Insignificância

 

                       I
O tempo vai passando de corrida
Bem fora da nossa vontade
E nós, acorrentados nele, vamos
Sabendo que, num dia qualquer
Perderemos este sopro da vida
Sendo também do nosso saber
Que logo após essa contingência
Nada mais do que somos restará.

                       II
Ainda assim, mesmo desiludidos
Somos animados pela dinâmica luz
Saída de algoritmo engendrado
Pela inquietude da consciência
Fazendo-nos viver a etérea ilusão
Fruto do etos da história humana
Que nos impele para cogitações
Acerca desta nossa impermanência
Até hibernar no éter do inconsciente
Como sublimação de uma outra vida.

                       III
Contudo, nada disso irá acontecer
E nem sequer a memória sobreviverá
Pois será consumida num sem remédio
Pelo fogo que abrasa com desamor
O princípio da nossa insignificância,
Este paradoxo de uma grandeza infinda
Por dentro do nosso mundo vazio

                          Maio de 2023

 

 

30-5-2023