Outra circunstância que atesta a importância de Aveiro é a criação do ducado, em 1547, tendo sido seu primeiro titular D. João de Lencastre, filho do referido bastardo e, portanto, neto de D. João II. O nono e último possuidor do título seria executado em 1759, acusado de comparticipar na conspiração alentada pelos marqueses de Távora. Este facto deu até lugar a um pormenor curioso que foi o de el-rei D. José pouco antes de elevar Aveiro à categoria de cidade, em 1750, ter-lhe mudado para Nova Bragança o seu nome. Porque o marquês de Pombal certamente exerceu
/ 16 / sua influência na decisão do soberano, quando D. Maria I sobe os degraus do trono para responsabilizar Sebastião José de Carvalho e Melo, naturalmente – e até porque seria necessário para a reabilitação dos Távoras – a cidade volta ao seu nome secular posto que, segundo alguns estudiosos, a identificação de Aveiro com Talabriga é um tanto fantasiosa.

A mercê real que eleva Aveiro à categoria de cidade tinha a data de 11 de Abril de 1759, sendo a 11 de Abril de 1774 decretada a bula que criou a sua diocese, extinta em 1882 e restaurada pouco tempo depois.

Estes os breves apontamentos históricos da bela cidade que foi berço de vários nautas, entre eles João Afonso de Aveiro, companheiro de Diogo Cão, dessa curiosa figura de mulher, Antónia Rodrigues, que apenas com quinze anos não hesitou em vestir trajos varonis para combater pela pátria, e de José Estêvão Coelho de Magalhães, cujo centenário foi recentemente assinalado com várias comemorações. Mas por sua natureza, pela índole da sua gente, por exigências da própria situação geográfica, Aveiro não pode ser uma cidade virada para o passado. E não é. Centro da região da beira-mar, no coração da Beira Litoral tem de reunir todas as condições que lhe permitam corresponder à imensa actividade de todo o vasto distrito que domina. E o certo é que Aveiro tem correspondido a essa solicitação, com todos os recursos próprios de uma cidade moderna que sabe que tem de estar atenta já que uma evolução de sistemas estará sempre presente no progresso industrial das regiões que domina.

Turisticamente, Aveiro tem no panorama português um lugar ímpar. Toda a zona da beira-mar constitui um dos motivos mais curiosos da decoração natural que pode oferecer-se ao visitante, / 17 / até porque é imensamente valorizada pela sua riqueza em aspectos típicos, diremos mesmo, originais. Existe em toda ela uma variedade que no entanto se irmana milagrosamente a dar homogeneidade e portuguesismo às expressões mais diferentes. Entre os tipos que trabalham no mar ou no rio, e do mar ou do rio vivem, e aqueles que se curvam sobre a terra, na exploração agrícola, existem uma série de características diferentíssimas que, no entanto, têm qualquer coisa de comum a «dar Portugal», a «fazer sentir Portugal» com uma intensidade, com uma verdade que não é fácil encontrar noutras regiões. Há, pois, ali um valor etnográfico que não foi ainda convenientemente explorado sob o ponto de vista turístico.

Sendo Aveiro o fulcro de todos esses aspectos e para mais surgindo entre línguas de água que possibilitam inúmeras praias como um imenso lido, não pode espantar que se haja afirmado o seu lugar impar no turismo de Portugal. E esse carácter único e admirável - que existe de mais belo que a ria e os seus canais? – dá-nos imagens que falam a todas as sensibilidades – o que justifica e torna compreensível que uns, maravilhados pelos seus horizontes lhe chamem a «Holanda Portuguesa» enquanto outros impressionados da poesia dos poentes na ria e nos canais a crismem de «Veneza Lusitana».

A compor todo o quadro natural, a conceder-lhe uma vivacidade sem preço, a presença desse bom povo da beira-mar, o delicioso perfil das tricanas de «clássica fama e graciosidade escultural».

E para que nada falte ao melhor «arranjo» turístico, apreciados que foram os horizontes grandiosos e a combinação das terras com as águas, tão cheia de poesia e pitoresco, diremos ainda que Aveiro possui uma cozinha regional de um tipicismo forte e uma especialidade que nenhum império desdenharia possuir: os famosos ovos moles de A veiro – base de um artesanato que se revela magnífico nas simples barricas em que é oferecido ao comprador.

 

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