Escola Secundária José Estêvão, n.º 19, Maio de 1997

SEUC
um sistema à procura dum caminho

 

Dando seguimento a uma nova estratégia para os Conselhos Pedagógicos – Sessões Abertas à Comunidade Escolar com a discussão de grandes temas – realizou-se no passado dia 26 de Fevereiro uma acção sobre o SEUC – SISTEMA DE ENSINO POR UNIDADES CAPITALIZÁVEIS. Tratava-se de não só discutir este sistema de ensino, mas, principalmente, "adoptá-lo". É que o SEUC tem crescido sem que a maior parte da Comunidade Escolar tenha, sequer, conhecimento do que se trata. Era, pois, tempo de tomar conhecimento da "coisa".

Para fazer luz sobre o assunto arranjaram-se três andarilhos da noite: a Luísa Catarino (como representante do Conselho Directivo para o Ensino Nocturno), a Cristina Campizes e o Alcino Carvalho (enquanto delegados ou representantes de Grupo que leccionam o SEUC). É do trabalho então apresentado que aqui se dá notícia.

Para quem não esteja familiarizado com este sistema de ensino, interessa defini-lo e caracterizá-lo de forma breve. O SEUC é um sistema de ensino de tipo recorrente, logo de segunda oportunidade, cuja experimentação começou no nosso país em 1981. O lançamento definitivo e generalizado data, somente, de 1986/87, no caso do Básico, e de 1992/93, no caso do Secundário. Nos anos iniciais de generalização dos novos currículos coexistiram com o antigo Curso Geral Nocturno, estando ainda hoje em funcionamento o 2.º ano do Curso Complementar Nocturno, bem como o antigo 12.º ano, mas que acabarão até ao fim do milénio. Quer isto dizer, que, a breve trecho, e caso não haja mudanças radicais, o SEUC será o único tipo de ensino a ser leccionado em regime nocturno.

A estrutura curricular do SEUC é composta por um grupo de disciplinas e áreas que constituem a formação geral e por uma área de opção e/ou um área específica consoante se trate, respectivamente, do Básico ou do Secundário. Os alunos inscrevem-se no curso por disciplinas, sendo cada uma composta por unidades que o aluno "capitaliza" à medida que vai tendo aproveitamento nos respectivos exames, sem limite algum, impondo assim o aluno o seu próprio ritmo de aprendizagem. O aluno termina com aproveitamento o curso quando "capitalizar" todas as unidades de todas as disciplinas.

Para alunos que vêm doutros sistemas de ensino existem equivalências que lhes permitem posicionar-se em unidades avançadas, ou mesmo terem equivalência a uma determinada disciplina.

As aulas não são de frequência obrigatória. Mais, aos alunos não são marcadas faltas, mas sim presenças. Estas presenças só são importantes no caso de disciplinas eminentemente práticas ou na área das línguas. Nestes casos, devido à sua assiduidade, o aluno pode ser dispensado da parte oral do exame ou da sua componente prática. Aos diversos tempos lectivos por disciplina acrescenta-se, ainda, uma aula de apoio, que funciona ao mesmo tempo para diversas disciplinas, podendo o aluno levantar material aqui, esclarecer uma dúvida além. / 36 /

A cada professor são entregues, no inicio do ano, X unidades que ele terá de acompanhar. Nesta perspectiva, é possível encontrar na mesma sala de aula alunos em diferentes unidades capitalizáveis (duas, três, quatro ou até mais). Este é um dos problemas principais do sistema.

Com funções equivalentes aos Directores de Turma, existem os Coordenadores Pedagógicos. Estes recebem 30 alunos, que terão de acompanhar de forma continuada.

O Ministério da Educação, além de fazer aprovar os programas das diversas disciplinas (sempre de âmbito nacional), também tem a seu cargo a edição de GUIAS DE APRENDIZAGEM, que servem (ou deviam servir) como manuais para as diversas unidades. A maior parte das editoras escolares ainda não lançou no mercado materiais pedagógicos alternativos a estes guias de aprendizagem oficiais. E parece que tanta falta têm feito...

