Escola Secundária José Estêvão, n.º 16, Jan.-Mar. de 1996

José Manuel dos Reis Caseiro


Sobre a semana dos ‘media’ na escola


Todos temos consciência que o ambiente mediático mudou. Neste momento suscita alguma reflexão a abundância e a concentração da informação. Se até aqui a preocupação maior era a rapidez, isto é, chegar primeiro, acrescente-se-lhe agora a quantidade e teremos depressa e muito. Paradoxalmente não significa pluralidade na distribuição. A concentração da distribuição é um facto e, sem grande esforço, encontraremos meia dúzia de nomes que à escala mundial dominam o comércio da informação. Nunca como hoje tão poucos concentraram em si o poder de manter informados ou não tantos concidadãos. Assim, escassez e abundância estão muito próximas no seu significado. Ambas são redutoras: uma por defeito, na míngua de opiniões, outra por excesso, no eclectismo do que apresenta. Neste contexto é de alguma forma legítimo pensar em pluralidade de informação, informação alternativa e, porque nos movemos no meio escolar, educação para a informação; ou, de um modo mais abrangente, educação para os media.

A educação para os media não deve apenas ensinar a ler e interpretar mensagens com espírito crítico. Deve ajudar na procura das fontes de informação possíveis, ideias e opiniões das mais diversas, abarcando todos os media disponíveis, desde os electrónicos aos mass media.

Mais do que analisá-los criticamente é também importante expô-los e discuti-los publicamente. A informação tornou-se empresa, com orientação comercial, voltada para os dividendos. E, tal como qualquer empresa, é a livre concorrência que dita as leis do mercado. A informação-empresa-mercadoria tornou-se assim um bem precioso, inflacionado ou deflacionado ao sabor do momento, rasando os limites da ética e da deontologia sempre que é necessário vender a qualquer preço. É este o momento actual, diz-se.

Paralelamente à fragmentação dos princípios éticos dos media, verifica-se a necessidade do retorno à consciência da defesa desses princípios. A dúvida está no desfecho da luta entre a lógica comercial e a ética jornalística. De momento inclina-se para a primeira: confunde-se liberdade com individualismo; boato com notícia; opinião com realidade; suposição com facto; investigação com devassa da privacidade; enfim, uma enorme confusão entre direitos e deveres, liberdade e responsabilidade.

Este e outros assuntos correlatos foram debatidos na “Semana dos Media”, promovida nesta escola pelo Curso Tecnológico de Comunicação (CTC).

 

A Semana dos Media deve ser uma das formas de expressão do CTC, tal como enunciado na primeira página do Jornal “Ágora”, órgão oficioso do referido curso. É uma actividade que não se / 4 / confina às escolas onde é ministrado este curso, mas também noutras onde se reconhece a importância dos media como elemento do quotidiano.

A iniciativa da realização desta Semana não é nova, data de há seis anos, com um formato diferente do actual. Nova, é, suponho, nesta Escola e neste curso.

Divulgar junto da comunidade escolar (CE) a importância dos media na actualidade como elemento difusor de opiniões; motivar a CE para a realização de eventos de carácter formativo proporcionando oportunidades de tarefas alternativas; facilitar à CE o contacto com novas formas de comunicação procurando acompanhar o vanguardismo nesta matéria; promover junto dos alunos a oportunidade de confrontar trabalho individual/colectivo, gestão de recursos e capacidades de organização, foram os objectivos desta Semana.

Das actividades em geral destaco a tentativa de equilibrar a participação externa/interna, isto é, actividades desenvolvidas por agentes externos e internos (alunos e professores). Resumindo, a SM foi um êxito se atendermos a que foram levadas a cabo todas as tarefas a que se propôs a organização. A verdadeira avaliação fica ao critério de todos os participantes, se nela encontraram elementos enriquecedores e suficientes para a sua formação. .

(José Manuel Reis Caseiro)
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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