Eram duas crianças. As idades rondavam os dez anitos.
Ligavam-nos uma grande amizade. Tinham nomes: um, era o Manuel;
o outro, o Gabriel. Residiam na mesma rua. Aí jogavam futebol e
muitos outros jogos, consoante a época do ano: pião, botão,
malha, etc.
Oriundos de famílias pobres, remediadas, estudavam na mesma
Escola Primária. Ao Manuel já tinha falecido o pai; ao Gabriel,
o pai e a mãe. Decorria o ano de 1944.
O tempo foi passando, Com ele, a amizade entre eles foi-se
solidificando.
Em 1954, foram os dois à inspecção militar. O Manuel ficou
livre; o Gabriel, apto para o serviço.
Depois de fazer a recruta no Continente, o Gabriel foi prestar o
serviço militar para Goa, antiga Índia Portuguesa. Alcançou o
posto de sargento.
Foi uma longa separação entre os dois amigos, porque o Manuel
foi residir para a Beira Baixa, devido aos seus afazeres
profissionais.
Manuel e Gabriel eram pobres, mas honestos e honrados. As
circunstâncias afastaram-nos pela vida fora. Estiveram separados
durante longos anos, anos que pareciam não mais ter fim. Todavia,
a roda da vida juntou-os novamente, na praça principal da sua
terra. Encontraram-se por acaso.
Deram um abraço bem apertado, bem no centro do Jardim, um
abraço carregado de imensas saudades, saudades que
sentiram durante tanto tempo.
Poucas semanas depois, voltaram
a reencontrar-se. Para festejar este segundo encontro, decidiram
comprar um bilhete da lotaria. E este festejo vale-lhes o
primeiro prémio.
Surpreendidos com todas as
coincidências que a sorte lhes proporcionara,
decidiram que só guardariam metade do prémio. A outra metade
ofereceram-na a algumas casas de caridade e a Obras de
Solidariedade Social.
Foi um óptimo gesto, que só
enobreceu quem o praticou.
Aveiro, 1 de Abril de 2004.
Domingos de Guimarães.
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