Escola Secundária José Estêvão, n.º 2, Jan. - Mar. de 1991

INTRODUÇÃO

Nos dias 24 e 25 de Janeiro de 1991, realizou-se nesta escola uma acção de Divulgação do Curso Geral Nocturno por Unidades Capitalizáveis, cujos objectivos visavam o estudo aprofundado da aplicação deste regime, a informação à comunidade escolar do funcionamento do curso e à rentabilização da experiência dos grupos de professores que, nos diversos anos, trabalharam nesta actividade pedagógica, provocando a troca de informações sobre a aplicação concreta da leccionação das diversas disciplinas no novo modelo.

A acção foi organizada e dinamizada pelos professores que, nesta escola, leccionam o Curso por Unidades Capitalizáveis.

Foi dirigida a todos os docentes do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e Secundário.

Estiveram presentes 62 professores das seguintes Escolas:

- Secundária José Estêvão;

- Secundária da Gafanha da Nazaré;

- Secundária de Ílhavo;

- Preparatória de Esgueira;

- Preparatória João Afonso;

- C+S de Oliveirinha;

- Secundária Filipa de Lencastre (Lisboa);

- Secundária D. Pedro V (Lisboa);

- Secundária Rainha D. Leonor (Lisboa);

- C+S de Olival (Gaia);

- Secundária de Alcanena;

- Secundária Poeta António Aleixo (Portimão).

Para além dos referidos professores, estiveram, também, representantes de:

- D.G.E.E. - Direcção Geral da Extensão Educativa (Lisboa);

- D.T.P. E.E. D.R.E.C. - Direcção Regional da Educação Centro (Coimbra);

- C.AE. - Coordenação de Acção Educativa (Aveiro);

- F.P. - C.AE. (Aveiro);

- A.S.E. - C.AE. (Aveiro);

- E.E. - C.AE. (Aveiro).

 

EXPOSIÇÃO

Do programa, constavam os seguintes pontos:

1 – Sessão de Abertura realizada pelo Presidente do Conselho Directivo – Dr. Arsélio Martins – que teceu algumas considerações relativas a:

1.1 – Condições de aplicação do curso por U.C. em regime experimental, existentes na Escola aquando da sua implantação.

1.2 – Debilidades, subjacentes à aplicação experimental deste sistema na Escola, nomeadamente:

a) Assiduidade/Rentabilidade do sistema;

b) Relativização de estudos comparados de rentabilidade (numérica) entre os dois sistemas (aplicação geral e experimental);

c) Levantamento de preocupações de ordem técnica que virão a surgir com a generalização do sistema por U.C.

 

2 – Enquadramento do Curso por Unidades Capitalizáveis no novo Sistema de Ensino apresentado pelo representante da D.G.E.E., Dr. José Alberto Leitão, que apontou as razões que levaram o Ministério da Educação a integrar os Cursos Nocturnos na Direcção Geral da Extensão Educativa, referindo o enquadramento legal dos Cursos por Unidades Capitalizáveis bem como os princípios inovadores deste novo sistema.

Estabeleceu, ainda, a panorâmica actual do Ensino Nocturno em Portugal.

 

3 – Funcionamento do Curso Geral Nocturno por Unidades Capitalizáveis

O tratamento deste ponto esteve a cargo da Coordenadora deste Curso, na Escola Secundária José Estêvão, Dr.ª Lúcia Iolanda Monteiro, que, após a apresentação dos despachos normativos regulamentares, expôs, sucintamente, a sua orgânica. A exposição foi apoiada por quadros-resumo ilustrados com a projecção de transparências.

 

4 – Estudo comparativo do aproveitamento escolar em cada um dos modelos do Curso Geral Nocturno leccionados nesta Escola

Os professores (do curso por U.C.) que realizaram o trabalho tiveram como objectivos:

a) Determinar o aproveitamento do Curso por Unidades Capitalizáveis;

b) Reflectir sobre os métodos de avaliação utilizados neste sistema;

c) Encontrar soluções para aumentar a rentabilidade do sistema.

Para isso, utilizaram dados relativos ao aproveitamento do curso por U.C. dos últimos quatro anos, a par de dados relativos ao aproveitamento do Curso Geral Liceal / 17 / Nocturno durante o mesmo período de tempo e que serviram como referência.

Após a exposição da metodologia utilizada na recolha dos elementos, foram os participantes convidados a realizar, em grupo, a análise gráfica dos mesmos.

