IMPRESSÕES DE SANTA CAMARÃO
NA
intensa actividade desportiva de Aveiro também encontrámos um pugilista
de vulto, antigo campeão nacional de «box», muito conhecido nos meios
internacionais.
Passando
por Ovar, quisemos ver Santa «Camarão», que ali vive em casa de seus
pais, afastado das lides do ring, embora com saudades desses tempos de
luta.
O antigo
boxeur guarda as melhores recordações, que logo nos transmitiu,
num crescente entusiasmo, durante ligeira troca de impressões.
Contou-nos como o lutador Manuel Grilo reparou na sua estatura,
numa noite em que assistia a um espectáculo no Coliseu, como espectador.
O seu
primeiro combate foi contra um belga a quem José Santa venceu, mais pela
força do que pela técnica, pois apenas tivera um treino com o espanhol
Costa Rica, no dia anterior ao do combate.
−
Praticou a luta durante muito tempo? − interrogámos.
− Não.
Apenas lutei mais uma vez, sendo, então, procurado, a bordo duma fragata
em que trabalhava, pelo antigo desportista portuense Alexandre Cal,
que me aconselhou a abandonar a luta e dedicar-me ao «box».
Treinei-me durante quatro meses com Aníbal Fernandes, e fiz a
minha estreia como «boxeur» no Palácio de Cristal, em 1922, tendo como
adversário o francês Demour, que pus K.O. ao segundo «round».
− E ficou
logo estabelecida a sua carreira como pugilista?
− Combati
várias vezes em Lisboa, onde nunca fui vencido, e o primeiro contracto
que tive foi para o Brasil, onde defrontei, primeiramente, um argentino,
que venci ao primeiro «round».
«Durante
dois anos que permaneci no Brasil fiz quinze combates. Um deles foi
contra o negro Epifânio Isla, que me intoxicou e, assim, perdi
aos pontos.
«Voltando
a Portugal fiz alguns combates, entre eles o da disputa do Campeonato da
Europa, no qual fui vencido aos pontos por uma injustiça do juiz
português.
− Depois
desse combate teve algum contrato vantajoso?
− Fui
contratado por um empresário alemão, a fim de fazer uma série de cinco
combates em várias cidades alemãs. Perdi duas vezes aos pontos e ganhei
três a K.O.
Da
Alemanha fui para Inglaterra, onde me bati com o campeão londrino, mas o
«match» resultou nulo por conveniência dos empresários.
Depois
fui a França, voltei à Alemanha, e em Berlim fui contratado com grandes
vantagens para ir combater na América do Norte.
− Qual
foi o seu combate mais importante na América?
− O que
mais recordações me deixou foi o que tive com o campeão italiano
Rigojiselo, pois pela primeira vez tive a sensação de K.O. Mas eu lhe
conto como fui vencido:
− Antes
de eu entrar para o «ring», o presidente da comissão de «Box» fez-me
notar que queria uma luta renhida, caso contrário não me seria paga a
importância estipulada no contrato.
Procurei,
então, não tocar a cara do meu adversário, mas este, usando de
deslealdade e fugindo, portanto, ao combinado, pôs-me um «krochet» que
me deitou por terra.
Confesso
que chorei de raiva, ao acordar, mas passados quinze dias pedi
publicamente a desforra. Então, sem olhar a contratos nem a combinações,
mas lembrando-me, acima de tudo, do meu brio profissional e da Pátria
que modestamente representava, fiz um combate de desforço, que resultou
K.O. ao 6.º «round» para o meu adversário.
Ninguém
pode imaginar a minha alegria, que foi incontestavelmente a maior da
minha vida de boxeur!
A
ACTIVIDADE DO CLUBE «OS GALITOS»
O clube
«Os Galitos», de Aveiro, que vem desenvolvendo notável actividade
desportiva e cultural, é uma das mais simpáticas agremiações deste
Distrito.
Não nos
sendo possível dar completo relato sobre toda a sua acção desportiva,
parece-nos interessante registar algumas passagens da sua actividade
náutica. Essa secção, iniciada com a boa vontade de uma dezena de
galitos, que começaram por adquirir, em 1926, um «runner», destinado às
suas competições náuticas, começou por apanhar algumas lições nas
primeiras provas a que concorreu, nomeadamente com a «Naval», da
Figueira. Não desanima, porém, e em Agosto de 1939 bateu a «Naval»,
ganhando, brilhantemente, a taça Aveiro.
Em 1942,
aquando dos campeonatos nacionais, no Porto, a secção concorre: em «skiff
juniores», «Shell» de 4 «seniores» e «Yolle» de 4 «juniores», perdendo
nesta modalidade e ganhando naquelas, classificou-se em campeão
nacional. Ainda no mesmo ano ganha o primeiro campeonato ibérico, como
representante de Portugal, em «Shell» de 4, na Figueira da Foz.
Bem
modesta é a vida desportiva desta secção, autónoma como todas as secções
do Clube, pois modestos são os seus recursos e a mais se não pode
abalançar, para repetir mais alto, sempre mais alto, e com ele
trabalhar, para o maior prestígio do seu já consagrado nome.
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