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Fujo da sombra do que me
tira o sol
E me oferece a frieza do seu calor;
Do que, acobertado vai à despensa
Pé ante pé, sacar do pote do mel
O néctar para ir saciando a bulimia
Enquanto espezinha o formigueiro
Numa invernia de fome e astenia;
O biltre que lê livros de folhas soltas
Trazidas num vórtice de vento suão
De mistura com areias de pecúnia
Longe do zumbido dos zângãos;
O que, metamorfoseado em rato
Ataca a rataria só para despistar
E, no escuro, escadaria abaixo
Com degraus partidos ou volantes
Vão juntos ás fartas tulhas do celeiro
E ali se abraçam em sinistra omertà;
E eu, só e bem longe desta sarilhada
Debruçado sobre a rosa dos ventos
Desorientado do oriente que me foge
Para um teimoso pôr de sol anuviado,
Sou o ladrão de mim mesmo.
Março 2024
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