Três poemas a meu marido
(com saudade)

 

                     

Era uma vez um homem
que sonhou pintar
com tintas e pincéis de verdade.
E pintou,
porque sabia «ver».
Pintou quadros
com mestria,
com alegria,
com prazer.


Mas um dia,
lutou e...
já não sentia gosto;
e para ali se ficou.
Entrou em apatia
aquele Homem
que, um dia, sonhou
pintar com destreza
e «arrancar» cores à Natureza.

       Aveiro, Maio de 1991

 

                        


Se pouca vida já não tinhas,
se fantasmas já rodeavam o leito,
onde dormir não conseguias,
veio a Morte,
que te bebeu a pouca vida
que ainda tinhas.


Eu não consigo chorar;
(também não sei rezar).
Fico à espera
que chegue em pouco
o abraço fatal
que enlace meu corpo,
que não é imortal!

       Aveiro, Novembro de 1992

 

                           

 

Dia cinzento.
Nove horas da manhã!
E o dia é triste.
Sol... onde está o sol?
Ah! Hoje não existe:
cobre-o qualquer lençol.
Não há risos para dar:
está pesado, o ar.
Quatro horas da tarde!
E o dia é triste...
o sol não existe.
Sete horas da tarde:
há sol, além no Ocidente;
brilha agora, vermelho,
no portão do Sol-Poente.
E amanhã?
Amanhã o sol,
pode vir e brilhar;
Não será para todos.
Aqueles que fecharam os olhos,
às onze horas da noite,
amanhã, descansarão:
não vêem mais o Sol
nem os olhos daqueles
que, saudosamente,
os chorarão...

           Luso, Novembro de 1992

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