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4ª Série - Número 4 - Junho de 2001 - pp. 31-32

 

O reitorado de Francisco Regala

Apesar das sucessivas reformas da 2.ª metade do século XIX, particularmente a Reforma de 1860, que de algum modo reintroduz o ensino científico, e obriga à contratação de mais docentes, o estado do ensino liceal em Aveiro não é propriamente o melhor. O liceu, que num aveirismo certamente excessivo, Marques Gomes considera ser «sem dúvida, n'este genero, o primeiro de Portugal»(8) estava, com o «primeiro pavimento occupado, desde 20 de junho de 1864 pelas repartições do governo civil e fazenda»(9), o que prova a sua pouca / 32 / importância. Só a Reforma de Jaime Moniz de 1894/95, que introduz o regime de "classes" e prevê que o reitor possa ser um elemento exterior ao liceu, vai começar a alterar este estado de coisas. Esta reforma «representa um marco decisivo na evolução do ensino liceal. Ela constitui a primeira tentativa de construção, segundo preceitos científico-racionais, de um currículo global para o ensino liceal e, simultaneamente, de uma organização e administração para este tipo de estabelecimento de ensino.»(10) Foi assim nomeado reitor o oficial da Armada, em inactividade temporária, Francisco Regala, que havia de estar à frente dos destinos do Liceu de Aveiro até ao Outubro de 1910 e deixar marcas que perduraram muito para além do seu tempo.

É durante o reitorado de Francisco Regala que se começam a publicar os Anuários, como tinha ficado estabelecido no Regulamento de 14 de Agosto de 1895. Competia ao reitor "organizar e publicar em cada ano um relatório" sobre os mais diversos aspectos da vida de cada liceu (artigo 129 [competências do reitor], § 19).

É também durante o reitorado de Francisco Regala que se assiste a uma autêntica explosão na frequência do liceu e que este não só tem de volta o andar ocupado pela administração pública, como ainda começa a pugnar pelo seu alargamento e melhoria de instalações. É ainda no reitorado de Francisco Regala que, sinal dos tempos, as primeiras alunas começam a frequentar o ensino público liceal em Aveiro.

Duas notas ainda sobre Francisco Regala. O seu interesse pelo ensino prático que o leva a dinamizar visitas de estudo, que estavam previstas numa circular da Direcção Geral da Instrução Pública, de 25 de Outubro de 1896, a fábricas, jardim público, salinas, ria, farol, alto de Travassô e bacias hidrográficas da região. Estas visitas surgem «com programmas redigidos, de accordo, entre a reitoria e os professores, e previamente explicados nas aulas, para servirem de guia aos alumnos, nas observações e estudos a fazer.»(11) Notável, sem dúvida, a modernidade da prática... A outra nota tem a ver com o seu interesse pela ginástica. Era Francisco Regala um "fanático" da educação física, a que não será estranha a sua formação militar. Na sessão solene de abertura das aulas de 1908, afirma :"Acho ocioso gastar tempo em demonstrar a necessidade da educação physica, para o rebustecimento da nossa definhada raça, porque hoje ninguém a contesta, e está vulgarisada, entre nós, pela imprensa periódica em persistentes campanhas.»(12) Para criar condições para a prática desportiva, além de permitir um melhoramento geral do liceu, vai Francisco Regala encetar um luta sem tréguas para a aquisição de espaços para onde o liceu se possa alargar (isto numa instituição que ainda, há pouco tempo, ocupava apenas uma parte do edifício porque lhe fora destinada).

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(8) – Marques Gomes, Memórias de Aveiro, Aveiro, 1875, p.127.

(9) – Idem, p. 128.

(10) – João Barroso, Os Liceus - Organização Pedagógica e Administrativa (18601960), Lisboa, 1995, p. 170.

(11) – Anuário do Liceu de Aveiro (1906/07), Aveiro, 1908, p.9.

(12) – Anuário do Liceu Nacional de Aveiro (1908/09), Aveiro, 1910, p.11.