Ao longo dos onze anos que já leva de funcionamento o SEUC Básico na nossa Escola, estiveram inscritos 657 alunos, dos quais obtiveram aprovação final do curso 58. Parece, à primeira vista, uma percentagem de conclusão miserável. Não é tanto assim. Esta percentagem é superior à média nacional e certamente superior à percentagem de aprovação no Curso Geral Nocturno. Em relação ao SEUC Secundário, por razões óbvias, não podemos tirar ainda conclusões: o sistema só funciona na nossa Escola há dois anos.

Para sabermos, com mais rigor, o que diversos intervenientes do sistema pensam dele, foram elaborados diversos inquéritos e distribuídos pelos alunos, professores e coordenadores. O objectivo foi ouvir a totalidade dos universos docente e discente, ainda que o número de respostas, em todos os segmentos ouvidos tenha ficado aquém do razoável. Dos inquéritos então feitos fazemos aqui uma pequena análise e transcrevemos as achegas mais importantes.

 

Inquérito aos alunos

 

GOSTA DO CURSO RELATIVAMENTE À SUA ORGANIZAÇÃO?

Ressalta, à primeira vista, a quantidade de alunos que nem sequer respondeu à pergunta.

Dos que responderam a maioria são de Secundário e responderam positivamente.

Gostam porque:

– Está bem organizado.

– É acessível.

– Permite ser trabalhador / estudante

– Permite fazer o curso em menos anos


Não gostam porque:

– São muitas unidades na mesma turma.

– Há falta de motivação por parte dos professores.

– As aulas são sempre de apoio.

– Os Guias de Aprendizagem são maus.

 

ENCONTRA NO CURSO O APOIO DESEJADO? / 37 /

A esmagadora maioria dos alunos respondeu afirmativamente quando a pergunta incidia sobre coordenadores, professores, bar, auxiliares educativos. Já o mesmo não se passou quando inquiridos acerca do material didáctico. Em relação a este último item consideram que:

– Tem falhas.

– É insuficiente

– É confuso

– Não há para certas unidades

 

Em relação à secretaria a percentagem de Insatisfeitos é significativa (40%) dado que:

– Omite informação.

– É muito burocrata.

– Está mal organizada.

– Tem pouco tempo de atendimento

 

CONSIDERA IMPORTANTE A AULA DE APOIO?

A esmagadora maioria dos alunos acha que é Importante porque:

– Permite tirar dúvidas.

 

A NÃO MARCAÇÃO DE FALTAS…

Perante um cenário em que os alunos poderiam escolher uma de três hipóteses (agrada, desmotiva e é necessária), os alunos inclinaram-se, na esmagadora maioria, para respostas que consideram positiva a não marcação de faltas (agrada e é necessária).

Agrada e é necessário, porque:

– Não se pode vir a todas as aulas.

– É menos uma preocupação.

– As pessoas já são responsáveis.

– Também se trabalha

Desmotiva, porque:

– Favorece o absentismo.

 

TODOS OS PROFESSORES UTILIZAM OS MESMOS CRITÉRIOS NA:

▪ MARCAÇÃO DE TESTES

▪ ORIENTAÇÃO DAS AULAS DE APOIO

▪ TEMPO DE ENTREGA DOS TESTES

 

Uma maioria de respostas positivas revela um certo grau de coordenação por parte dos docentes, particularmente em relação a aspectos de natureza burocrática. Relativamente à orientação da aula de apoio, como era de esperar, as opiniões dos alunos dividem-se, o que nem sequer é um aspecto negativo. Interessante também verificar que a maior parte dos alunos não dá achegas para melhorar a acção dos professores.  / 38 /

ASPECTOS NEGATIVOS DESTA MODALIDADE DE ENSINO E PROPOSTAS DE MELHORAMENTO

As críticas a este sistema de ensino vêm, acima de tudo, do ensino secundário. A maior parte dos alunos do básico não faz críticas, como também não propõe melhoramentos.