Concluiu-se que:

A – O Curso Geral por U.C. apresentava, nos dois primeiros anos, taxas de desistência e reprovação superiores às verificadas no Curso Geral Liceal, sendo, portanto, menor o sucesso escolar;

B – Nos dois últimos anos, esta situação inverteu-se, por se ter verificado uma diminuição das desistências e aumento do aproveitamento no Curso por U.C.;

C – Os dados não devem ser considerados conclusivos em virtude de se tratar de uma amostra ainda pequena. É no entanto, a única amostra existente na Escola e susceptível de ser analisada;

D – A situação apontada no ponto A deve-se, entre outras razões, a:

a) Legislação deficiente, quanto a regulamentação do funcionamento do curso;

b) Informação insuficiente de professores e alunos sobre os objectivos do curso, aquando da sua implantação;

c) Insuficiência de material de apoio (guias e programas);

E – A actual situação pode ser alterada devido a factores como: flutuação do quadro docente, aumento da população discente, heterogeneidade etária.

A discussão destas conclusões foi apoiada pela projecção de gráficos elaborados a partir dos dados obtidos pelo grupo de trabalho e, previamente, informatizados.

 

5 – Levantamento dos problemas pedagógicos relacionados com um e outro modelo

Este trabalho foi realizado por um grupo de professores que leccionam os dois modelos de Ensino Geral Nocturno (Liceal e por Unidades Capitalizáveis), que seleccionaram os seguintes problemas:

a) Conteúdos Programáticos/Guias de Aprendizagem

Apesar de se verificar a necessidade de se proceder à revisão de alguns programas em vigor no sistema por U.C., estes foram considerados, na generalidade, mais adequados às necessidades da vida activa dos alunos do que os que estão, actualmente, em vigor no sistema Liceal.

Dada a estruturação do Curso por U.C., este requer a utilização de Guias de Aprendizagem, organizados de forma a promover um trabalho independente dos alunos (o que nem sempre acontece).

b) Processo de Ensino/Aprendizagem

O sistema por U.C. ao contrário do Liceal, respeitando o ritmo de aprendizagem individual dos alunos, permite-lhes estabelecer com a comunidade escolar relações de interdependência, favorecendo, no entanto, a autonomia necessária à sua progressão individual. Tal esquema individualizante só é possível, se aulas de centro de apoio se adaptarem a um número restrito de alunos, como o próprio sistema prevê.

Este curso, quando implantado numa escola de grandes dimensões, cuja população estudantil nocturna ronda os 1000 alunos, poderá, certamente, criar alguns problemas de ordem técnica, especialmente ligados à dimensão e profissionalização do seu corpo docente e ao espaço físico da escola.

c) Avaliação

A avaliação no sistema por U.C. assenta em pressupostos diferentes da avaliação no sistema Liceal.

A escolha do seu próprio Itinerário de Formação Individual é, para o aluno, motivante e responsabilizante. Este facto possibilita, à partida, um maior sucesso e evita a repetição de saberes já capitalizados.

Sistema assim, não admite outras fontes de classificação para além dos testes, por se dirigir a estudantes-trabalhadores que, nem sempre, podem frequentar com assiduidade as aulas, enveredando por um trabalho individual.

d) Organização Administrativa

O curso por U.C. tem como desvantagem, relativamente ao curso Liceal, uma excessiva burocratização, resultante da necessidade de arquivar processos individuais, constituídos por todos os testes realizados pelos alunos e respectivos registos de avaliação.

O novo sistema não prevê o registo de faltas, mas sim o registo de presenças.

Destina-se a um público específico, aquele que pro-cura uma segunda oportunidade e que transporta conhecimentos do exterior, que devem ser valorizados.

Tem, em muitos casos, uma vida familiar organizada e condicionalismos de horários de frequência.

A obrigatoriedade de assistência às aulas por parte de estudantes-trabalhadores (indivíduos que, quotidianamente, realizam um percurso laboral) pode ter desvantagens: por um lado, vai contra a autonomia do aluno que tem o direito de gerir o seu tempo consoante as suas carências; por outro lado, pode perturbar os trabalhos da aula, caso haja alunos presentes, contrariados.

O sistema por U.C. obriga a uma maior disponibilidade por parte do professor, dado que este se vê confrontado com aulas para as quais terá que ter maior flexibilidade no domínio de todos os temas constituintes dos programas. O trabalho do professor é, ainda, aumentado com a imprescindível elaboração de um grande número de testes de avaliação.

 

6 – Apresentação de propostas de solução para os problemas do Curso por Unidades Capitalizáveis

/ 18 / A primeira intervenção neste domínio foi realizada pela equipa da D.G.E.E. que salientou o facto de, em nenhuma das reuniões em que esteve presente, se ter contestado quer a filosofia deste sistema, quer o seu plano curricular. As questões que se colocam visam, sobretudo, o funcionamento e os instrumentos de trabalho disponíveis.

Sendo o objectivo principal deste sistema de ensino a auto-formação do aluno e a consequente certificação e, não existindo guias de aprendizagem adequados, este objectivo não foi, cabalmente, atingido.

