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3 - Exercício II - Aprofundamento de competências lexicais

 

O aprendente de línguas estrangeiras não é uma ‘folha em branco’, já que se pode socorrer dos seus conhecimentos prévios (Vorwissen), quer adquiridos através da sua língua materna, quer através de outras línguas estrangeiras, com as quais já se encontra familiarizado. Foi a pensar neste facto que concebemos a segunda tipologia dos exercícios expostos. Com efeito, os aprendentes portugueses que sejam detentores de razoáveis conhecimentos de língua inglesa poderão muito mais facilmente iniciar a aprendizagem da língua alemã.

Embora tanto o Inglês como o Alemão façam parte da família das línguas germânicas, a verdade é que, pelo facto de a primeira destas línguas, por razões históricas, ter sofrido enormes influências, quer do Latim (devido ao Império Romano), quer do Francês (devido à invasão dos Normandos em 1066), está muito impregnada de galicismos, de latinismos e de helenismos, já que a língua grega também influenciou profundamente o Latim. Muitos milhares de lexemas ingleses, usados com elevada frequência nas interacções do quotidiano, derivam destas três línguas. É o caso de joy, table, train, punishment, movement, development, patience, distance, progress, educate, elegant, intelligent, television, economics, problem, analyse, etc. Se traduzirmos estes lexemas para Alemão, veremos que a influência destas línguas decresce substancialmente. Ei-los: Freude, Tisch, Zug, Strafe, Bewegung, Entwicklung, Geduld, Entfernung, Fortschritt, Erziehung, elegant, intelligent, Fernsehen, Wirtschaft, Problem e Analyse. Como é, aliás, fácil de constatar, apenas os que estão a negrito provêm das línguas acima referidas.

Todavia, importa não sermos tão pessimistas, já que, por via da língua inglesa, existe um número considerável de lexemas transparentes. Eis alguns exemplos: Wasser (water), Milch (milch), Bier (beer), (Wein) (wine), trinken (to drink), essen (to eat), schwimmen (to swim), sprechen (to speak), schlafen (to sleep), halten (to hold), hören (to hear / to listen to), sehen (to see), fühlen (to feel), Gefühl (feeling), ausfüllen (to fill in), vergessen (to forget), kommen (to come), Glück (luck / happiness), Brücke (bridge), Straße (street / road), Mann (man), Bruder (brother), Großmutter (grandmother), Vater (father), Haus (house), Maus (mouse), Ochse (ox) Kuh (cow), Fuchs (fox), Schule (school), Kirche (church), Supermarkt (supermarket), Tag (day) Sonntag (sunday), Woche (week), Monat (month), Jahr (year) entre muitos outros.

Foi exactamente a pensar nestes e em muitos outros lexemas transparentes (ou relativamente transparentes) que decidimos conceptualizar o Exercício II. Através de um exercício de matching, tentamos conduzir o aprendente à inferência correcta. Nem sempre é fácil, na medida em que, pelas razões já anteriormente explicadas, a semelhança entre a língua alemã e a inglesa é menor do que aquela que existe entre o Português e o Castelhano. De qualquer modo, aconselhamos o aprendente a assumir sempre uma postura de auto-confiança, já que grande parte das colocações / expressões estão concebidas de modo a que haja, quase sempre em qualquer das unidades que as constituem, alguma “bóia de salvação”, a que ele se poderá agarrar no meio de um “mar revolto” de lexemas opacos. Na verdade, tentar compreender um texto com um número considerável de lexemas simultaneamente opacos e desconhecidos poderá comparar-se à travessia de um rio largo sem ponte. A travessia terá de ser feita, dando-se saltos de rochedo em rochedo, até se alcançar a outra margem. Bem entendido que as palavras de cujo significado já nos apropriámos são os ditos “rochedos”. São elas que nos permitem progredir e não desanimar. Por outro lado, podemos ainda comparar o número de lexemas opacos já conhecidos com o capital de que dispomos para fazer um investimento financeiro. Quanto maior é o capital, maior facilidade teremos em o multiplicar, se for bem aplicado, naturalmente. Também aqui importa que apliquemos inteligentemente as nossas capacidades cognitivas, isto é, devemos preocupar-nos em aprender o léxico que considerarmos fundamental. Nessa medida, supomos que o Exercício II está bem conseguido, na medida em que, para além de nos termos preocupado em seleccionar somente lexemas que são utilizados com elevada frequência na comunicação oral e escrita, também tivemos o cuidado de levar o aprender a ser o mais reflexivo possível, chamando-lhe a atenção (através das unidades constituintes dos lexemas a negrito) para a necessidade crucial de relacionar essas mesmas unidades. O facto de surgir, por vezes, um algarismo entre parênteses significa que existe um mesmo lexema em Português para dois em Alemão, ou vice-versa. É, por exemplo, o caso de Strich (1) e Risiko (2), no exercício  AT (541-552) i) e k). Ambas as palavras significam risco, em Português. Porém, no primeiro caso, temos risco, no sentido de traço e, no segundo, no sentido de perigo.

