Nota Prévia
SEDUZIDOS que fomos pela
obra de Jaime de Magalhães Lima (1859-1936), e pela personalidade que
dela transparece, impôs-se-nos a divulgação deste pensador aveirense,
profundamente universalista, anti-xenófobo e anti-racista, muito mais
oitocentista que do nosso século, mas nem por isso menos actual em
muitas das suas denúncias, bastando atentar no que à nossa volta
borbulha, como o permanente reacordar de velhas e decantadas doutrinas
anti-humanistas, sejam elas as da superioridade rácica ou dos
nacionalismos estreitos.
A actualidade e pertinência do pensamento de Jaime de
Magalhães Lima mostra-se hoje, uma vez mais, quando olhamos para uma
Europa em guerra, procurando da pior forma atalhar os miserandos crimes
de limpeza étnica, usando hipocritamente dois pesos e duas medidas,
enquanto esquece outros crimes do mesmo jaez, alguns portas adentro de
países membros da NATO, como o problema curdo na Turquia, e outros
esquecidos ou ignorados durante mais de duas décadas, como o genocídio
do povo timorense, praticado por um dos mais fieis e corruptos aliados
dos EUA.
Subjugados a uma política imperialista, arvorada em
polícia do mundo, actuando por vezes em função dos escândalos de alcova,
quando cria factos políticos passíveis de desviar deles a opinião
pública, a Europa embarca na sua própria destruição, como já é visível
no comportamento dos mercados financeiros, ao mesmo tempo que se presta
ao papel de ajudante de coveiro da ONU, a única organização
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internacional que, em toda a nossa história, conseguiu fazer alguma
coisa pela paz mundial, pesem embora os erros omissões e demissões do
seu percurso, não por culpa dos pequenos países, mas antes resultado dos
interesses geoestratégicos das grandes potências, quantas vezes através
do veto antidemocrático, hoje completamente desajustado das novas
realidades civilizacionais.
Que as palavras de Jaime de Magalhães Lima, com que
terminamos este trabalho, nos despertem para uma opinião crítica e
independente, livre dos espartilhos com que os "bens pensantes",
proprietários ou mandantes da comunicação e donos da verdade que é só
deles, nos procuram alienar no dia-a-dia em que os suportamos.
Trabalho académico, elaborado no âmbito do Mestrado em
Estudos Portugueses, da Universidade de Aveiro, para a disciplina («A
Identidade na Cultura Portuguesa da Modernidade» leccionada pelo
Professor Doutor Machado de Abreu, que nos honrou com um belíssimo
prefácio, publica-se aliviado dos pesados anexos que primitivamente o
vestiram. As notas de rodapé foram em parte mantidas, porque
indispensáveis à contextualização de sucessivas afirmações ou porque
indicadoras de algumas fontes utilizadas, já que o corpo da principal
bibliografia é parte integrante deste pequeno estudo.
O autor
Maio de 1999
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