Nelson Martins Machado Lopes


Desencontro de morcegos

 

                                      I

 

Olha!... É o cego

Com os seus olhos que não podem ver!

Como o breu... tão escuro!

 

Olha que morcego!

E suas mãos não param de mexer!

Fatigantes? Tacto puro!

 

Longe o vês

Dos prazeres teus

De mulher que tu és:

Um eterno adeus

Carrega-te nos pés.

 

Ele nos constrange...

Por receio, eu sou por recear.

Como faço?... Que lhe digo?

 

Homem, não me beije.

Estes lábios são de contemplar!

Como posso?... Não consigo!

 

Nunca tentei

Demolir barreiras

E até desdenhei

Cruzar fronteiras

Que na mente tracei.

 

Pena que deprime,

Representas um imenso mar

De problemas, de lamentos!

 

Filha, é um crime

Ser muleta para alguém andar.

Que loucura! Vis intentos!...

 

Tenho pudor:

Do casal serás

Dissonância de amor

E, por fim, terás

Dos meus pais... o rancor!

 

Por Deus!... Qual bengala!

Quer deixá-la para tê-la em mim?

Nunca sofro. Nem sou Cristo!

 

Veja... sou tão bela

E a vergonha já não tem mais fim!

Meus amigos... Saia ou grito!

 

Peço perdão,

Mas nem é meu sonho

Viver a paixão

Desse amor estranho

Com quem não é são.

 

                                      II

 

Sou um tormento por tudo o que vejo

E por tudo aquilo que não vejo.

Mas se os vossos olhos se abrem no despertar,

Os meus se fecham porque sempre acordo a sonhar.

  Página anterior  Página inicial  Página seguinte

Inserido em
13-01-2009