a necessidade crucial de
relacionar essas mesmas unidades. O facto de surgir, por
vezes, um algarismo entre parênteses significa que existe
um mesmo lexema em Português para dois em Alemão, ou
vice-versa. É, por exemplo, o caso de Strich (1) e
Risiko (2), no exercício
AT (541-552) i) e
k). Ambas as palavras significam risco,
em Português. Porém, no primeiro caso, temos risco,
no sentido de traço e, no segundo, no sentido de
perigo.
A quem se destina este contributo para a aprendizagem de
léxico alemão? A todos aqueles que o desejem.
No entanto, convém que os aprendentes
tenham presente que:
“YOU,
the language learner, are the most important factor in the
language learning process. Success or failure will, in the
end, be determined by what you yourself contribute. Many
learners tend to blame teachers, circumstances, and
teaching materials for their lack of success, when the
most important
reason for their lack of success can ultimately be found
in themselves” [O sublinhado é nosso] (Rubin & Thompson,
1994:3)
Partindo deste pressuposto fundamental, acreditamos que os
aprendentes que têm mais sucesso são aqueles que tenham em
conta as seguintes características:
● Profunda paixão pelo objecto de estudo;
● Razoáveis conhecimentos de língua inglesa;
● Bastante tempo livre (de preferência, todos os dias);
● Grande dose de perseverança, (que impeça o
aprendente de vacilar após os primeiros obstáculos);
● Excepcional poder de observação;
● Enorme capacidade para proceder a inferências;
● Boa capacidade para fazer associações de ideias e
relações entre
conceitos.
Embora reconhecendo que todas estas características são,
na verdade, extremamente importantes, desde a emoção
(implícita na primeira) até a um grande poder de
observação (contemplado na penúltima e na antepenúltima),
parece-nos pertinente ilustrar a última das
características apontadas através de um exemplo que
consideramos interessante. Assim, voltemos à lista de
lexemas atrás enunciada. De entre eles, destaquemos Zug
e Erziehung. À partida, nenhum aprendente português
verá qualquer tipo de relação entre eles, como verá por
exemplo entre trinken e to drink ou entre
schwimmen e to swim. Provavelmente, já
terá mais dificuldade em associar to order a drink
com ein Getränk bestellen. Porém, se conhecer os
tempos verbais do verbo trink (trinkt) – trank –
getrunk que correspondem exactamente ao to drink (drinks)
– drank – drunk, e se, cumulativamente, estiver
habituado a proceder a inferências com um alto grau de
sucesso, poderá inferir que Getränk provém
do verbo trinken, no Präteritum (trank). A sua
inferência está correcta. Porém, nem sempre é assim,
devido à existência dos chamados amigos falsos, como é o
caso de to pretend que significa fingir e
não pretender. Como sabemos, pretender diz-se
to intend. De qualquer modo, convém termos presente
o facto de que, quando este afirma que “quanto maior for a
competência lexical dos aprendentes, tanto menores serão
as hipóteses de estes procederem a inferências
erradas” (Marques, 2003: 272)
Passemos, então, a debruçar-nos sobre os lexemas Zug
e Erziehung. Se soubermos que ambos derivam do
verbo ziehen (puxar) e se, além disso, o
soubermos conjugar (ziehen (2) [zieht] – zog
(1) – gezogen), não demoraremos muito tempo até
concluir que a relação entre eles é muito lógica, sendo
aliás esta uma das principais características da língua
alemã e que, como professor de Alemão, nem sempre tenho a
capacidade de aproveitar cabalmente. Ambas as palavras têm
a ver com o verbo puxar (ziehen). No caso de Zug,
o “puxado”, em Português, comboio (que deriva do
francês convoi, embora os franceses tenham
recorrido ao verbo traîner para construírem le
train). Com efeito, o Zug (1) (“puxado”
/ comboio) é puxado pela locomotiva. Por sua vez, o
lexema Erziehung (2) (educação)
relaciona-se facilmente com a acção de “puxar” uma criança
para os conhecimentos teóricos e práticos, as normas de
diversa índole inerentes a uma determinada sociedade.
