Escola Secundária José Estêvão, n.º 22, Junho de 1998

Sintra, princípio de Setembro de 1997. Um pequeno grupo de alunos de diversos países sentam-se num quarto na pousada da juventude. Com eles estão uns voluntários da Intercultura. Eu sou um desses alunos. Uma coisa muito importante foi dita naquela conversa que ainda lembro hoje: «Este não vai ser o melhor ano da tua vida. Será talvez o ano em que vocês aprendem o máximo, mas é só um ano.» Ninguém disse que nós gostaríamos ou que íamos aproveitar ao máximo este ano. Também ninguém me disse que estaria tão sozinha. Mas aprendi muito sobre mim própria, tal como deste país e a sua cultura.

«Não é bom, não é mau – é diferente,» é outra coisa que ainda lembro ter sido dito e que está sempre comigo. Também é verdade – este ano aprendi que todos somos iguais como seres humanos, e todas as culturas também. É assim: há coisas estúpidas, idiotas, e coisas más e feias em todo o mundo, mas cada sítio também tem os seus encantos. Existem pessoas abertas, paisagens lindas e coisas boas. Apesar de tudo é igual em toda a parte. Cada um deve escolher o seu próprio ponto de vista.

Nós escolhemos vir para cá, e também fomos nós que escolhemos estar alegres ou tristes, aproveitar ou estragar o ano. Muitas vezes escolhi estar triste, porque estava sozinha. Mas, estar sozinho não é sempre uma coisa má. Assim, as pessoas descobrem muita coisa sobre si próprios. Pode ser útil, mesmo quando não gostamos de tudo o que aprendemos.

É muito importante tentar sempre. Ninguém pode exigir mais de ti. Temos que andar sempre em frente, porque não podemos voltar para trás. «Aproveita o dia,» esse tipo de coisa…; no entanto, muitos de nós também aproveitaram a noite. (:-)

Mas para mim, como não fumo e não bebo, não tive muita vida social aqui em Portugal. Na minha escola os alunos eram um pouco fechados, isto é, tinham os seus grupos e não me deixaram entrar... Além disso, estavam sempre a estudar e não saíam muito. Mas, pelo menos, as aulas eram interessantes. Tinha aulas com anos e turmas diferentes. Os outros alunos não perceberam bem isto, e acharam que era muito estranho.

Pois, não posso dizer tudo aqui... Estou a pensar em coisas interessantes que aconteceram durante o ano. Fui a Barcelona com a minha turma de História da Arte. Foi divertido. Ficámos num hotel de 3 estrelas. Ficaram dois alunos em cada quarto, mas só nos davam uma chave. Precisávamos de deixar a chave numa abertura na parede para ter luz. Então, isto era um grande problema, porque a minha colega / 28 / queria sair durante a noite e eu queria ficar. Mas ela descobriu que podia deixar o seu cartão jovem na abertura, e havia luz. Quando queria entrar no quarto, deixava a porta exterior aberta, e entrava pelo quarto ao nosso lado, porque as minhas colegas também não saíram muito. Eu escalei a parede que separou as nossas varandas e entrei no quarto daquela maneira. Pois os nossos quartos eram no 5.º andar...

A outra coisa que fiz este ano foi uma peça de teatro com a minha turma de OED (Oficina de Expressão Dramática). Nós criámos personagens, agrupámo-nos, e depois escrevemos a nossa peça. Apresentámos esta peça para os alunos na escola e para a outra turma de OED; ainda falta uma apresentação para o público em geral. Foi muito divertido, porque estava mais unida com os alunos daquela turma do que todas as outras. Escolhi esta disciplina porque pensei que melhoraria o meu Português, mas foi boa por outras razões.

Também andei no karaté durante alguns meses e aprendi muito. Fi-lo porque precisei de gastar alguma energia. Os treinos por vezes eram muito duros, mas é por isso que os alunos deste dojo ganham quase todos os campeonatos.

O ano está quase a acabar, e estou contente por ter vindo. Mas quero ir para a casa! Sei que vou ter saudades de Portugal, mas este país nunca foi e nunca será a minha terra. Eu penso de uma maneira diferente dos portugueses, porque sou Americana, mas também penso de uma maneira diferente da maior parte dos Americanos. Isto tomou as coisas ainda mais difíceis para mim.

Queria ficar, porque gosto do estilo de vida aqui, gosto da comida. Gosto de estar à vontade. Tenho algum medo de voltar, porque sei que as coisas nunca vão ser as mesmas. A partir de agora, a minha vida é realmente a minha vida. Mas não vou ter saudades de estar mais sozinha do que fui na minha vida aqui, das pessoas que não me compreendem e que não querem compreender... Estou pronta para outra mudança. Isto tem que ser. A mudança é boa e não se pode ter medo.

Pronto, agora que todos começavam a compreender a mente da Stacy, vai acabar. Na verdade, não tinha ideia nenhuma do que devia escrever. Escrevo e digo o que penso, não posso fazer mais nada. Portanto, boas férias para todos, e boa sorte na vida!

DON'T PANIC

MAY THE SCHWARTZ BE WITH YOU!!!

 

Stacy L. Atchison

60 Jenson Dr.

Middlebury, CT

06762 - 3122

USA

e-mail: sa742@hotmail.com

 

Temos saudades da Stacy
 

 

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