1ª
Cena
(Core
está no mundo inferior, abúlica e chorosa.)
Perséfone
— Ó Deméter, minha mãe! Como sinto saudade do teu carinho!
E da luz dos campos que Zeus ilumina e da cor das flores que
perfumam o ar! Aqui, no Hades, só há frio, sombras e
melancolia... Recuso-me a comer para não esquecer o sabor dos
frutos que ajudas os homens a colher para seu alimento e ofertas
aos deuses. Deméter, minha mãe adorada!... Sofro os tormentos
do cárcere, rodeada pelas águas do Letes, que Caronte, o
barqueiro, todos os dias atravessa na sua barca, trazendo os
mortais defuntos para este submundo que é o reino de Hades, teu
irmão e meu tio. Não tenho mais lágrimas de tanto chorar, ou
já as não sinto, de tal maneira me acostumei a elas! (Pensativa.)
Lembro a minha vida simples e sã nos nossos bosques da Sicília,
onde era tão feliz, antes de meu tio Hades, furioso por não me
deixares desposá-lo, me ter raptado no seu fogoso corcel negro.
(De novo chorosa) Quando quiseste acudir aos meus
gritos de aflição viste a terra abrir-se e engolir-me para
sempre... Ai de mim!... Minha mãe Deméter, deusa dos campos e
das colheitas e de tudo o que tem vida e dá vida, recorda a tua
filha que jaz viva no reino dos mortos! Suplica a Zeus por mim,
que eu já não tenho forças para clamar piedade... Hades
quer transformar-me na rainha dos infernos, deste mundo inferior,
mas eu estou viva e gosto da vida. E gosto da liberdade de
correr pela campina, e colher flores, e banhar-me nas nascentes
de água límpida e fresca, e secar-me ao calor do divino bafo
de Zeus, deus do sol!... Pobre de ti, Core, que até o nome te
mudaram! Agora és Perséfone, aquela a quem o senhor do mundo
inferior raptou para fazer de ti a sua rainha...
E és infeliz entre as mais infelizes! A cor do teu rosto
já nem tem o brilho e a macieza do damasco maduro, nem a sua
cor, nem o seu perfume. Pobre, pobre de ti, Core! (Soluça
desesperadamente.)
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