NÃO podia na realidade escolher-se melhor edifício para a instalação de um museu do que aquele em que está o Nacional de Aveiro. O próprio edifício é como que uma peça de museu, com uma legenda histórica das mais gratas para o sentir do povo português. É que o Museu Nacional de Aveiro está instalado no antigo Convento de Jesus, autorizado por bula papal de Pio II, datada de 16 de Maio de 1461 e pode dizer-se que desde a sua fundação contou com a presença da Infanta D. Joana, filha do Rei D. Afonso V, que se acolheu ali em 1472, assim lhe conferindo prestígio e privilégios vários, muito embora nunca chegasse a professar. Toda a gente conhece os passos de vida exemplar da princesa que seria Santa. Pois no Museu de Aveiro parece pairar ainda qualquer coisa dessa época agitada e incerta, por vezes até paradoxal em que se registam e confundem os grandes e pequenos momentos históricos.

Mas porque o edifício sofreu várias obras de renovação e ampliação num tempo que foi de grandeza – os reinados de D. Pedro I e D. João V, o barroco pôde deixar ali conjuntos de inigualável beleza, proporcionando o ambiente ideal para um Museu que é, sem dúvida, dos primeiros de Portugal. Dessa época a curiosíssima fachada que Soror Antónia Norberto, prioresa, mandou erguer, e ainda hoje pode admirar-se.

Terminada a existência do convento em 1874, foram a igreja e todo o seu património artístico entregues à Real Irmandade de Santa Joana Princesa, ficando as dependências conventuais ao serviço do Colégio que as «terceiras» dominicanas mantiveram a partir de 1884 até 1910, sob invocação da mesma Santa Joana. / 19 /

O decreto de 11 de Julho de 1911 confiava à Câmara Municipal de Aveiro as igrejas de Jesus e das Carmelitas, bem assim como os anexos conventuais; e pouco depois a portaria de 23 de Agosto estabelecia que «toda aparte do Convento de Jesus, contígua ao claustro e à igreja» deveria destinar-se à instalação de um museu regional de arte antiga e moderna.

Então, o carinho e saber de João Augusto Marques Gomes puderam revelar-se inteiramente, não só pela recolha de muitos objectos pertencentes a casas religiosas extintas, colecções particulares, etc., como através de uma sábia catalogação, assim reunindo uma série de verdadeiras preciosidades de várias épocas, que tornam particularmente valiosa uma visita ao Museu de Aveiro.

Na verdade há ali muito que admirar sobretudo no sector de arte religiosa (escultura, pintura, ourivesaria, talha, indumentária, etc.).

Bastará o precioso conjunto de talha dourada do antigo Convento e a sala e túmulo de Santa Joana Princesa, para colocar o Museu de Aveiro num lugar especialíssimo. Por tais motivos é que pode considerar-se que marca, conjuntamente com o «Grão Vasco», de Viseu, e o «Machado de Castro», de Coimbra, um trio artístico de primeira plano, capaz não apenas de valorizar as províncias das Beiras como até de concorrer para o próprio nível cultural da Nação Portuguesa.

 

 

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