A quem se destina este contributo para a aprendizagem de léxico alemão? A todos aqueles que o desejem. No entanto, convém que os aprendentes tenham presente que:

 YOU, the language learner, are the most important factor in the language learning process. Success or failure will, in the end, be determined by what you yourself contribute. Many learners tend to blame teachers, circumstances, and teaching materials for their lack of success, when the most important reason for their lack of success can ultimately be found in themselves” [O sublinhado é nosso] (Rubin & Thompson, 1994:3)

 

Partindo deste pressuposto fundamental, acreditamos que os aprendentes que têm mais sucesso são aqueles que tenham em conta as seguintes características:

● Profunda paixão pelo objecto de estudo;

● Razoáveis conhecimentos de língua inglesa;

● Bastante tempo livre (de preferência, todos os dias);

● Grande dose de perseverança, (que impeça o aprendente de vacilar após os primeiros obstáculos);

● Excepcional poder de observação;

● Enorme capacidade para proceder a inferências;

● Boa capacidade para fazer associações de ideias e relações entre
              conceitos.

 

Embora reconhecendo que todas estas características são, na verdade, extremamente importantes, desde a emoção (implícita na primeira) até a um grande poder de observação (contemplado na penúltima e na antepenúltima), parece-nos pertinente ilustrar a última das características apontadas através de um exemplo que consideramos interessante. Assim, voltemos à lista de lexemas atrás enunciada. De entre eles, destaquemos Zug e Erziehung. À partida, nenhum aprendente português verá qualquer tipo de relação entre eles, como verá por exemplo entre trinken e to drink ou entre schwimmen e to swim. Provavelmente, já terá mais dificuldade em associar to order a drink com ein Getränk bestellen. Porém, se conhecer os tempos verbais do verbo trink (trinkt) – trank – getrunk que correspondem exactamente ao to drink (drinks) – drank – drunk, e se, cumulativamente, estiver habituado a proceder a inferências com um alto grau de sucesso, poderá inferir que Getränk provém do verbo trinken, no Präteritum (trank). A sua inferência está correcta. Porém, nem sempre é assim, devido à existência dos chamados amigos falsos, como é o caso de to pretend que significa fingir e não pretender. Como sabemos, pretender diz-se to intend. De qualquer modo, convém termos presente o facto de que, quando este afirma que “quanto maior for a competência lexical dos aprendentes, tanto menores serão as hipóteses de estes procederem a inferências erradas” (Marques, 2003: 272)

 

Passemos, então, a debruçar-nos sobre os lexemas Zug e Erziehung. Se soubermos que ambos derivam do verbo ziehen (puxar) e se, além disso, o soubermos conjugar (ziehen (2) [zieht] – zog (1) – gezogen), não demoraremos muito tempo até concluir que a relação entre eles é muito lógica, sendo aliás esta uma das principais características da língua alemã e que, como professor de Alemão, nem sempre tenho a capacidade de aproveitar cabalmente. Ambas as palavras têm a ver com o verbo puxar (ziehen). No caso de Zug, o “puxado”, em Português, comboio (que deriva do francês convoi, embora os franceses tenham recorrido ao verbo traîner para construírem le train). Com efeito, o Zug (1) (“puxado” / comboio) é puxado pela locomotiva. Por sua vez, o lexema Erziehung (2) (educação) relaciona-se facilmente com a acção de “puxar” uma criança para os conhecimentos teóricos e práticos, as normas de diversa índole inerentes a uma determinada sociedade.

