Nortada na Seara

 

Na quentura duma noite insólita
dum verão desconchavado e frouxo
lampejavam pirilampos como salpicos
caindo sobre corpos enegrecidos,
dormentes no sobressalto da dúvida
envolta no calor estival e na astenia.


Entrementes o sopro duma nortada
vai agitando a vastidão da seara
como murmúrio no escuro da noite
despertando os incautos do sonambulismo
numa fúria mansa e resignada.


Agora os pirilampos, traços de luz
a cruzarem angústias e desesperos
como o olvido duma herança devida
embatem nos peitos abertos e nus
na esperança de ver segada, sem mestre
esta resistente cultura de fraca qualidade
pasto de ratazanas famintas e de pardais.


Anseiam, impacientes mas crédulos
o rodar dos ventos ou a leve brisa
numa adivinhada manhã sem nuvens
a inundar de luz a nova sementeira
numa seara sem culpas nem mácula
donde brotará em glória, o trigo sem joio
em cânticos de amor e de verdade.

13 de Julho de 2021

 

 

13-07-2021