Aspectos negativos:

– Maus guias de aprendizagem.

– Excesso de horário escolar.

– Muitas disciplinas na mesma hora de apoio

– Muitas unidades na mesma turma

– Mais aulas de apoio do que expositivas

 

Propostas de melhoramentos:

– Trocar os Guias de Aprendizagem por livros

– Existir sistema de marcação de faltas.

– Existir mais informação.

– Dar mais equivalências.

– Não juntar os apoios.

– Organizar os alunos por unidades

 

Inquérito aos docentes

GOSTA DO CURSO RELATIVAMENTE A SUA ORGANIZAÇÃO?

As respostas positivas são em número bastante superior à respostas negativas.

– Na teoria sim, na prática não funciona.

– Desaproveitado pelos alunos.

– Permite ao aluno trabalhar segundo as suas possibilidades.

– Os novos professores no sistema não foram devidamente elucidados.

– Processo muito burocrático e desmotivador.

– Só como metodologia.

– Para alunos efectivamente integrados a modalidade teria bastantes potencial idades

– O anterior sistema era muito mais produtivo

 

HÁ ASSIDUIDADE? COMO RESOLVER?

Apesar da maior parte dos docentes achar que não há assiduidade, nota-se um número razoável de professores que considera que sim, contrariando assim uma das "verdades" do sistema.

– Exigência da justificação de abandono.

– Limites de matrículas na mesma disciplina para alunos não comprometidos

– Construir turmas maiores. / 39 /

– Marcação de faltas e consequente reprovação pelo excesso das mesmas.

– Bonificação para os assíduos.

– A falta de assiduidade deve-se ao facto da Escola ser pouco atractiva. Para resolver o problema devem os professores ter formação acrescida.

– Exigência de compromisso escrito de assistência às aulas.

– Obrigatoriedade de, pelo menos, 70% de presenças.

– Calendário escolar mais rígido. Alunos atrasados e adiantados deveriam comparecer nas aulas de apoio.

– Aplicação do estatuto do estudante-trabalhador

– Estabelecimento de uma assiduidade mínima.

– Aulas de apoio em horários diferenciados.

– Possibilidade de os alunos terem mais aulas duma disciplina numa altura e, naturalmente, menos aulas a outras disciplinas. (Horários flexíveis)

 

A COORDENAÇÃO INTERDISCIPLINAR É IMPORTANTE?

É genericamente considerada útil, ainda que de difícil execução.

– Necessidade de órgãos idênticos aos Conselhos de Turma, com análise dos processos individuais e definição de estratégias para cada aluno

– Permitiria uma melhor organização.

– Importante para rubricas similares.

– Sem importância no sistema.

– Evitaria repetição de matérias.

– Só ela pode levar ao sucesso escolar.

 

A PLANIFICAÇÃO DAS ACTIVIDADES LECTIVAS É IMPORTANTE?

Considera-se genericamente que sim, ainda que a prática lectiva a possa dificultar.

– Como planificar actividades para 5 ou 6 unidades diferentes, se não se sabe quem comparecerá nas aulas?

– Falta material didáctico mais adequado e competências específicas para este sistema de ensino.

– Só possível com assiduidade e colaboração dos alunos.

– Deve ser fornecida a planificação de actividades aos alunos no inicio da "leccionação" de cada unidade.

– Difícil quando a todo o momento se podem receber alunos novos.

– Os programas já fazem a respectiva planificação.

 

SÃO OS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS ADEQUADOS PARA O CURSO?

Os professores dividem-se, claramente, nesta pergunta. Parece, no entanto, que as maiores queixas vêm do Secundário.

– Até são mais modernos e mais bem concebidos que os do Ensino Secundário Diurno Científico.

