A norte do concelho de Arouca, entre este e o rio Douro, fica a área do Município de Castelo de Paiva, conhecida, com certa razão, pela «Suíça Portuguesa». Ali se alternam, surpreendentemente, vales, soutos, ribeiros, montanhas, alcantis, colinas e picos abruptos. As águas potáveis brotam abundantemente das pedras, juntam-se em ribeiros e engrossam os afluentes do Douro, em especial o Paiva e o Arda (Alarda dos muçulmanos), que limitam o concelho a Leste e Oeste, respectivamente.

À medida que as montanhas vão baixando até ao Douro, os córregos, por onde as águas esburacam a terra com as enxurradas violentas do Inverno e da Primavera, alargam-se em lindos e férteis vales. Neles se cultivam milho, centeio, batata, hortaliças, árvores frutíferas e a vinha. O vinho verde da região é afamado.

As torrentes, além de encharcarem os campos de cultura, movem azenhas, lagares de azeite e fábricas de Papel.

A abundância de regatos, ribeiros e rios, por outro lado, fornece grandes quantidades de peixe. É esta uma das riquezas mais antigas e mais constantes do concelho, fundado em 1260 por D. Afonso IIl, que lhe concedeu o primeiro foral. E tanto assim é que, no Foral da Terra de Paiva, se especifica:

«Paga-se mais nesta terra, outro direito no rio Douro, a saber – nos três arrinhos (areais) de Boyro, de Modõens, e de Douride (Pedorido) e de todos estes casaes, levão o quarto dos sáveis, e das lampreias, somente que se metão com Vargas.»

O clima salubérrimo, todas aquelas condições naturais e ainda uma grande riqueza em jazidas de minérios atraíram migrações de povos, desde os tempos longínquos da pré-história.

EXPLORAÇÃO MINEIRA QUE REMONTA

À IDADE DO FERRO

No subsolo de Castelo de Paiva existem o carvão, o cobre, o ferro, o estanho, o chumbo, o antimónio, o enxofre e o arsénio. Exploram-se ali, na actualidade, o carvão (de que existem dois grandes veios, um de argila carbonífera e outro de carvão fóssil), o antimónio e o chumbo.

Todo o concelho apresenta, no entanto, antiquíssimos sinais de exploração de minas. Os nossos antepassados das idades do ferro e do bronze deviam ter procurado arrancar à terra, ali, aqueles preciosíssimos metais, cuja mineração, trabalho e liga constituíram pontos altos da civilização.

Já nos tempos históricos, os celtas e os sarracenos prosseguiram o trabalho iniciado muitos séculos antes. Ainda hoje se podem ver, no concelho de Castelo de Paiva, diversas mós com que os sarracenos trituravam os produtos extraídos das minas, para deles tirarem o estanho, o chumbo, o cobre e o ferro. Exploraram, também, como hoje ainda acontece, pedreiras de granitos, xistos, calcedónias, granitos porfiróides e ardósias.

Um dos maiores atractivos turísticos daquela zona são os vestígios de monumentos pré-históricos e históricos. Por toda a parte existem antas e mamoas. Estes monumentos funerários foram violados pelos profanadores de túmulos, na sua ânsia de se apropriarem de «tesouros encantados».

No Castelo de Baixo, na margem do Douro, mesmo à borda de água, ficava aquele que foi o maior dólmen de Portugal. Era um enorme monumento funerário, assente em sete pilares gigantescos, feitos de três blocos de granito cada um. Estavam tão bem adaptados que se concluiu ter / 50 / implicado o trabalho de sobreposição o uso de instrumentos de ferro.

Sobre os pilares assentava uma laje de granito que tinha dezasseis metros quadrados! Esta mesa (ou ara) tinha desaparecido há muito tempo. No entanto, dos pilares ainda existe quem tenha memória deles. As águas do rio, nas suas cheias periódicas, destruíram-nos quase por completo. Só lá existem, hoje, ligeiros vestígios de um deles.

A LENDA DE UM CASTELO MOURO

DEU NOME AO CONCELHO

No lugar de Fundões há restos de um pequeno templo romano, cujo pavimento era em mosaicos de várias cores. Uma grande peça de mosaicos coloridos, achada em 1861, conserva-se na Quinta da Boa Vista, residência dos condes de Paiva.

Em Vegide, há uma ermida que foi templo romano e, no monte Corvite, vestígios de um almocabar (cemi tério muçulmano), de que podem ver-se as sepulturas cavadas na rocha.

Por outro lado, em Gervide, pode apreciar-se uma capela que foi mesquita árabe.

No ponto em que o Paiva desagua no Douro, ergue-se um ilhéu abrupto, que no Verão está ligado à terra, por uma língua de areia. Os enormes calhaus que constituem o cimo da ilhota fazem lembrar fortificações castrenses. Segundo uma tradição que remonta à Idade Média, teria existido ali um castelo sarraceno. Os arqueólogos interessaram-se pelo caso e pesquisaram o ilhéu cuidadosamente. Chegaram à conclusão de que jamais ali fora construído qualquer castro. De resto, nem haveria necessidade disso, pois, como ponto estratégico de excelente qualidade, o local apresenta qualidades naturais quase insuperáveis. Bastava ter existido ali um acampamento permanente, ou arraial, no género dos muitos que os árabes tiveram na Península.

A simples existência de tal acampamento e a silhueta da ilhota levaram o povo a chamar-lhe Castelo. Além disso, como aquelas terras eram as do vale do rio Paiva, o concelho ficou a ser designado como Castelo de Paiva.

NASCEU EM CASTELO DE PAIVA O BISAVÔ

MATERNO DE SANTO ANTÓNIO

A sede do concelho fica na freguesia de Sobrado. A vila é antiga, mas não tem edifícios dignos de interesse, a não ser a igreja matriz, templo vasto, claro e alegre (restaurada no princípio do século XVIII) e o edifício dos Paços do Concelho, construído pela Casa de Bragança no início do século passado.

Castelo de Paiva orgulha-se de ter sido a terra natal do bisavô materno de Santo António: D. Soeiro de Azevedo, pai de D. Maria Soares de Azevedo, mãe de D. Teresa de Azevedo, que casou com Martim (ou Martinho) de Bulhões. Foram estes os pais do popular Santo António. O paço de D. Soeiro de Azevedo era junto à matriz.

A vila recorda ainda a memória de outro homem ilustre, o primeiro Barão de Castelo de Paiva, António Costa Paiva, sábio naturalista e botânico, formado em filosofia por Coimbra, doutorado em medicina na capital francesa e apreciado escritor, que nasceu no Porto em 1806 e faleceu na ilha da Madeira, em 1879.

RENATO BOA VENTURA

 

 

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págs. 49-50