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Eduardo Manuel Maia Figueiredo


O pentagrama sagrado da juventude
e
Uma razão de professor

 

                    I
            A PROVA

Tu enredas e enrolas,
enrolas e ficas enrolado.
Tal enredo é formado,
que a forma, tu rebolas.
No enredo, tão enfiado,
enrolo-me, enredado.
Tão enredado e ficado,
que, de repente…bolas!
Num rebolado enredo,
Teu enredo, enrolado,
rebola pelas salas.
Enredado e enrolado,
teu enrolado enredo,
é rolado e enrolado…
No cesto…fica parado.

 

                    II
          O CHICLETE

Atento, esmagas e trituras,
moes, mastigando e triturando.
Pisando e cilindrando,
mascas, esborrachando e espalmando.
Fascinado, a boca entreabres,
soltando o som, dilacerando. 
Salivas e ensalivas e mastigas,
e pisas, e mascas, e moes, e esmagas.
Pasmado, a boca escancaras.
girando, esticando, soprando.
E sopras, regalado, e inchas, estalando.
Moído, cansado e obrigado,
paro, de repente, o teu mascado:
e lá vai ele, branco de torturado,
secar, no fundo do cesto…colado.

 

                   III
           A MÚSICA

O som, ressoa, reboa,
tange, range, confrange.
O timbre, aguça, esmiúça,
mia, chia, esguia.
O tom, rebola, embala,
assusta, espanta, abala.
A voz, grita, agita,
palita, rebita, evita.
Paras, olhas, escutas,
Travas, aceitas as lutas.
Travas as lutas que escutas,
escutas as lutas que travas.
Vives p’ra escutar lutando,
não lutas p’ra viver escutando.

 

                 IV
            A MODA

Do fundilho apertado,
vais p’ró balão enfunado.
Da biqueira, o arredondado,
ao tormento, calo apertado.
Da saia, de repente, mudas,
p’rás chamadas bermudas.
Do calção, fizeste saias,
que nem o são, nem saias.
Impante, passas nas praias,
quase sem pano, nem vaias.
Dos brincos, fizeste dois:
pões um agora, outro depois.
Com guizos chocalhantes,
espalhas sons tilintantes.
São berloques e berloquinhos,
grandes e pequenininhos.
O cabelo, anda atirado:
ao alto, de lado, despenteado.
Teu corpo, serpenteias pendurado,
no tacão que partes no empedrado.
Tuas faces, frescas, lisas, limpas,
cobres, riscas, sujas, pintas.
Que bom que é, ter virado os trintas,
e estar livre de todas essas fintas!...

 

                   V
           SEM NOME

Olhas, ansioso, o corredor.
Miras o relógio, com amor.
Olhas, ansioso, o corredor.
Miras o relógio, com amor.
Andas, aceleras e espreitas,
atento, observas pelas portas.
Perguntas, indagas, interrogas,
sem cessar, tornas e retornas.
Olhas, ansioso, o corredor.
Miras o relógio, com amor.
Olhas, ansioso, o corredor.
Miras o relógio, com amor.
Perguntas, indagas, interrogas,
olhas, ansioso, o corredor.
Atento, observas pelas portas,
sem cessar, tornas e retornas.
       Miras o relógio, com amor.
       Não anda? Estará ele parado?
Então, TRISTEMENTE alegrado,
Saltas de lado para lado:
É feriado!... É feriado!...

 

 

RAZÃO DE PROFESSOR
QUE DEUS É O TEU?

Esse Deus primeiro? O Verdadeiro?
Esse deus segundo, o dinheiro?
Esse deus terceiro, tão falho, o trabalho?
Esse deus sem fundo, o Mundo?
Qual pões tu primeiro? O segundo?
Como ter o segundo sem o terceiro?
E onde encontrá-lo, senão no Mundo?
Não é isto Verdadeiro?
Não é O PRIMEIRO?

11/01/1982

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