– Há repetição de conteúdos programáticos em disciplinas diferentes. / 40 /

– Nem todos, devido à forma como são apresentados pelos Guias.

– Não parece, a avaliar pelos do ME.

– Deixam muito a desejar, são rudimentares e "infantilizados” para a classe etária a que se destinam.

– Adequados. apesar da má distribuição das unidades.

– São piores que os do Ensino Diurno.

– Deveriam ser equivalentes ao do Ensino Diurno.

– Pouco actualizados no caso da Informática.

– Nem sempre, sobretudo se considerarmos a forma como são tratados nos Guias.

 

GUIAS DE APRENDIZAGEM

A maior parte dos professores, apesar de utilizar os Guias de Aprendizagem Oficiais, considera-os de má qualidade e utiliza, também, outro tipo de materiais.

– Insuficientes para a auto-aprendizagem.

– A produção de materiais de fraca qualidade por parte do Ministério da Educação, é um dos problemas mais graves do Ensino Recorrente.

– Há professores que consideram os Guias suficientes.

– Guias muito mal articulados.

– Guias com erros científicos e ortográficos.

– Sem qualidade de impressão.

– A nível do Básico são suficientes, o mesmo não acontecendo com o Secundário.

 

SUGESTÕES / PROBLEMAS

– Manter os mesmos professores ao longo do processo de aprendizagem.

– Criação de Centro de Recursos.

– Mau horário das aulas de apoio.

– Obrigar os frequentadores da Escola a identificarem-se.

– Publicação de uma brochura com informações úteis para os alunos.

– Obrigar os alunos a apresentar justificação de impedimento de frequência.

– Repensar o horário da Sala-Bar.

– Revisão dos textos (Guias de Aprendizagem).

– Limitação do número de unidades/professor.

– Resolver problemas de iluminação nas salas de aula.

– O sistema só beneficia alunos com maturidade, autonomia e capacidades.

– Fixação de um tempo limite para a realização do Curso.

– Redução de horário para que o professor possa produzir os seus próprios textos.

– Formação de equipas pedagógicas.

– Edição de Guias de Aprendizagem para o Secundário.

– Programas iguais no Diurno e no Nocturno. / 41 /

 

Inquérito aos coordenadores

SUGESTÕES DE MATRÍCULA

– Matrículas feitas pelos professores do SEUC e pelos coordenadores.

– Limitação do período de inscrição.

– Matrícula a dois tempos: 1.º tempo – Inscrição  2.º tempo – Preenchimento do itinerário

 

COLABORAÇÃO INSTITUCIONAL (Direcção, Professores e Funcionários)

– Não foi possível extrair conclusões – Todas as perguntas obtiveram 50% de respostas positivas e 50% de respostas negativas.

 

FORMAS DE ULTRAPASSAR ASPECTOS BUROCRÁTICOS (respostas condicionadas pelo item anterior)

– Manter o Conselho Directivo aberto na hora da coordenação.

– Reuniões de professores.

– Auxiliar administrativo disponível na hora da coordenação.

 

CONTACTOS COM OS ALUNOS

– Existem, mas são poucos.

– Servem para resolver problemas pessoais.

– Causas da fraca frequência: Desinteresse dos alunos; Os alunos estão nas aulas; Dificuldades de comunicação com o coordenador (não o conhecem)


SUGESTÕES PARA MELHORAR O ACOMPANHAMENTO DOS ALUNOS

– Reuniões com os alunos (mensal ou uma por período) convocadas pelo Conselho Directivo.

– Coordenadores serem professores dos alunos.

– Hora dos coordenadores deveria ser coincidente com disponibilidades dos alunos.

Estas são as achegas possíveis, do trabalho possível. Se formos capazes de entender os "recados" que todos nós fomos dando, tanto melhor. O Sistema agradece e pode ser que melhor.

(Alcino Carvalho, Cristina Campizes, Maria Luísa Catarino)
 

 

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