Última chamada

 

A noite continua pintada de negro,
apenas se ouve a respiração das
pedras
ameaçando a dureza de todos os
destinos
entre atroadas de artilharia,
reminiscências de memórias
esdrúxulas
e o ingente ulular da morte.

E aqui, neste ponto de desencontro
fugindo uns dos outros
olhando de soslaio e pouca
curiosidade
os pássaros tagarelam na ramagem
tremeluzente
na viração da tarde esquecida
numa dormência asténica, primaveril
fitando o minguante apagado
suspenso na candeia acesa da esperança
desconfiada de si
escabujando nos braços de mãe.

O tempo chama, uivando,
ronda fogueiras de fogo
atiçado
cobrindo campos e serras.
Ninguém, nada se avista no caminho;
indolência ética, espírito delido.

Agora, sem rumo certo, direcção
e nem sequer orientação, avancemos;
é urgente mesmo sendo quixotesco
pois há monstros pelos caminhos
que são fantasmas, assombrações,
ameaças perigosas e letais.
É urgente. Última chamada.
Vamos.

                          Março de 2022

 

 

03-03-2022