INTRODUÇÃO
Vejo a Escola como um espaço que dinamize contactos e
conhecimentos. Para poder intervir e usufruir da intervenção, deve
abrir-se à comunidade e à inovação para as servirem e delas se servir.
Uma Escola fechada ao seu núcleo é fechada à vida. Pôr em causa uma
escola fechada implica passar da acusação à responsabilização, que nos
leva à reformulação/renovação. Uma Escola aberta provoca confrontos, mas
leva-nos a repensar o acto pedagógico no seu valor sócio-cultural. O
objectivo/génese de todas as actividades expressivas reside na aquisição
de instrumentos de cultura e no desenvolvimento de capacidades para um
melhor equilíbrio do ser. No campo da Criação Teatral na Escola
interessa-me vencer bloqueios para uma melhor linguagem de vida,
desenvolver autonomia, cooperação, explorar linguagens, para promover a
disponibilidade psicológica tão importante no acto criador – no fundo,
desenvolver a expressão e a comunicação através de criações lúdicas
colectivas. Em termos pedagógicos, é tão importante o processo como o
resultado. Criar é um processo com etapas bem definidas em que o
indivíduo quer ir mais longe vencendo obstáculos produzindo uma nova
unidade de significação. A definição do ponto de partida provoca
naturalmente uma selecção de soluções, os planos detalhados implementam
e avaliam as soluções e os resultados. Ter confiança nos alunos,
controle nas situações, vivenciar experiências positivas, acreditar nas
suas potencialidades, valorizar o seu trabalho sem inibir a experiência,
são as verdadeiras atitudes que levam o professor a cultivar a abertura
e implementação da originalidade. Mas tudo é possível de desmoronamento
se não existir um ambiente físico adequado, se o professor fizer uma
orientação prepotente originando dificuldades na comunicação, se a
cultura e as estruturas forem extremamente organizacionais, se o volume
de serviços impedir a liberdade e autonomia impedindo o treino e as
relações interpessoais atempadas.
Face aos dados recolhidos nos pontos de partida para as
actividades expressivas e, em conjunto com a escola e com os
participantes perspectiva-se o "a viver". Em vez de uma educação voltada
para o "ensino" de "conhecimentos" tidos pelo adulto como importantes,
certos e imutáveis, tendo por finalidade "formar", entendo
(principalmente nas áreas expressivas) ter melhor efeito uma educação
voltada para a satisfação das necessidades do jovem. Pretendo uma
mutação não só nos aspectos administrativos e programáticos da educação,
mas também nos métodos e princípios pedagógicos. Urge uma Escola onde
haja espaço, onde o jovem de acordo com o seu carácter se eduque através
da experiência livre e vivida por ele próprio. Não é desejável impor
padrões pseudo-estéticos. A prática do acto criador propõe iniciativa
formando assim as aptidões e a personalidade, ao mesmo tempo que ensina
a viver com os outros. Na Criação Teatral na Escola, o acto criador está
parcialmente subordinado a um conjunto de aspectos técnicos e
artísticos, desde a pesquisa à defesa de ideias, levando os processos a
serem complicados mas muito entusiasmantes.
Estas actividades inseridas numa Escola têm a intenção de
dar resposta como escola dentro de outra escola, como meio para o
indivíduo se servir e servir para um melhor conhecimento de si próprio,
dos outros e do que o rodeia, de o tornar receptivo à
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intervenção de qualidade.
Não é possível "abrir" uma escola sem correr riscos,
porque a mudança pode levar ao frenesim da novidade e ao consumo rápido
e desenfreado de ideias amorfas. Por isso, ensinar a pensar torna o
jovem num cidadão mais crítico, mais dinâmico e mais equilibrado.
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