Turbulência

 

Na precaridade da existência
Corro a cortina do meu silêncio
Nela me embuço e saio de mim
Entrando na multidão em anomia
Que, numa desbragada ansiedade
Solta palavras como trombetas
Cortando o espaço envolvente
Contaminando áreas contíguas
Para afogarem a ideia da ordem
E libertarem o ideal da desordem
Criando um desassossego infindo
Que me faz retornar ao passado
E em simultâneo saltar ao futuro
Sem o entendimento do presente,
Contudo, não consigo alhear-me
Dos sinais nos rostos das pessoas
Quais fogueiras de perplexidade
Ervas secas ardendo nos campos
Em fogueiras antes da sementeira
Soltando fumos de rumores, boatos
Rebentos de dúvida a florir e a espigar
Que, trespassando a densa cortina
Não fazem abalar o meu silêncio
Guardado em casulo de sal e névoa
O mesmo trivial silêncio de Conrado
A sobraçar a prudência do momento
Por estes céus cruzados em turbulência.

                          Janeiro de 2024

 

 

08-01-2024