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O sol alumia o vazio da
tarde,
Jogo de cores tremeluzentes
Dando voz ao eco do eco:
Vagidos sobem dos estilhaços
Pedras soltas calcinadas em dor
A parirem fumo cinza em espiral
Cobrindo a onda dos uivos roucos
De cães de pedigree já sem dono
A vadiarem pelos rastos sinuosos
De sangue em fogo dos destroços
Enquanto alguém desafia os astros
Dando sucessivos passos em falso
A caminho de nenhures;
E do outro lado da cidade
O hino da cobardia em apuros,
A dança do medo com remorso
Numa moldura de fuligem negra
Nas ramagens, a dança suave
Do silêncio cúmplice com arsénio
Som de vento que não tem som
Bando de pardais amedrontados
A debicarem os restos do nada.
06.06.2024 |