Escola Secundária José Estêvão, n.º 11, Jan.- Mar. de 1994

Sem me deter nos vários tipos de famílias (patriarcal, matriarcal, monoparental, civil, religiosa ou reconstruída), julgo importante descobrir a força determinante no desenvolvimento de cada ser humano, que se encontra no seio da cada agregado Familiar. O humano é, por definição, algo que encerra, de uma forma única, a harmonia consciente do universo. A vida organizada toma foros de consciência na mulher e no homem. Seres débeis e limitados têm dentro de si capacidades de fortaleza e rasgos ilimitados de criatividade e progressividade. Embora essas potencialidades estejam presentes no projecto humano, elas só serão plenitude quando encontram o ambiente adequado para se manifestarem. É na família que isso poderá acontecer naturalmente. É que a família nem é estufa que acelere as manifestações nem o ambiente agressivo que destrói as potencialidades presentes em cada ser.

Importa repensar a família. Podá-la das aderências nefastas; incentivá-la com leis adequadas; protegê-la sem reducionismos; escutá-la como parceiro social e solicitá-la como órgão fundamental do desenvolvimento harmonioso, numa sociedade em mutação... A nova família tem rosto. Não o rosto do vestuário de marca, do apartamento de luxo, da conta bancária, tantas vezes conseguida à custa da destruição de outras famílias. O NOVO ROSTO É O DA FRATERNIDADE. O irmão pai, a irmã mãe, o irmão filho, e por aí adiante... Este é o traço individualizante de cada célula familiar. Não gosto de dizer: ANTIGAMENTE É QUE TÍNHAMOS FAMÍLIAS! Julgo que seja uma frase destituída de sentido. Cada época tem uma resposta, muitas vezes ensaiada dentro de parâmetros possíveis, para o tempo e, por conseguinte, também hoje deveremos repensar a Família, em ordem à descoberta de caminhos a percorrer. Os modelos são sempre incompletos. Por isso, naturalmente, insinuam que a mediocridade dos outros precisa de se aperfeiçoar segundo o modelo do novo rosto familiar – a fraternidade.

Neste Ano Internacional da Família, acho necessário refontalizar a família no amor, isto é, naquilo que faz crescer na verdade das relações, sentir a justiça na participação e no descobrir a admiração e a contemplação no belo de cada indivíduo. Neste horizonte cai imediatamente o individualismo hedónico, a independência irresponsável e a singularidade atrofiada. A Família de hoje tem potencialidades fantásticas.

Vejamos! Como nunca, hoje é possível: a capacidade de interrogar; o dinamismo partilhado; a renovação que acolhe; o respeito dialogante; a comunicação sem subterfúgios e ainda o usufruir do progresso tecnológico e científico que nos oferecem tantos benefícios e aos quais temos acesso. Importa olhar estas realidades / 7 / e utilizá-las com gradualidade criativa e libertadora.

Sei que isto na linha existencial é terreno que precisa de ser arroteado. Todavia é importante o esforço de alguém que, ao tomar consciência de recriar uma família feliz, força esse acontecer. Os primeiros a usufruírem desses benefícios são os intervenientes no processo desta constante aprendizagem.

O Ano Internacional da Família é interpelação ao Estado, às Igrejas e naturalmente às outras comunidades.

A Escola está neste número e com redobradas responsabilidades.

Podemos afirmar que a Escola é verdadeiramente o lugar privilegiado, em ordem à educação para o novo tipo de família. A interdisciplinaridade deverá ajudar a criar no adolescente uma forte abertura aos valores, não como pautas comportamentais, mas como suportes de atitudes em permanente questionamento. O questionar não significa cair no relativismo existencial mas, bem ao contrário, abre ao espírito critico, gerador da novidade que deve modelar toda a vida.

Será que na inter-ajuda ou melhor, na abertura mútua da Família e da Escola que o elo de comunhão familiar se irá convertendo sucessivamente no acto que empenha na prossecução da felicidade de cada indivíduo, resultando, assim, a paz desta pequena democracia que vive no coração da Sociedade? A Escola tem uma importante responsabilidade na vida feliz de cada professor aluno.

Neste Ano Internacional da Família, a família e a Escola não podem deixar de activar todos os mecanismos ao seu alcance, sob pena de não cumprirem a sua missão, em ordem à influência que estas instituições têm na transformação da Comunidade Portuguesa. ■
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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págs. 16-17