Por forma a aumentar significativamente essa capacidade de
se tornar extremamente lógica, a língua alemã tem a
extraordinária capacidade de formar novos conceitos (Wortbildung
/ formação de palavras) através da aglutinação. É o
caso de Handschuh (luva), Fingerhut (dedal)
e Schlafanzug (pijama), entre muitos milhares de
outros. O aprendente de língua alemã que seja
suficientemente reflexivo e experiente também poderá
socorrer-se de uma estratégia extremamente útil na redução
dos lexemas opacos, que consiste na atribuição de
significado semântico a determinados prefixos. Eis alguns:
● ver-: normalmente, indica
esforço ou tem uma carga negativa;
1.
Er hat seinem Sohn ein Fahrrad versprochen.
/ Ele prometeu uma bicicleta ao filho.
2.
Ich habe ganz vergessen, wie man das macht.
/ Esqueci-me completamente de como é que isso se faz.
● er-: normalmente,
indica graudalidade;
1.
Mein Sohn hat mir eine interessante Geschichte
erzählt. / O meu filho contou-me uma história
interessante.
2.
Erwachsene haben im Prinzip
mehr Lebenserfahrung als Jugendlichen oder Kinder.
/ À partida, os adultos têm mais experiência de vida do
que os jovens ou as crianças.
● vor-: normalmente, dá-nos a ideia de
antes, anterior ou à frente:
1.
Du musst deine Vorurteile abbauen. / Tens
de deixar de ter tantos preconceitos.
2.
Eins von den Vorderbeinen des Pferdes ist
verletzt. / Uma das patas da frente do cavalo está ferida.
● zer-: normalmente, implica partir
em pedaços, desfazer em pedaços:
1.
Der Koch hat die Butter
schon zerlassen. / O
cozinheiro já derreteu a manteiga.
2.
Im Krieg wurden viele Häuser durch Bomben zerstört.
/ Na guerra, muitas casas foram destruídas pelas bombas.
● ur-: normalmente, dá-nos a ideia de
antiguidade, origem:
1.
Ihr Urgroßvater hieß Wolfgang Schneider. / O
bisavô dela chamava-se Wolfgang Schneider.
2.
Die Ursprünge des Tangos liegt in
Argentinien. / O tango tem as suas origens na Argentina.
● ge-: normalmente, pressupõe a ideia
de colectivo:
1.
Ich reise immer mit wenig Gepäck. / Viajo
sempre com pouca bagagem.
2.
Tobias hat sechs Geschwister. / O Tobias tem
seis irmãos (e irmãs).
● an-: normalmente, liga-se à ideia de
junto de:
1.
Er hat mich mit seiner Grippe angesteckt. /
Ele pegou-me a gripe.
2.
Sie benimmt sich immer anständig. / Ela
porta-se sempre decentemente (junto às normas).
● aus- : normalmente tem a ver com a
ideia de fora:
1.
Er stieg (aus dem Unternehmen) aus, weil man
ihn zu wenig bezahlte. / Ele saiu da empresa, porque lhe
pagavam pouco.
2.
Wie spricht man dieses Wort aus? / Como é
que se pronuncia esta palavra?
● ein-: normalmente, refere-se a algo
que está dentro:
1.
Er hat die Tür eingebrochen. / Ele arrombou
a porta.
2.
In letzter Minute fiel ihm ein, dass er
einen Termin beim Zahnarzt hatte. / No último minuto,
lembrou-se de que tinha consulta marcada no dentista.
● auf-: por vezes, implica a ideia de
para cima:
1.
Normalerweise stehe ich um sieben Uhr auf. /
Normalmente, levanto-me às sete horas.
2.
Nach dem Krieg erfolgte der Aufbau der
Städte. / Ao fim da guerra seguiu-se a reconstrução das
cidades.
● über-: normalmente, implica a ideia de
sobre:
1.
Übertreib
nicht so! / Não exageres!
2.
Sie hat die Operation gut überstanden. / Ela
reagiu bem à operação.
● unter-: normalmente, liga-se à ideia de
debaixo de:
1.
Das Glückspiel war sein Untergang. / O jogo
deu-lhe cabo da vida.
2.
Sie biss sich auf die Unterlippe. / Ela
mordeu-se no lábio inferior.
● um-: normalmente, pressupõe a ideia
de à volta de:
1.