Por forma a aumentar significativamente essa capacidade de se tornar extremamente lógica, a língua alemã tem a extraordinária capacidade de formar novos conceitos (Wortbildung / formação de palavras) através da aglutinação. É o caso de Handschuh (luva), Fingerhut (dedal) e Schlafanzug (pijama), entre muitos milhares de outros. O aprendente de língua alemã que seja suficientemente reflexivo e experiente também poderá socorrer-se de uma estratégia extremamente útil na redução dos lexemas opacos, que consiste na atribuição de significado semântico a determinados prefixos. Eis alguns:

 

ver-: normalmente, indica esforço ou tem uma carga negativa;

1.              Er hat seinem Sohn ein Fahrrad versprochen. / Ele prometeu uma bicicleta ao filho.

2.        Ich habe ganz vergessen, wie man das macht. / Esqueci-me completamente de como é que isso se faz.

 

er-: normalmente, indica graudalidade;

1.              Mein Sohn hat mir eine interessante Geschichte erzählt. / O meu filho contou-me uma história interessante.

2.   Erwachsene haben im Prinzip mehr Lebenserfahrung als Jugendlichen oder Kinder. / À partida, os adultos têm mais experiência de vida do que os jovens ou as crianças.

 

vor-: normalmente, dá-nos a ideia de antes, anterior ou à frente:

1.              Du musst deine Vorurteile abbauen. / Tens  de deixar de ter tantos preconceitos.

2.              Eins von den Vorderbeinen des Pferdes ist verletzt. / Uma das patas da frente do cavalo está ferida.

 

zer-: normalmente, implica partir em pedaços, desfazer em pedaços:

1.              Der Koch hat die Butter schon zerlassen. / O cozinheiro já derreteu a manteiga.

2.              Im Krieg wurden viele Häuser durch Bomben zerstört. / Na guerra, muitas casas foram destruídas pelas bombas.

 

ur-: normalmente, dá-nos a ideia de antiguidade, origem:

1.           Ihr Urgroßvater hieß Wolfgang Schneider. / O bisavô dela chamava-se Wolfgang Schneider.

2.              Die Ursprünge des Tangos liegt in Argentinien. / O tango tem as suas origens na Argentina.

 

ge-: normalmente, pressupõe a ideia de colectivo:

1.              Ich reise immer mit wenig Gepäck. / Viajo sempre com pouca bagagem.

2.           Tobias hat sechs Geschwister. / O Tobias tem seis irmãos (e irmãs).

 

an-: normalmente, liga-se à ideia de junto de:

1.              Er hat mich mit seiner Grippe angesteckt. / Ele pegou-me a gripe.

2.       Sie benimmt sich immer anständig. / Ela porta-se sempre decentemente (junto às normas).

 

aus-    : normalmente tem a ver com a ideia de fora:

1.              Er stieg (aus dem Unternehmen) aus, weil man ihn zu wenig bezahlte. / Ele saiu da empresa, porque lhe pagavam pouco.

2.              Wie spricht man dieses Wort aus? / Como é que se pronuncia esta palavra?

 

ein-: normalmente, refere-se a algo que está dentro:

1.              Er hat die Tür eingebrochen. / Ele arrombou a porta.

2.              In letzter Minute fiel ihm ein, dass er einen Termin beim Zahnarzt hatte. / No último minuto, lembrou-se de que tinha consulta marcada no dentista.

 

  

auf-: por vezes, implica a ideia de para cima:

1.              Normalerweise stehe ich um sieben Uhr auf. / Normalmente, levanto-me às sete horas.

2.              Nach dem Krieg erfolgte der Aufbau der Städte. / Ao fim da guerra seguiu-se a reconstrução das cidades.

 

über-: normalmente, implica a ideia de sobre:

1.              Übertreib nicht so! / Não exageres!

