História
Com mais de 170 anos de história, a freguesia de Nossa Senhora da
Glória integra a parte mais alta da cidade, situando-se na margem
esquerda do "canal central" da Ria de Aveiro que atravessa toda a
cidade. É uma freguesia de contrastes, ao mesmo tempo urbana e rural
mas sempre moderna e aberta ao exterior. Nem sempre fora assim. Até
1570, o povoado de Aveiro constituía uma única freguesia, cuja
matriz era a Igreja de S Miguel. Já assim o era desde que, por
vicissitudes ligadas à Reconquista Cristã e consequente
reorganização territorial entre os rios Douro e Mondego, o
incipiente "Alavário" seria um lugar avançado da região
conimbricense voltado para Norte. A Igreja matriz de então teria
sido erigida nos finais do século XI, por iniciativa de D. Sisnando,
Conde de Coimbra e vassalo de Fernando Magno, Rei de Leão.
Provas documentais referem também que já em meados do século X, a
Condessa Mumadona Dias possuía terras e salinas que, por doação de
26 de Janeiro de 959, passaram para as mãos do Mosteiro de
Guimarães. E fora assim até 1570.
Nesta altura, toda a região de Aveiro se incluía dentro dos limites
da Diocese de Coimbra, que se estendia até ao rio Antuã para Norte.
A partir de 1545, o bispado foi presidido por D. Frei João Soares,
frade agostiniano, que participou
/ 7 / no último período
do Consílio de Trento, após o qual, em 1564, iniciou uma
peregrinação a Jerusalém tendo, posteriormente, regressado a
Coimbra, já incumbido da tarefa de fazer aplicar as decisões tomadas
no Concílio de Trento. Para tal, ordenou um recenseamento prévio da
população em 1572 e o resultado foi, para a altura, retumbante:
11365 pessoas de comunhão. Achando que tal número superava o
razoável para uma freguesia, procedeu a uma reforma administrativa,
que passava pela divisão da vila em quatro paróquias. Contudo, a
igreja de S. Miguel pertencia ao padroado da Ordem de S. Bento de
Avis e, como tal, o Rei D. Sebastião teria de ser consultado, ou não
fosse ele grão-mestre da Ordem de Avis. O monarca anuiu e D. Frei
João Soares, por provisão de 10 de Julho de 1572, parcelou o
território nas seguintes freguesias: S. Miguel – composta pela quase
totalidade da vila muralhada e pelo bairro do Alboi, a ocidente;
Espírito Santo – agrupava parte da referida vila muralhada com os
conventos de
S. Domingos, de Jesus e de Santo António e estendia-se
para Sul, compreendendo Cimo de Vila, Vilar, S. Bernardo, Santiago e
parte da Presa e da Quinta do Gato; Nossa Senhora das Candeias ou da
Apresentação – a esta pertencia todo o território da Ria desde a
"cale da vila" até ao Canal de Ovar (S. Jacinto pertencia à
jurisdição de Ovar); e, finalmente, Vera Cruz que, dentro dos seus
limites, continha os conventos
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e ainda se alargava por parte da Presa e da Quinta do Gato. Estas
duas últimas freguesias constituíam, portanto, o norte do canal
central da ria, com a primeira a estender-se para poente e a segunda
para nascente.
Os resultados da divisão foram que S. Miguel ficou com cerca de 4500
habitantes e cada uma das restantes com cerca de 2500 habitantes. A
velha matriz manteve a parte mais nobre da vila e, claro está, a
mais distinta e a mais favorecida pela fortuna. Porém, ficou sem os
três conventos das Ordens Mendicantes de S. Domingos e de S.
Francisco. Esta divisão administrativa e territorial duraria até
meados do século XIX, numa altura em que já se notava o anacronismo
e a incompatibilidade da vetusta divisão do País com as necessidades
económicas e sociais. Com a Constituição de 1822, adivinhava-se já a
divisão do território nacional em distritos e a forma como se iriam
proceder todas as implementações administrativas aos níveis
judicial, político e civil. A Carta Constitucional de 1826 manteve
esse projecto e, em 1833, o território foi finalmente dividido em
oito províncias, nomeadamente, Minho, Trás-os-Montes, Douro,
Beira-Alta, Beira-Baixa, Estremadura, Alentejo e, finalmente,
Algarve que, por sua vez, foram divididas em comarcas e estas em
concelhos. Com toda esta reforma administrativa, a comarca de Aveiro
ficou situada na província do Douro.
Contudo, os graves inconvenientes provocados pela grande extensão
territorial das circunscrições administrativas provocariam a
abolição da divisão vigente em favor da divisão distrital,
subdividida, por sua vez, em concelhos. Desta forma, em 18 de Julho
de 1835, o Governo publica um decreto em que fixa em 17 o número de
distritos no continente, indicando o nome das suas capitais. Mais
tarde seriam nomeados os respectivos governadores civis. Após a
instituição do distrito de Aveiro e da entrada em funções de José
Joaquim Lopes de Lima, o primeiro responsável, as quatro freguesias
então existentes na vila foram reduzidas a duas, por alvará de 11 de
Outubro de 1835, assinado pelo governador civil.
Começa aqui a génese da freguesia de Nossa Senhora da Glória.
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O referido alvará, após aprovação eclesiástica em 13 de Outubro de
1835, constituía, a norte do canal central da Ria de Aveiro, a
freguesia de Vera Cruz, e a sul, a freguesia de Nossa Senhora da
Glória. O Bairro de Sá foi incorporado na primeira das paróquias,
enquanto a extinção das paróquias de Nossa Senhora da Apresentação,
S. Miguel e Espírito Santo dava lugar à de Nossa Senhora da Glória.
No que diz respeito às igrejas matrizes, a de Vera Cruz manteve-se
no templo que existia no actual Largo do Capitão Maia Magalhães,
sendo mais tarde transferida para a Igreja de Nossa Senhora da
Apresentação, onde ficaria a título definitivo. Quanto à freguesia
de Nossa Senhora da Glória, passou a ter a sua sede paroquial na
igreja do extinto Convento Dominicano de Nossa Senhora da
Misericórdia até 1858, data em que os documentos registam a
construção da torre da Igreja de Nossa Senhora da Glória.
Actualmente, a Matriz da freguesia encontra-se na Sé Episcopal.
Como
se estes pouco mais de 170 anos de história da freguesia não fossem
suficientes, a fortuna tratou de dar mais algum ânimo à freguesia. A
instalação da Universidade de Aveiro provou tratar-se de mais uma
alavanca ao
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económico e social da freguesia, que, pela presença em massa de
estudantes universitários, se dotou de excelentes infra-estruturas e
proporciona aos seus habitantes conforto e qualidade de vida, para
além de toda uma dinâmica cultural que, em conjunto com os aspectos
já referidos, centraliza ainda mais o papel fulcral que a freguesia
tem vindo a desempenhar desde há 170 anos. |