Dieser Arzt weiß mit Kindern richtig umzugehen.
/ Este médico tem jeito para lidar com crianças.
2.
Er sieht nach einem Geburtstagsgeschenk für seine
Tochter um. / Ele anda à procura de um presente de
aniversário para a filha.
● miss-: normalmente, aponta para a
ideia de falha:
1.
Es herrschen Missstände in vielen Ländern,
besonders in der Dritten Welt. / Em muitos países,
especialmente nos do Terceiro Mundo, há muitos atropelos à
dignidade humana.
2.
Du hast mich missverstanden. / Percebeste
mal o que eu queria dizer.
● un-: normalmente, refere-se à ideia de
in-, des-:
1.
Das ist ja unglaublich, welche Frechheiten
er sich erlaubt! / É incrível o tipo de tropelias
que ele ousa fazer.
2.
Das ist eine (un)angenehme Überraschung. / É
uma surpresa (des)agradável.
● ent-: por vezes,
liga-se à ideia de fuga, afastamento,
des-:
1.
Der Häftling konnte der Polizei entkommen. /
O prisioneiro conseguiu escapar à
polícia.
2.
Entschuldigen
Sie bitte meine Verspätung. / Desculpe ter
chegado atrasado.
● haupt-: normalmente, implica a ideia de
principal:
1.
Campanhã ist Portohauptbahnhof. / Campanhã é
a estação principal do Porto.
2.
Das ist die Hauptsache. / Isso é o mais
importante.
Infelizmente, e ao contrário do que acontece com os
prefixos, os sufixos são semanticamente neutros, isto, é,
através deles não conseguimos descortinar o significado do
lexema ao qual se encontra ligado.
Foi nosso objectivo não fazer demagogia, não dando a
entender ao aprendente que a língua alemã era realmente
tão transparente como o Castelhano ou Francês. De facto,
não é. E por esse simples facto poderá constituir uma
mais-valia, já que poderá ser mais útil ao aprendente a
nível profissional, aquando da sua entrada no mercado de
trabalho ou da promoção para um emprego mais interessante
intelectualmente e, em princípio, também mais bem
remunerado. Como é óbvio, é sempre preferido quem tiver
mais e melhores qualificações (incluindo as linguísticas),
independentemente da sua formação-base. Como dizem os
Alemães, Die Qualität setzt sich durch. (A
qualidade impõe-se.). Chegou a altura em que mais do
que nunca é imperiosamente urgente munirmos os nossos
jovens de competências que lhes permitam um alto grau de
empregabilidade num mundo em franco progresso científico e
tecnológico. São estas competências que nos irão permitir
entrar definitivamente na chamada ‘sociedade do
conhecimento’ que está intimamente ligada à conhecida
fórmula dos 3 Cs (Conhecimento, Competência e
Competitividade).
Como facilmente se poderá constatar pela análise da
estrutura do tipo de exercícios apresentados, o nosso
grande objectivo não é fornecer ao aprendente todas as
ferramentas que lhe permitam dominar todos os
constituintes da língua. Por exemplo, omitimos quase toda
a gramática. Esta aprende-se muito mais facilmente do que
o léxico pelo simples facto de o número de itens
gramaticais ser muito menor do que os lexemas.
A este propósito, Rodríguez & Sadoski afirmam o seguinte:
“A large
vocabulary is, of course, essential
for mastery of a
language. Second languages acquirers know this; they carry
dictionaries with them, not grammar books, and regularly
report that lack of vocabulary is a major problem…”
(Rodríguez
& Sadoski, 2000: 386)
Na verdade, se dissermos Our brother not like of paint.,
em vez de Our brother doesn’t like painting.,
poderemos ser muito mais facilmente compreendidos por um
Inglês do que se dissermos My irmão doesn’t gosta
pintar.. Sendo inquestionável que a gramática
constitui uma parte muito importante da língua, a verdade
é que, demasiadas vezes, se sobrevaloriza a gramática em
detrimento do léxico, por razões óbvias. Para se colmatar
essa lacuna grave, importa dar-se também ênfase à
aprendizagem do léxico, tendo-se sempre a preocupação de
se partir de lexemas conhecidos para os desconhecidos.
