Letras errantes

 

A tribo inconsolável da minha urbe
Foi ás cegas tacteando o velho trilho
Por estes dias que se vão apagando
Envoltos na fria e densa penumbra
Numa dormência de esquecimento;
E, na pacatez de egoísta indiferença
Aventaram pedras de lume à sorte
Descuidando o efeito do ricochete
Em cada arremesso sem direcção
Sem tino, sem mérito ou decência,
E na ilusão de ouropéis e luminárias
Foram rubricando questões sibilinas
Deparando-se com respostas dúbias
Fazendo-os regressar ao ponto inicial
Para garatujarem novas letras errantes
Com as tintas da frustração, a mágoa
A desconfiança raivosa e a revolta,
Sentimentos perversos forjados
No fogo submerso da descrença
Do embuste faustoso e arrogante
Sublimados em canções discretas.

                          Maio de 2023

 

 

03-05-2023