Sombras do silêncio

 

Nesta preocupação peregrina.
de ir ao encontro dos segredos
que no âmago do eu se ocultam
fui entrando no meu silêncio
como quem no escuro tenteia
uma fuga sem deixar rasto
e, guiado pelo estro luminoso
que flui da natureza do instinto
cheguei ao vestíbulo do arcano
e aí mesmo fui travado de vez
visto que nele residem espólios,
heranças milenares de avoengos
património partilhado entre nós
pela razão de tantos avós comuns
atravessando todas as gerações
fora das instâncias do consciente
e acentuando assim a ignorância
acerca dos estranhos escaninhos
que escondem a realidade humana
enquanto entendida no seu todo.

Vivemos sem que nos apercebamos
que somos donos desse atavismo
o qual apenas aflui à consciência
em erupções oníricas como pulsão
à mercê de análises sérias a cargo
de versados em matérias da psique,
porque surgem em forma de sinais
de efeitos caprichosos, mágicos,
simbólicos, enigmáticos, dúbios
como uma nuvem magenta, densa
a pairar num pôr de sol outonal
embuçando os mistérios da morte
no absoluto do mundo do oculto
em zumbidos de outra dimensão.

                          Dezembro de 2022

 

 

31-12-2022