Efectivamente, „das Lernen ist nur dann
ergiebig, wenn man neues Wissen in bereit vorhandenes
integrieren kann“ (Bimmel & Rampillon, 2000: 7). É,
assim, imperioso que o aprendente (autodidacta ou não) se
proponha atingir uma bateria muito substancial de léxico.
Estamos certos de que esta, devidamente apreendida e
consolidada, através de muita perseverança, lhe irá
permitir entender, com algum desembaraço, textos autênticos
em língua alemã, quer estes se encontrem em livros,
revistas ou jornais.
As frases que apresentamos na segunda parte são quase
todas infinitivas. Por exemplo, no exercício
A (1–12), a
primeira frase que surge é:
a) seinen Vater / seine Mutter lieben;
amar o seu pai / a sua mãe. Isto quer dizer que o
sujeito é indeterminado. É, por exemplo, ele ou
ela. Portanto, poder-se-á ler Er
liebt seinen / seine Mutter. ou Sie liebt ihren
Vater / ihre Mutter. No entanto, tal já não
acontece no exercício:
A (01-12)
e) Liebeskummer
haben (Sein Bruder… );
não ser correspondido no amor (O irmão dele…).
Aqui, temos de respeitar as palavras em itálico que se
encontram dentro do parênteses, pois são elas, em cada
caso concreto, que determinam qual é realmente o sujeito
da frase em causa. Neste último exemplo, queremos referir
que o sujeito é sein Bruder. Portanto, a frase
normalmente escrita será: Sein Bruder hat Liebeskummer.
É óbvio que não foi inocente a escolha de
(Sein Bruder...), em vez de, por exemplo, (Sein
Schwager... ) ou (Sein Vetter... ).
O facto de a palavra Liebeskummer
se apresentar parcialmente a negrito quer dizer que existe
uma relação mais ou menos directa (consoante os casos)
entre os vários constituintes dos lexemas. Neste caso
específico, existe uma relação estreita entre o
substantivo die Liebe (o amor) e o verbo lieben
(amar). Por sua vez, também existe uma relação forte
entre o substantivo der Kummer (a
preocupação) e o verbo sich um seinen Sohn / seine
Tochter kümmern (preocupar-se com o seu
filho / a sua filha).
Parece-nos fundamental que o aprendente, desde muito cedo,
se habitue a entrar em contacto com textos autênticos,
ainda que de uma forma bastante gradual. Em vez de tentar
a façanha (quase sempre traumatizante) de se lançar na
leitura de uma notícia qualquer de jornal, deverá
seleccionar apenas aquelas, com cujo tema se sinta mais
identificado. Além disso, numa fase inicial, poderá
ficar-se apenas pela leitura das parangonas mais
apelativas. Os jornais sensacionalistas são quase sempre
de evitar, devido à linha orientadora que os caracteriza,
mas têm a enorme vantagem de terem muitas imagens, títulos
com letras muito grandes e notícias pequeninas na última
página. O aprendente deverá avançar apenas, na medida em
que isso lhe der prazer. A pouco e pouco, e à medida em
que os seus conhecimentos se vão aprofundando, deverá ser
mais exigente consigo próprio e aplicar um pouco mais de
esforço ao seu estudo. Ele é essencial, pois sem ele nunca
poderá sentir quaisquer progressos palpáveis. A recompensa
também começa a surgir progressivamente. Dentro do possível,
o aprendente deverá evitar recorrer a quaisquer
dicionários. Em vez disso, convém que tente inferir o
sentido das palavras desconhecidas através das conhecidas. Se
tiver de o fazer, deve recorrer a dicionários unilingues
relativamente volumosos (com cerca de 1200 palavras).
Quanto mais pequenos são os dicionários, mais imperfeitos
são. Porém, nem sempre os dicionários unilingues mais
volumosos são os mais aconselháveis para aprendentes
estrangeiros. Só em caso extremo, o aprendente deverá
recorrer a dicionários bilingues para procurar o
significado de um lexema, pois terá mais hipóteses de
seleccionar a palavra inadequada ao contexto em questão do
que se socorrer de um dicionário unilingue. Além disso, ao
consultar dicionários unilingues está a aumentar os seus
conhecimentos lexicais quase de uma forma inconsciente,
pois, ao folheá-lo, os seus olhos sentir-se-ão levados a
“pousar” em lexemas que, em princípio, não estaria a
pensar encontrar, mas que, por qualquer razão lhe
prenderam a atenção, o que não deixa de ser um método de
estudo muito interessante e eficaz.
