O Dr. José Maia Seco faz a
segunda época como presidente do Beira Mar. Médico conhecido, antigo
atleta da Associação Académica, conimbricense por nascimento,
apaixonou-se no entanto por Aveiro e pelo Beira Mar. E, como presidente
da Direcção, sente-lhe os problemas na dimensão máxima.
– «Viemos para a I Divisão
talvez um pouco prematuramente e isso prejudicou os nossos planos de
consolidação do clube. Estávamos a pôr em ordem as finanças, que se
apresentavam um caos. Como não podíamos aumentar as receitas, tomei a
decisão de comprimir as despesas. Fiz todos os possíveis, no meu
primeiro ano de trabalho, para sanear as finanças. Vendemos jogadores,
contratámos um treinador barato, Couceiro Figueira, que trabalha sempre
com o amor de um amador e que levou a, equipa a ganhar o campeonato
nacional da II Divisão e a entrar esta temporada para o campeonato
máximo. Ora isto foi uma surpresa para os nossos planos financeiros,
pois uma equipa da I Divisão tem outras despesas, outras
responsabilidades. Isso conduziu-nos à situação financeira actual, que é
pior do que já esteve na época passada. É que fomos obrigados a recrutar
reforços que, por muito económicos, sempre ficam caros. Depois,
contávamos com receitas da I Divisão para compensar as despesas. Ora o
que sucedeu é que na primeira volta do campeonato não recebemos nenhum
dos clubes "grandes", os que fazem encher o estádio e dar boa receita.
Isso apenas agora começará a suceder. De qualquer maneira, nunca tivemos
os ordenados em atraso. Os jogadores estão em dia com ordenados e com
prémios (um conto por vitória em casa e dois por vitória fora). Há
apenas alguns acertos a fazer quanto a "luvas", mas os jogadores
compreendem a situação e esperam pelos desafios de maiores receitas.»
O Dr. Maia Seco não
escamoteia as dificuldades. Fala com clareza, sem subterfúgios,
encarando de frente os problemas, as perguntas. Foi assim que o
presidente analisou a carreira do Beira Mar:
– «Até agora fizemos uma
carreira bastante regular. Mas vejo o futuro um pouco negro. Perdemos
pontos em casa por falta de sorte, de maneira incrível, mas acabámos por
ir equilibrar a balança ao conquistar pontos fora, daqueles com que
ninguém contava, como foi o caso do Sporting. E é preciso sublinhar que
não fazemos o antijogo. Não temos sequer um jogador repreendido. Jogamos
à defesa, é certo, mas isso é uma maneira de jogar. Nesta altura, a
situação aparece como satisfatória. Estamos a meio da tabela, embora a
tabela seja longa e as distâncias entre equipas não possam considerar-se
muito grandes. Depois temos uma série de encontros cruciais. Se não
pontuarmos nestes, as coisas podem complicar-se. Não somos muito
ambiciosos, o que pretendemos é que a equipa acabe a prova numa situação
tranquila. Deixamos que a próxima direcção consolide depois o grupo, já
livre de uma série de problemas que tentaremos resolver entretanto.
Pessoalmente, estou optimista. Até apostei com um amigo em como o
Beira-Mar ficará classificado entre os oito primeiros. Isso, porém, não
significa que tenha ambições. Mas para o ano acho que é de as ter.
Aveiro tem obrigação de possuir um grupo de futebol com valor, como o
Vitória de Setúbal, por exemplo. É uma região muito rica e a cidade não
tem outro grupo de futebol. Aveiro devia orgulhar-se do Beira-Mar,
ajudá-lo, colocá-lo numa posição de destaque.»
O pavilhão do Beira-Mar está
quase concluído. Talvez dentro de dois meses possa servir plenamente. O
pavilhão gimno-desportivo, que Aveiro possui actualmente está saturado,
pois são muitas as equipas e as modalidades que o ocupam. Este do
Beira-Mar vem ampliar a capacidade de instalações desportivas da cidade
e dar, sobretudo, novos trunfos ao clube que comemora 50 anos de
existência. É uma prenda de aniversário.
– «Atirámo-nos para a
frente, era preciso construir o pavilhão. Era uma necessidade. Pois ele
vai começar a funcionar em breve. Posso dizer que é um dos melhores do
País no seu género. Vai ficar com um pequeno centro de medicina
desportiva debaixo das bancadas. Vai proporcionar à nossa equipa de
andebol de sete um maior apoio. Vai incentivar a prática das modal
idades desportivas consideradas pobres. E espero vê-lo crescer mais
muito em breve. Aveiro precisa de piscinas. Pois tentaremos construir na
parte de trás uma piscina coberta. E procuraremos erguer ao lado do
edifício actual a nossa sede. Para isso contamos com a boa vontade da
Junta Autónoma, que é a proprietária dos terrenos vizinhos do pavilhão.
Pavilhão e sede custarão uns 2500 contos. Eu confio. Temos uma comissão
de obras que tem sido inexcedível.»
O Beira Mar está a realizar
as comemorações de meio século de existência. O programa principiou no
início de Janeiro, com um jantar de confraternização que decorreu no
recinto do novo pavilhão dos desportos, numa simbólica pré-inauguração e
vai prolongar-se por todo o ano.
– «Vamos abrir a toda a
gente, na medida do possível, as comemorações. Pretendemos distinguir a
parte cultural, convidando para isso o Dr. Mário Duarte para vir aqui
fazer uma conferência. Pretendemos que as festas dos santos populares
sirvam de pretexto para uma confraternização no pavilhão, uma grande
festa popular. Mas tudo depende do pavilhão. Só começamos a planear com
rigor logo que o recinto esteja pronto. Faz-nos imensa falta. Vai dar um
novo impulso às modalidades amadoras. Poderemos pensar na expansão do
hóquei em patins, por exemplo. Alicerçar a equipa do andebol de sete,
que começa a interessar os atletas mais jovens, os juniores e os
juvenis. Dar novo impulso ao basquetebol. Pensar na natação, para um
futuro próximo. Apenas o atletismo continuará desprotegido. Os atletas
não têm local para se preparar. Não têm treinadores. E é pena, pois é um
desporto de base.»
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