Nelson Martins Machado Lopes


Poema da preocupação

 

A uma baiana sumida

 

Parte I

 

Não ligues, pá,

Pois dei de magicar poemas...

Mas olha lá:

Por cá saudades tenho

E canto e clamo e venho

Num halo a reluzir nas rimas.

 

Vate sim,

Que sou a bordejar nas luas!...

Fenece assim,

A crença nesta aldeia...

Por mais que eu ouça e leia,

Não tenho mais notícias tuas!

 

Triste afã

Será calafetar as frestas

Da ideia vã

Que eu tenho do teu vulto,

Falaz e devoluto,

A sibilar em ondas lentas. 

 

           Parte II

 

Eis-me então

Meditabundo em meu semblante... 

Mas dentro não,

Que a mente é receosa,

Mosqueia-me nervosa,

Num coruscar rumorejante.

 

Este poeta

É ígneo criador de mundos

E rebenta

De flamífera poesia,

À beira da agonia

E dos temores mais profundos.

 

E aqui vai

A iniludível sonda lusa

Que de mim sai

Em busca dos sinais...

Dos risos ou dos ais

Que guardas no calar da musa.

 

  

           Parte III

 

Ai de mim

Se foi tredo o teu destino!

Neste jardim,

Ouvi choros plangentes...

E até brados pungentes

Dum ulular mais feminino.

 

Ó amiga,

Que pandilha ou sorvedoiro...

Que intriga

Álgida e argêntea     

Toldou a luz cutânea

Que, hoje, és sol tão sumidoiro?!

 

Parte IV

 

Para tratar

Da tua eventual modorra,

Eu quis te dar,

Na forma transcendente,

Um círio iridescente

Que fosse a chave da masmorra. 

 

E assim nasceu,

Pletórico e sobrelevado

(subiu no céu!),

O garbo destes versos

Côncavos e convexos,

No plano em mim Alinhavado.

 

Porém, no meio,

Manietado entre dois flancos,

O receio

É todo o arcabouço;

Vai dentro do rebuço,

Armado aos trancos e barrancos.

 

Parte V

 

O breu maior

Fez-me capitular a vida

Que sei de cor

Na pele de toupeira

Que rasga a terra inteira

Aquém e além da luz perdida.

 

Os condores

São pressurosos, mas inúteis!...

E por não seres,

Faz-te (se te fizeste

da flor de que te fiaste)

Um beija-flor de asas vibráteis.

 

Se for preciso,

Da mente dar-te-ei caminho

E, do sorriso,

A força; do coração,

O carnaval e, da mão,

O sim adscrito do carinho.

 

É tão nossa

A cálida maré dos nervos...

Mas mal se possa,

Há que ganhar alento

Sorvendo do momento

Um sonho que nos torne novos.

 

Volta sempre

À placidez da amizade:

Quem diz cumpre,

Agora e no futuro,

De peito franco e puro,

Todas as leis da lealdade.

 

A dor mantém

O acre gosto da desgraça,

Mas também

Prosélito é o mundo 

Que muda até ao fundo...

Se aquiescermos na mudança!

 

 

           Parte VI

 

 

Nestes versos,

Vim pespegar-te a luz dos ares

E, a sóis imensos,

Atei lustres e velas,

Fiz um colar de estrelas

Que podes pôr, se assim quiseres.

 

Do meu peito

O verso zarpa espaventoso.

Bem a preceito,

Não pôde ser pelanga

Nem cera, vime ou ganga...

Do ralo fez-se o planturoso!

 

Ó Ser Mulher,

Perdoa-me o fragor do adejo,

Pois se te der

Enlevo, viço e graça

Num hausto de esperança, 

Terei da vida o que eu almejo!

 

Ainda volteia...

Porém, terrivelmente às pressas,

Já bruxuleia,

Quiçá aliterante,

A flâmula pedante 

Da volta viva das Vanessas.

 

Parte VII

 

Menina que és da voz um canto,

Se não cantas por ter sal o pranto,

Devolve o sal ao mar e pronto,

Menina que és da voz um canto!

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Inserido em
13-01-2009