JOGO DO PIÃO
Quando havia bom tempo, jogávamos ao pião.
Depois de o lançar, quem o fizesse girar durante mais tempo
tinha direito a dar umas quantas ‘bicadas” com a ponta de ferro
do mesmo nos piões dos colegas que perdiam. Mas para não
estragar os piões que se lançavam, cada interveniente no jogo
levava sempre um pião suplente, já um pouco estragado.
Os piões também serviam para os apanharmos, enquanto giravam (e
quanto mais girassem, melhor). Colocávamo-los a girar e, depois,
apanhávamo-los na palma da mão, usando, para o efeito, os dedos
indicador e médio. Também o apanhávamos do chão, a girar, entre
os dedos polegar e indicador e, sempre a girar, no lado direito
da unha do polegar.
Era um regalo!
JOGO DO BOTÃO
Por vezes, de manhã, ainda na cama, — após uns sonhos risonhos,
próprios de crianças —, acordava ao som de umas pequenas e
suaves pancadas na “minha porta” da rua. Era sinal de que os
meus amigos das brincadeiras se encontravam já a praticar o jogo
do botão. Eu acordava imediatamente o meu irmão Chico e lá íamos
também os dois para a... «jogatina»!
Este jogo consistia no seguinte:
era feito ou jogado por dois colegas. Eram necessários dois
botões de ceroulas. Alternadamente, cada jogador tinha de bater
o seu botão de encontro a uma porta. Se o Joaquim, por exemplo,
lançasse o botão e ele ficasse no chão a menos de um palmo do
outro, o adversário tinha de lhe entregar um outro botão como
recompensa. E o jogo prolongava-se por largos minutos até
estarmos cansados ou saturados do mesmo jogo, ora ganhando, ora
perdendo um botão.
Escusado será dizer que cada um tinha por vezes um saquito cheio
de botões. E de onde vinham estes botões? «Esmifrávamos» dos que
havia na casa de cada um de nós, ou, simplesmente,
arrancávamo-los das camisas, das calças, das cuecas e dos
vestidos dos familiares! Em compensação, quando uma mãe ou uma
irmã necessitasse de determinados modelos de botão, tinha
autorização para ir “ver” no saquito. É que neste alforge havia
botões de todas as espécies e feitios! Até de sobretudos e de
gabardinas!
Se fosse hoje, eu abria uma loja dos trezentos!
Aveiro,
11 de Outubro de 2004
Domingos
Alves da Costa.
|