2.              Sie hat die Operation gut überstanden. / Ela reagiu bem à operação.

 

unter-: normalmente, liga-se à ideia de debaixo de:

1.              Das Glückspiel war sein Untergang. / O jogo deu-lhe cabo da vida.

2.              Sie biss sich auf die Unterlippe. / Ela mordeu-se no lábio inferior.

 

um-: normalmente, pressupõe a ideia de à volta de:

1.              Dieser Arzt weiß mit Kindern richtig umzugehen. / Este médico tem jeito para lidar com crianças.

2.              Er sieht nach einem Geburtstagsgeschenk für seine Tochter um. / Ele anda à procura de um presente de aniversário para a filha.

 

miss-: normalmente, aponta para a ideia de falha:

1.              Es herrschen Missstände in vielen Ländern, besonders in der Dritten Welt. / Em muitos países, especialmente nos do Terceiro Mundo, há muitos atropelos à dignidade humana.

2.              Du hast mich missverstanden. / Percebeste mal o que eu queria dizer.

 

un-: normalmente, refere-se à ideia de in-, des-:

1.              Das ist ja unglaublich, welche Frechheiten er sich erlaubt! / É incrível o tipo de tropelias que ele ousa fazer.

2.              Das ist eine (un)angenehme Überraschung. / É uma surpresa (des)agradável.

 

ent-: por vezes, liga-se à ideia de fuga, afastamento, des-:

1.          Der Häftling konnte der Polizei entkommen. / O prisioneiro conseguiu escapar à polícia.

2.         Entschuldigen Sie bitte meine Verspätung. / Desculpe ter chegado atrasado.

 

 

haupt-: normalmente, implica a ideia de principal:

1.      Campanhã ist Portohauptbahnhof. / Campanhã é a estação principal do Porto.

2.      Das ist die Hauptsache. / Isso é o mais importante.

 

 

Infelizmente, e ao contrário do que acontece com os prefixos, os sufixos são semanticamente neutros, isto, é, através deles não conseguimos descortinar o significado do lexema ao qual se encontra ligado.

 

Foi nosso objectivo não fazer demagogia, não dando a entender ao aprendente que a língua alemã era realmente tão transparente como o Castelhano ou Francês. De facto, não é. E por esse simples facto poderá constituir uma mais-valia, já que poderá ser mais útil ao aprendente a nível profissional, aquando da sua entrada no mercado de trabalho ou da promoção para um emprego mais interessante intelectualmente e, em princípio, também mais bem remunerado. Como é óbvio, é sempre preferido quem tiver mais e melhores qualificações (incluindo as linguísticas), independentemente da sua formação-base. Como dizem os Alemães, Die Qualität setzt sich durch. (A qualidade impõe-se.). Chegou a altura em que mais do que nunca é imperiosamente urgente munirmos os nossos jovens de competências que lhes permitam um alto grau de empregabilidade num mundo em franco progresso científico e tecnológico. São estas competências que nos irão permitir entrar definitivamente na chamada ‘sociedade do conhecimento’ que está intimamente ligada à conhecida fórmula dos 3 Cs (Conhecimento, Competência e Competitividade).

 

Como facilmente se poderá constatar pela análise da estrutura do tipo de exercícios apresentados, o nosso grande objectivo não é fornecer ao aprendente todas as ferramentas que lhe permitam dominar todos os constituintes da língua. Por exemplo, omitimos quase toda a gramática. Esta aprende-se muito mais facilmente do que o léxico pelo simples facto de o número de itens gramaticais ser muito menor do que os lexemas.

A este propósito, Rodríguez & Sadoski afirmam o seguinte:

 

“A large vocabulary is, of course, essential for mastery of a language. Second languages acquirers know this; they carry dictionaries with them, not grammar books, and regularly report that lack of vocabulary is a major problem…” (Rodríguez & Sadoski, 2000: 386)

 

