A Farsa do Guerrilheiro

 

Mundo este adusto, triste e mau

tempo de manhãs mirradas e frias

condizente com o perfil do guerrilheiro

engalfinhado em sentimentos negativos

escondidos à sorrelfa na psíquica viseira

incapaz de vedar todo o semblante

visto que os mal calafetados bordos

deixam passar centelhas de frustração

faiscantes raios riscando o quarto escuro

onde guarda as sementes da luta

a hibernar na crescente incerteza

do verão quanto ao êxito das colheitas;

e agora, já na penumbra do isolamento

ocupando o centro do círculo sociopata

que rege sem dó os destinos de um povo

vemos a interação reverencial a potenciar

o determinante desígnio de destruição.

 

 

No orgulho do seu narcisismo psicopata

numa imitação esdrúxula de Adónis

vai sentar o seu amor próprio no trono

onde glórias cruzadas com derrotas

são carunchos a corroer a história,

um albergue de iniquidade sem perdão

agora exibida como valioso património

capaz de lhe dar o ensejo de escrutinar

todas as alfurjas da sua mitomania

delas retirando em escatologia profana

o mito das couraças dos guerreiros

capazes de espelhar os louros da vitória

embora saiba que tudo já não é sonho

mas sim um pesadelo ou assombração

uma mistura de inebriantes perfumes

com essências entorpecentes, mortais

que vão afugentando a pomba da paz

agora a voar a velocidade hipersónica

para destinos improváveis.
 

                          Maio de 2022

 

 

16-05-2022