|
Da última vez que nos
vimos
Falaste das muitas razões
Filhas de uma sem-razão
Para deixares a cidade, e partiste.
Lá foste, mas o teu coração ficou.
Por andanças fora da esfera
Mergulhaste em marés de medo
E os oceanos da angústia sentiste
No sal vertido nas definhadas veias.
Agora, na turbulência de um delírio
E no baloiçar ao vento nesta teia
Urdida com fios que o demo tece,
Estás à mercê da aranha traiçoeira,
Baralhado nas opiniões desconexas
Apostadas no inseminar de sortilégios.
Também sofro dessa estóica tolice,
Embora saiba quão evanescente ela é!
Mas tu sofres por manteres a fixação
Daquilo que alumia a tua onírica memória,
Mas essa gloriosa candeia esmoreceu
E na tua cidade já vive outra gente.
Do livro no prelo: ÚLTIMAS FOLHAS DO OUTONO
Março de 2025 |