Referiram, ainda, os representantes da D.G.E.E. que houve um fosso entre a Direcção Geral e as Escolas onde funcionou esta experiência pedagógica. No entanto, cada equipa, em cada escola, foi conseguindo superar e resolver os problemas pontuais que se lhe depararam.

A experiência adquirida pelas equipas iniciais deve ser valorizada, tendo a D.G.E.E., nesta fase, interesse em ouvi-las, para tentar encontrar soluções técnicas que potencializem as virtualidades do sistema. Só com a colaboração dos Coordenadores e dos Professores envolvidos nesta experiência, se poderão resolver os problemas mais prementes.

Sendo, neste momento, a generalização do sistema irreversível, a D.R.E.C. encarregar-se-á de a promover de uma forma progressiva.

Para este efeito, a D.G.E.E. já elaborou o Guia do Aluno com vista a sua sensibilização e a informação sobre o novo papel do professor no sistema.

Estão em elaboração Guias de Divulgação dirigidos às Escolas, às Autarquias e às Empresas.

Prevê-se, também, a reformulação de alguns programas, bem como a realização de Acções de Formação dirigidas a professores e pessoal administrativo.

Está em estudo a simplificação administrativa do sistema.

Após a intervenção da equipa da D.G.E.E., o grupo de trabalho que dinamizou a acção expôs algumas propostas, visando a simplificação administrativa do curso:

a) Lançamento, pelo professor, dos resultados de avaliação na ficha-modelo já existente, semelhante à ficha amarela do curso diurno;

b) Registo efectuado pelo Coordenador, em livro de termos próprio, da média final das disciplinas;

c) Devolução de testes aos alunos, dada a impossibilidade de os arquivar aquando da generalização da experiência;

d) Manutenção do Centro de Coordenação, por se revelar fundamental a existência de um Coordenador, cujo papel deverá ser, por um lado, o acompanhamento individual dos alunos de forma a, com eles, estabelecer o Itinerário de Formação Individual e, por outro lado, o de articular e dinamizar o trabalho dos diferentes professores;

e) Formação de turmas e elaboração de horários, actividades orientadas por critérios bem definidos, simultaneamente flexíveis, permitindo que cada escola os adapte às suas reais necessidades;

f) Alargamento para 45 dias da actual interrupção de 30 dias das actividades escolares, de molde a permitir que os professores deste sistema se situem em igualdade de circunstâncias no que diz respeito a marcação do seu período de férias;

g) Alargamento para uma hora da redução de 30 minutos por cada hora de leccionação nocturna, dada a sobrecarga de trabalho exigida a estes professores;

h) Instituição de mecanismos que não afastem do sistema os professores que nele investiram, adquirindo experiência;

i) Sensibilização dos professores dos quadros das escolas para a estabilização do corpo docente que leccionar neste sistema.

 

APRECIAÇÃO

O grupo de trabalho, que realizou e dinamizou esta acção, tem consciência de que o mesmo estudo poderia ter sido elaborado atendendo a outras perspectivas de análise. Foi, no entanto, este o caminho que escolhemos.

Procurámos rodear-nos de quem, voluntariamente, se mostrou disponível para connosco colaborar.

Foi, também, este o trabalho possível de realizar por um grupo de professores (alguns com pouca rodagem no sistema) que, não interrompendo a sua normal actividade profissional, se dispôs a tratar um tema para o qual os dados eram escassos.

Contaram, somente, com a sua experiência.

Consideramos que os objectivos inicialmente definidos foram atingidos, na medida em que a troca de informação e de vivências foi uma constante ao longo de toda a acção e até porque, assim, abrimos a portado "getho" em que sempre nos sentimos, por "falta de espaço na alma da Escola"(1), uma vez que este curso sobreviveu até hoje apenas como "uma preocupação menor no conjunto dos serviços que a Escola presta à Comunidade"(1).

Esta acção permitiu-nos, também, o contacto directo com quem sobre estas "coisas" decide e que, por norma, está sempre muito longe.

Este intercâmbio foi-nos proveitoso, por possibilitar uma visão mais alargada da realidade do Sistema de Ensino em Portugal e, em especial, do Sistema de Ensino Recorrente.

 

Imagina uma flor

Imagina uma flor / Um cravo/ Um Lírio / Ou uma rosa. /// O que interessa / É que seja uma flor. /// Depois / Olha para essa flor / E pensa nela / Analisa-a / Saboreia-a / Delicia-te com o seu aroma / E acima de tudo / Compreende-a / E dá-lhe água / Muita água / Porque senão / Mais dia / Menos dia / Morre. – Mago

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(1) – Dr. Arsélio Martins, Discurso de abertura da Acção de Divulgação do Curso Geral Nocturno por Unidades Capitalizáveis.

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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