Na verdade, se dissermos Our brother not like of paint., em vez de Our brother doesn’t like painting., poderemos ser muito mais facilmente compreendidos por um Inglês do que se dissermos My irmão doesn’t gosta pintar.. Sendo inquestionável que a gramática constitui uma parte muito importante da língua, a verdade é que, demasiadas vezes, se sobrevaloriza a gramática em detrimento do léxico, por razões óbvias. Para se colmatar essa lacuna grave, importa dar-se também ênfase à aprendizagem do léxico, tendo-se sempre a preocupação de se partir de lexemas conhecidos para os desconhecidos. Efectivamente, „das Lernen ist nur dann ergiebig, wenn man neues Wissen in bereit vorhandenes integrieren kann“ (Bimmel & Rampillon, 2000: 7). É, assim, imperioso que o aprendente (autodidacta ou não) se proponha atingir uma bateria muito substancial de léxico. Estamos certos de que esta, devidamente apreendida e consolidada, através de muita perseverança, lhe irá permitir entender, com algum desembaraço, textos autênticos em língua alemã, quer estes se encontrem em livros, revistas ou jornais.

 

As frases que apresentamos na segunda parte são quase todas infinitivas. Por exemplo, no exercício A (1–12), a primeira frase que surge é: a) seinen Vater / seine Mutter lieben; amar o seu pai / a sua mãe. Isto quer dizer que o sujeito é indeterminado. É, por exemplo, ele ou ela. Portanto, poder-se-á ler Er liebt seinen / seine Mutter. ou Sie liebt ihren Vater / ihre Mutter. No entanto, tal já não acontece no exercício: A (01-12) e) Liebeskummer haben (Sein Bruder… ); não ser correspondido no amor (O irmão dele…). Aqui, temos de respeitar as palavras em itálico que se encontram dentro do parênteses, pois são elas, em cada caso concreto, que determinam qual é realmente o sujeito da frase em causa. Neste último exemplo, queremos referir que o sujeito é sein Bruder. Portanto, a frase normalmente escrita será: Sein Bruder hat Liebeskummer. É óbvio que não foi inocente a escolha de (Sein Bruder...), em vez de, por exemplo, (Sein Schwager... ) ou (Sein Vetter... ).

 

O facto de a palavra Liebeskummer se apresentar parcialmente a negrito quer dizer que existe uma relação mais ou menos directa (consoante os casos) entre os vários constituintes dos lexemas. Neste caso específico, existe uma relação estreita entre o substantivo die Liebe (o amor) e o verbo lieben (amar). Por sua vez, também existe uma relação forte entre o substantivo der Kummer (a preocupação) e o verbo sich um seinen Sohn / seine Tochter kümmern (preocupar-se com o seu filho / a sua filha).

 

Parece-nos fundamental que o aprendente, desde muito cedo, se habitue a entrar em contacto com textos autênticos, ainda que de uma forma bastante gradual. Em vez de tentar a façanha (quase sempre traumatizante) de se lançar na leitura de uma notícia qualquer de jornal, deverá seleccionar apenas aquelas, com cujo tema se sinta mais identificado. Além disso, numa fase inicial, poderá ficar-se apenas pela leitura das parangonas mais apelativas. Os jornais sensacionalistas são quase sempre de evitar, devido à linha orientadora que os caracteriza, mas têm a enorme vantagem de terem muitas imagens, títulos com letras muito grandes e notícias pequeninas na última página. O aprendente deverá avançar apenas, na medida em que isso lhe der prazer. A pouco e pouco, e à medida em que os seus conhecimentos se vão aprofundando, deverá ser mais exigente consigo próprio e aplicar um pouco mais de esforço ao seu estudo. Ele é essencial, pois sem ele nunca poderá sentir quaisquer progressos palpáveis. A recompensa também começa a surgir progressivamente. Dentro do possível, o aprendente deverá evitar recorrer a quaisquer dicionários. Em vez disso, convém que tente inferir o sentido das palavras desconhecidas através das conhecidas. Se tiver de o fazer, deve recorrer a dicionários unilingues relativamente volumosos (com cerca de 1200 palavras). Quanto mais pequenos são os dicionários, mais imperfeitos são. Porém, nem sempre os dicionários unilingues mais volumosos são os mais aconselháveis para aprendentes estrangeiros. Só em caso extremo, o aprendente deverá recorrer a dicionários bilingues para procurar o significado de um lexema, pois terá mais hipóteses de seleccionar a palavra inadequada ao contexto em questão do que se socorrer de um dicionário unilingue. Além disso, ao consultar dicionários unilingues está a aumentar os seus conhecimentos lexicais quase de uma forma inconsciente, pois, ao folheá-lo, os seus olhos sentir-se-ão levados a “pousar” em lexemas que, em princípio, não estaria a pensar encontrar, mas que, por qualquer razão lhe prenderam a atenção, o que não deixa de ser um método de estudo muito interessante e eficaz.