Sempre que encontrar uma colocação ou expressão idiomática
que considere importante, o aprendente deverá sublinhá-la
e dar-lhe uma “cotação” (por exemplo, de 1 a 5).
Paralelamente, deverá indicar, nas últimas páginas em
branco do seu dicionário, o número da página em que essa
colocação ou expressão idiomática se encontra, seguida da
“cotação” que achar que a sua importância merece. A
atribuição do valor terá, naturalmente, a ver com o grau
de frequência com que a colocação em questão surja numa
conversa do quotidiano. Damos muita importância aos
substantivos abstractos muito usados (embora os
substantivos concretos
frequentes não sejam de se negligenciar), aos verbos
frequentes e aos adjectivos mais comuns. Assim, parece-nos
que, à partida substantivos abstractos muito usados, como
por exemplo, Unterschied (diferença), Mut
(coragem), Erfolg (sucesso), Abstand
(distância), arbeiten (trabalhar), Fluss
(rio) devam ser mais urgentemente apreendidos do que
outros menos usuais, como por exemplo, Schwelle
(soleira), Grabstein (lápide) ou schaukeln
(embalar). A propósito de Abstand, podemos
dizer beim Autofahren großen Abstand vom Vordermann
halten (ao conduzir, manter uma boa distância em relação
ao carro da frente), mas já não podemos dizer beim
Autofahren große Entfernung vom Vordermann halten.
Essa afirmação seria perfeitamente hilariante, visto que
Abstand se utiliza para as distâncias pequenas
(medidas em metros), enquanto Entfernung se emprega para as
distâncias grandes (medidas em quilómetros). Daí que os
lexemas devam ser sempre aprendidos em chunking,
sendo fundamental que o aprendente tente encontrar a
categoria morfológica de um determinado lexema
desconhecido ainda antes de tentar inferir o seu
significado através do contexto em que se encontra. A este
propósito Leiria defende que:
“Chunking, ou
seja, isolar e identificar sequências, surge, assim, como
um processo geral que preside à aquisição de uma língua 2.
Aprender a estrutura de uma palavra implica identificar
unidades, a sua sequência particular em palavras e as
probabilidades de sequencialização geral numa língua
particular. (…) Aprender a classe gramatical de uma
palavra, em geral, implica a análise implícita e
automática da posição das palavras umas em relação às
outras. (…) Porque o princípio idiomático preside a uma
boa parte do discurso fluente, aprender a estrutura
discursiva implica, em grande parte, aprender sequências
particulares de palavras em combinatórias e outras
sequências habituais ” (Leiria, 2001: 125).
Por sua vez, também Ellis (1996) considera que “speaking
natively is speaking idiomatically”. Esta noção de
chunking parece-nos, de facto crucial. Para além das
colocações, cujo exemplo referimos através do substantivo
Abstand (einen großen Abstand), podemos
também socorrer-nos de frases idiomáticas para frisarmos
que a ideia de chunking é essencial em qualquer
língua. Ao provérbio português “Deitar cedo e cedo
erguer, dá saúde e faz crescer” corresponde o
provérbio alemão “Morgenstund’ hat Gold im Mund.”
(A hora da manhã tem ouro na boca.) Parece-nos evidente o
facto de que, nesta sequência particular, assim como em
muitas outras, não se poder substituir Gold por
Diamanten, nem Mund por Hand (mão)
ou Kopf (cabeça). Do mesmo modo, na colocação
“estar nas suas sete quintas”, o lexema quintas não
se pode substituir por herdades ou granjas.
Todavia, outras colocações existem em que as alterações de
determinadas unidades são possíveis. Por exemplo,
passar férias no Algarve / em Creta / na montanha (den
Urlaub an der Algarve / Auf Kreta / in den Bergen
verbringen). De qualquer modo, já não de poderá dizer:
O tempo passa depressa / devagar., usando o verbo
verbringen. Teremos de empregar o
verbo vergehen. (Die Zeit vergeht schnell /
langsam.)
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