 

Sempre que encontrar uma colocação ou expressão idiomática que considere importante, o aprendente deverá sublinhá-la e dar-lhe uma “cotação” (por exemplo, de 1 a 5). Paralelamente, deverá indicar, nas últimas páginas em branco do seu dicionário, o número da página em que essa colocação ou expressão idiomática se encontra, seguida da “cotação” que achar que a sua importância merece. A atribuição do valor terá, naturalmente, a ver com o grau de frequência com que a colocação em questão surja numa conversa do quotidiano. Damos muita importância aos substantivos abstractos muito usados (embora os substantivos concretos frequentes não sejam de se negligenciar), aos verbos frequentes e aos adjectivos mais comuns. Assim, parece-nos que, à partida substantivos abstractos muito usados, como por exemplo, Unterschied (diferença), Mut (coragem), Erfolg (sucesso), Abstand (distância), arbeiten (trabalhar), Fluss (rio) devam ser mais urgentemente apreendidos do que outros menos usuais, como por exemplo, Schwelle (soleira), Grabstein (lápide) ou schaukeln (embalar). A propósito de Abstand, podemos dizer beim Autofahren großen Abstand vom Vordermann halten (ao conduzir, manter uma boa distância em relação ao carro da frente), mas já não podemos dizer beim Autofahren große Entfernung vom Vordermann halten. Essa afirmação seria perfeitamente hilariante, visto que Abstand se utiliza para as distâncias pequenas (medidas em metros), enquanto Entfernung se emprega para as distâncias grandes (medidas em quilómetros). Daí que os lexemas devam ser sempre aprendidos em chunking, sendo fundamental que o aprendente tente encontrar a categoria morfológica de um determinado lexema desconhecido ainda antes de tentar inferir o seu significado através do contexto em que se encontra. A este propósito Leiria defende que:

 

 “Chunking, ou seja, isolar e identificar sequências, surge, assim, como um processo geral que preside à aquisição de uma língua 2. Aprender a estrutura de uma palavra implica identificar unidades, a sua sequência particular em palavras e as probabilidades de sequencialização geral numa língua particular. (…) Aprender a classe gramatical de uma palavra, em geral, implica a análise implícita e automática da posição das palavras umas em relação às outras. (…) Porque o princípio idiomático preside a uma boa parte do discurso fluente, aprender a estrutura discursiva implica, em grande parte, aprender sequências particulares de palavras em combinatórias e outras sequências habituais ” (Leiria, 2001: 125).

 

Por sua vez, também Ellis (1996) considera que “speaking natively is speaking idiomatically”. Esta noção de chunking parece-nos, de facto crucial. Para além das colocações, cujo exemplo referimos através do substantivo Abstand (einen großen Abstand), podemos também socorrer-nos de frases idiomáticas para frisarmos que a ideia de chunking é essencial em qualquer língua. Ao provérbio português “Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer” corresponde o provérbio alemão “Morgenstund’ hat Gold im Mund.” (A hora da manhã tem ouro na boca.) Parece-nos evidente o facto de que, nesta sequência particular, assim como em muitas outras, não se poder substituir Gold por Diamanten, nem Mund por Hand (mão) ou Kopf (cabeça). Do mesmo modo, na colocação “estar nas suas sete quintas”, o lexema quintas não se pode substituir por herdades ou granjas.

 

Todavia, outras colocações existem em que as alterações de determinadas unidades são possíveis. Por exemplo, passar férias no Algarve / em Creta / na montanha (den Urlaub an der Algarve / Auf Kreta / in den Bergen verbringen). De qualquer modo, já não de poderá dizer: O tempo passa depressa / devagar., usando o verbo verbringen. Teremos de empregar o verbo vergehen. (Die Zeit vergeht schnell / langsam.)